[CamaraDas] Artigo: Fla x Flu golpista

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  • Date: Tue, 7 Jul 2015 12:00:20 -0300

Aécio quer virar a mesa no tapetãoMarcos Augusto Gonçalves

Não é tarefa simples, mas o PSDB está fazendo tudo para superar o PT em
mediocridade política. Não se sabe dos tucanos emplumados qual tem sido
mais infeliz e calhorda em suas manifestações. Bem, na verdade sabe-se:
Aécio Neves. Definitivamente, o fracasso eleitoral subiu-lhe à cabeça.

Dolorido e inconformado com a derrota, comporta-se como o garoto mimado que
pega o carro importado e sai em disparada desrespeitando sinais, como prova
de sua superioridade.

Sim, a campanha de Dilma foi um estelionato e ela mesma –uma invenção de
Lula– não reúne as qualidades desejáveis para o exercício do cargo. Mas o
detalhe é que foi eleita. E o fato de que tenha perdido popularidade não
basta para legitimar um movimento por sua remoção do poder.

Fernando Henrique Cardoso também aplicou um estelionato eleitoral e chegou
a patamares baixíssimos de aprovação. De maneira análoga foi alvo de uma
campanha –no caso liderada pelo petismo– para ser retirado da Presidência.

O PT ao pedir o impeachment de FHC estava sendo de alguma forma golpista?
Sim, de alguma forma. O "Fora FHC" era uma palavra de ordem que atropelava
mediações e pregava a derrubada do governante. Nada de extraordinário,
quando se pensa na vocação autoritária –e também golpista– da esquerda. A
mudança do poder pela insurreição armada ainda é um velho mito
revolucionário que sobrevive no imaginário de dirigentes e militantes.

Mas sem dúvida em nossa América Latina a tradição golpista da direita é
mais bem-sucedida, uma vez que injunções históricas conhecidas levaram-na a
contar costumeiramente com o apoio das Forças Armadas. Mas temos também os
levantes mais pragmáticos –aqueles que visam sobretudo as vantagens
econômicas que a ocupação do Estado pode propiciar.

Seja como for, subsiste um substrato golpista na política brasileira,
embora sublimado pela implantação da democracia, que tem se revelado
duradoura e bem-sucedida, deixando para trás a crônica de quarteladas e
reviravoltas característica de Repúblicas de bananas. Não se vislumbra hoje
a possibilidade de uma intervenção militar que quebre a ordem democrática
–e um improvável governo com esse perfil não duraria cinco minutos diante
das reações internas e das pressões internacionais.

O PSDB, que tem dado mostras de desorientação, com períodos de euforia e
alguns brevíssimos interregnos de sensatez, chegou à sua convenção no fim
de semana animado com denúncias que poderiam proporcionar um caminho
juridicamente defensável para depor a presidente. Depois de votar de
maneira irresponsável contra seu próprio programa e os interesses do país,
de ter defendido o impeachment e voltado atrás, os tucanos resolveram se
preparar para "em breve" ser situação.

A cena que vem à mente é a dos bastidores do mundo esportivo. A política
nacional, nesse Fla x Flu, desce ao "modus operandi" da cartolagem. A isso,
chegamos: voltamos a ser o país do futebol, não pelo que jogamos mas pelo
padrão Fifa de nossos homens públicos e de suas articulações.

Nessa arena, o PSDB deixou claro que sua jogada é ganhar no tapetão. Ao
menos foi o que disseram seus luminares na convenção, alguns com mais
outros com menos brilho. O time tucano quer uma virada de mesa e, para
isso, vai usar contra a presidente alguns dispositivos do regulamento que
todos, inclusive seus filiados, descumprem regularmente à luz do dia.

Para reforçar suas posições, este que um dia pretendeu ser um partido
social-democrata, estabelece negociações com Eduardo Cunha, essa espécie de
Eurico Miranda nos dias de glória, sobre quem já se conhece o suficiente,
embora ainda não tudo.

Mesmo que a ideia possa ser mais pressionar do que realmente antecipar o
final do mandato de Dilma, o PSDB envereda por um caminho perigoso. Uma
investida persistente na tentativa de afastar a petista poderia ter
consequências graves, e ainda não bem avaliadas, para o país.
Não seria em hipótese nenhuma um processo pacífico. A mobilização da
militância e das entidades que defenderiam a presidente e das forças que
apoiariam a virada de mesa no tapetão poderia nos levar ao ápice de uma
escalada de radicalização e intolerância que precisaria na verdade ser
contida, moderada e não excitada.

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*Niquele*

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