[CamaraDas] A mulher de César

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  • Date: Wed, 26 Oct 2005 09:43:37 -0200

São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005       
         
        
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OMBUDSMAN 

A mulher de César 

MARCELO BERABA 

Os jornais erraram , na edição de quinta-feira, ao não dar mais visibilidade, 
na primeira página, ao depoimento em que Cláudio Mourão confirmou, na CPI dos 
Correios, o uso de caixa dois e de recursos de Marcos Valério no financiamento 
da campanha eleitoral do PSDB de Minas em 1998.
Mourão foi o tesoureiro da campanha de Eduardo Azeredo, o atual presidente do 
PSDB e senador por Minas Gerais. E suas declarações são relevantes por quatro 
razões.
Primeiro, porque foram feitas pela primeira vez numa CPI. Segundo, porque 
trouxeram novidades, como as informações sobre o pagamento dos serviços do 
publicitário Duda Mendonça com recursos do caixa dois da campanha. Terceiro, 
porque repetiram as mesmas táticas e argumentos (Mourão assumiu sozinho a 
responsabilidade pelo caixa dois) do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Por fim, porque há uma disputa política travada em torno dos resultados das 
investigações que não pode ser ignorada. O PT, os seus aliados e os partidos de 
oposição, principalmente o PSDB e o PFL, tratam da crise com a mesma 
perspectiva eleitoral. Embora os jornais não possam perder o foco nas 
irregularidades e nos crimes cometidos neste governo e nesta legislatura, é 
evidente que não podem ignorar e deixar de tratar com igual rigor as 
irregularidades e os crimes cometidos por outros governos, por outros partidos 
e em outros períodos.
Na minha opinião, a manchete da Folha é defensável do ponto de vista 
jornalístico porque o jornal conseguiu antecipar com exclusividade o teor da 
defesa que o ex-tesoureiro do PT, ameaçado de expulsão, apresentará à direção 
do partido.
O destaque dado para a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que rejeitou a 
liminar pedida pelo deputado José Dirceu (PT-SP) para suspender seu processo de 
cassação também é correto. Era a notícia do dia e normalmente seria a manchete 
do jornal, como foi no "Globo" e no "Estado".
Mas esses destaques não justificam que tenha sido mal dado o depoimento de 
Mourão.
A Folha não concorda com a avaliação do ombudsman e considera não ter havido 
erro nesse caso. Segundo Suzana Singer, secretária de Redação da área de 
edição, "o depoimento do ex-tesoureiro apenas reafirmou à CPI o que já havia 
dito antes". Ela lembrou que a Folha já noticiara o caso em quatro ocasiões: 
"Ação de ex-tesoureiro indica caixa dois em campanha tucana" (2/8), "Azeredo 
admite caixa dois, mas culpa tesoureiro" (3/8), "Valério diz que Azeredo sabia 
do empréstimo" (11/8) e "Ex-tesoureiro admite caixa dois tucano em 98" (27/8). 
"As novidades do dia eram, sem dúvida, a defesa de Delúbio Soares (notícia 
exclusiva da Folha) e a rejeição do STF ao pedido de José Dirceu.""
Vários leitores identificam no comportamento do jornal uma simpatia pelos 
tucanos.
Singer rebate: "Nesse dia o jornal publicou uma foto na capa do prefeito José 
Serra sendo atingido por respingos de um ovo, atirado por um morador do Jardim 
Pantanal".
O jornal teria errado se tivesse omitido a agressão ao prefeito.
Quanto ao argumento principal para explicar o tratamento dado à notícia do 
caixa dois do PSDB -informação já conhecida-, é bom lembrar que, em diversas 
ocasiões ao longo da crise política que vem desde maio, a Folha considerou 
válido destacar, inclusive em manchetes, fatos, acusações e declarações já 
publicados.
O jornal não pode entrar no jogo político dos partidos. Deve procurar expor com 
a mesma visibilidade e rigor crítico as mazelas de todos eles. Tem hora que não 
basta se pretender isento.
A Folha reconhece com relativa facilidade os erros de informação que comete. 
Mas tem uma grande dificuldade para admitir os erros de edição que colocam em 
xeque a sua imparcialidade.


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________________________________

Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem 
mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o 
exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas 
atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e 
verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios 
de comunicação.

Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c 
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contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.   
    

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