[CamaraDas] Artigo: Celso Rocha de Barros

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  • Date: Mon, 27 Aug 2018 18:13:46 -0300

ELEIÇÕES 2018

Em uma eleição cheia de dúvidas, temos a primeira certeza. Luiz Inácio Lula
da Silva venceria a eleição presidencial de 2018 se não estivesse preso.

Falta pouco mais de um mês para a eleição. Nas três pesquisas da semana
passada, Lula teve quase 40% das intenções de voto para o primeiro turno.
Lula vence por larga margem qualquer adversário nas simulações de segundo
turno, e talvez vencesse no primeiro.

O PT tem um tempo de TV razoável, e uma boa estrutura partidária nacional.
O segundo colocado tem o maior índice de rejeição de todos os candidatos. A
terceira e o quarto colocado são ex-ministros de Lula.

Qualquer outro candidato com esses números, nessa situação, já teria sido
declarado eleito por todos os analistas.

Os antilulistas profissionais passaram a semana tentando provar que nada
disso importa, ou que é mentira, ou que isso só prova que os eleitores de
Lula são fanáticos que não se importam com corrupção, ou que, sei lá, o
Brasil não tem jeito.

Não, filho.

Já dizia Upton Sinclair, é difícil explicar algo para o sujeito cujo
ganha-pão é não entender o que você está tentando explicar. Mas vamos lá.

Os eleitores de Lula, também conhecidos como “a maioria do eleitorado entre
2002 e 2014” estão compreensivelmente irritados.

Eles têm perfeita noção de que o primeiro governo Dilma foi um desastre, de
que o PT se envolveu em escândalos de corrupção seríssimos, e, por isso,
não foram às ruas protestar contra o impeachment.

Abandonaram Lula e o PT em grande número em 2015-2016, como todas as
pesquisas mostraram.
E, nesse momento, quando a direita brasileira finalmente conquistou a
atenção dos pobres brasileiros, o que ela lhes ofereceu?

Michel. Temer.

Longe de ser uma aberração nascida em uma cultura política personalista e
atrasada, longe de ser um sinal de tolerância popular à corrupção, a
liderança de Lula é o bônus que se ganha quando se lidera a oposição contra
um governo com 4% de aprovação.

Da próxima vez que forem instalar um governo que vai acabar com 4% de
aprovação, minha sugestão é que não o façam carregando bonecos gigantes do
cara de quem vocês não gostam. O pessoal acaba associando.

Enfim, o companheiro impeachment continua empenhadíssimo na campanha por
Lula.

Mas e a prisão? O sujeito não é moralmente obrigado a abandonar seu
candidato preferido se ele é condenado em segunda instância por corrupção e
lavagem de dinheiro?

Bom, aí depende. Só o candidato dele foi preso? Só o dele está impedido de
concorrer?

Porque, se for isso, você precisa admitir que é chato. Afinal, acaba de
acontecer uma grande investigação de corrupção que produziu provas contra
todos os grandes partidos.

O eleitor de Lula foi feito de otário durante o impeachment e é o único
cujo candidato não vai poder concorrer. Você também faria questão de votar
no seu candidato se fosse você na mesma situação.

E você acha que isso tudo é ruim? Nem começou a ficar ruim. Depois das
eleições o Supremo Tribunal Federal deve pautar a prisão após condenação em
segunda instância. A regra vai ter durado exatamente o tempo necessário
para Lula ser condenado e passar a eleição preso.

Responda sinceramente: na sua opinião, nesse exato momento da história de
nossa democracia, os pobres brasileiros têm o mesmo direito à voz que
tiveram nos primeiros trinta anos da Nova República?

Celso Rocha de Barros
Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford
(Inglaterra).


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*Niquele*

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