[CamaraDas] Até tu, Chommy?

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  • To: CamaraDas <analistas2002@xxxxxxxxxxxxx>
  • Date: Mon, 17 Apr 2017 17:02:25 -0300

O maior ícone marxista detona o PT e a esquerda latina
23.nov.1996/Folhapress
[image: O linguista norte-americano Noam Chomsky durante conferência na
F.A.U.-U.S.P. [FSP-Ilustrada-23.11.96-Ed.Nacional]]
O linguista norte-americano Noam Chomsky em conferência na USP em 1996
17/04/2017

Os governos de esquerda que se disseminaram pela América Latina, Brasil
inclusive, fracassaram. No caso do Brasil (e também da Venezuela), o
fracasso não é apenas das políticas adotadas mas também do ponto de vista
ético.

Não, não é a análise de algum direitista empedernido mas de ninguém menos
que o maior ícone do marxismo, talvez o último marxista relevante ainda
existente no planeta, depois que o colapso da União Soviética sepultou
todos os demais sob os escombros do Muro de Berlim.

Chama-se Noam Chomsky, linguista, filósofo e ativista político, que
completará 90 anos em 2018.

Eis o que disse Chomsky em entrevista para "Democracy Now", programa diário
de "notícias independentes", como se pode ler no seu sítio na internet:

Depois de reconhecer que houve conquistas, ressalva que "os governos de
esquerda fracassaram em usar a oportunidade disponível para tentar criar
economias sustentáveis e viáveis. Quase todos –Venezuela, Brasil, outros,
Argentina– dependeram da alta de preços das commodities, que é um fenômeno
temporário. O preço das commodities de fato subiu, principalmente por causa
do crescimento da China. Por isso houve aumento no preço do petróleo, da
soja e assim por diante".

Prossegue: "Em vez de tentar desenvolver uma economia sustentável com
manufaturas, agricultura etc, eles simplesmente apoiaram-se nas commodities
–matéria prima que podiam exportar".

Neste ponto, Chomsky enfia o dedo na ferida com mais força:

"Isso [a dependência das commodities] é muito daninho, é um modelo daninho
de desenvolvimento, porque, quando você exporta grãos para a China,
digamos, eles exportam bens manufaturados para você, o que mina suas
indústrias manufatureiras".

A análise de Chomsky está longe de ser uma novidade. Uma penca de analistas
cansou de fazer a mesma avaliação sobre os governos de Lula e Dilma, para
ficar só no caso do Brasil.

O que há de novo é que alguém de esquerda enfim abre os olhos e diz o rei
está nu, coisa que nenhum intelectual de esquerda o fez até agora no Brasil.

Apenas frei Betto apontou, mais de uma vez, o fato de que os governos do PT
reproduziram políticas de governos anteriores e não introduziram reformas
estruturais (se me escapou algum outro analista de esquerda que tenha feito
análises parecidas, me avise, leitor).

Mas Chomsky não se limita à crítica no campo da economia. Ataca também a
corrupção, nos seguintes termos:

"Como se não bastasse [o modelo daninho de desenvolvimento], houve enorme
corrupção. É simplesmente doloroso ver que o Partido dos Trabalhadores no
Brasil –que implantou medidas significativas– simplesmente não pôde manter
as mãos fora da caixa registradora. Juntaram-se à elite extremamente
corrupta, que está roubando o tempo todo, tomou parte [no esquema] e
desacreditou-se".

Ao contrário da esquerda brasileira, que continua endeusando Lula como se
fosse o único político honesto na face da Terra, Chomsky preconiza a
escolha de novas lideranças.

Pede "forças mais honestas que, primeiro de tudo, reconheçam a necessidade
de desenvolver a economia de uma maneira que tenha um alicerce mais sólido,
não apenas baseado na exportação de matérias primas, e, em segundo lugar,
sejam honestas o suficiente para desenvolver programas decentes sem roubar
o público ao mesmo tempo".

Quando é que a intelectualidade que se acha de esquerda vai ter a decência
básica de dizer o que seu ícone maior está dizendo agora? Até um cardeal
petista já admitiu que seu partido "lambuzou-se" (pena que ele próprio
esteja na lista dos suspeitos de se ter lambuzado).

Não adianta nada elaborar manifestos com projetos para o país se não se
disser que, com a corrupção que corroeu o principal partido da esquerda,
não há desenvolvimento possível e, portanto, são necessárias "forças mais
honestas".
Ed Betz - 20.set.2006/Associated Press
[image: Hugo Chavez. President of Venezuela, holds up a book by Noam
Chomsky as he addresses the 61st session of the U.N. General Assembly at UN
headquarters, Wednesday, Sept. 20, 2006]
Então líder da Venezuela, Hugo Chávez exibe livro de Chomsky na
assembleia-geral da ONU em 2006

Por fim, a Venezuela
<http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/04/1874139-inflacao-pulveriza-dinheiro-na-venezuela.shtml>,
sobre a qual a esquerda toda silencia: Chomsky não hesita em descobrir o
óbvio, ou seja que está em "situação realmente desastrosa".

Além da economia continuar dependente do petróleo, "certamente mais do que
no passado", há "a corrupção, a roubalheira, que tem sido extrema, sob e
especialmente depois da morte de Chávez".

Termina dizendo que as promessas dos primeiros dias do chavismo "têm sido
significativamente perdidas".

Até quando a esquerda brasileira vai continuar sócia do imenso fracasso que
é o socialismo do século 21 e da promiscuidade com uma empreiteira
<http://arte.folha.uol.com.br/poder/operacao-lava-jato/> que confessou, de
público, um lote impressionante de maracutaias?

*

P.S.: O leitor Roberto Mifano chama minha atenção, com razão, para o fato
de que intelectuais de esquerda fizeram, sim, críticas à atuação do PT.
Quando escrevi que haviam silenciado, me referia não a todos os de esquerda
mas aos petistas propriamente ditos. Mifano lembra, entre outros, de Chico
de Oliveira, Paulo Arantes, Michel Lowi e Roberto Schwarz, aos quais peço
desculpas pela omissão.

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*:::*
*Niquele*

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