[CamaraDas] CARTA ABERTA

  • From: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • To: <analistas2002@xxxxxxxxxxxxx>
  • Date: Tue, 15 Aug 2006 16:05:29 -0300

--- Begin Message ---
  • From: "Catarina Batista da Silva Moreira" <catarina.moreira@xxxxxxxxxxxxxxxxxxx>
  • Date: Fri, 11 Aug 2006 15:52:26 -0300
 

  _____  


 

CARTA ABERTA AO BRADESCO


 

Senhores Diretores do Bradesco,

 
 

Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa 
mensal, pela existência da padaria na esquina de sua rua, ou pela existência do 
posto de gasolina ou da farmácia ou da feira, ou de qualquer outro desses 
serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia.

 
Funcionaria assim: todo mês os senhores, e todos os usuários, pagariam uma 
pequena taxa para a manutenção dos serviços (padaria, feira, mecânico, 
costureira, farmácia etc). Uma taxa que não garantiria nenhum direito 
extraordinário ao pagante. Existente apenas para enriquecer os proprietários 
sob a alegação de que serviria para manter um serviço de alta qualidade.

 
Por qualquer produto adquirido (um pãozinho, um remédio, uns litros de 
combustível etc) o usuário pagaria os preços de mercado ou, dependendo do 
produto, até um pouquinho acima.

Que tal?

Pois, ontem saí de seu Banco com a certeza que os senhores concordariam com 
tais taxas. Por uma questão de equidade e de honestidade.

Minha certeza deriva de um raciocínio simples. Vamos imaginar a seguinte cena: 
eu vou à padaria para comprar um pãozinho. O padeiro me atende muito 
gentilmente. Vende o pãozinho. Cobra o embrulhar do pão, assim como, todo e 
qualquer serviço. Além disso, me impõe taxas. Uma "taxa de acesso ao pãozinho", 
outra "taxa por guardar pão quentinho" e ainda uma "taxa de abertura da 
padaria". Tudo com muita cordialidade e muito profissionalismo, claro.


 Fazendo uma comparação que talvez os padeiros não concordem, foi o que ocorreu 
comigo em seu Banco.

 
 Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto de seu negócio. Os senhores me 
cobraram preços de mercado. Assim como o padeiro me cobra o preço de mercado 
pelo pãozinho.

 
 Entretanto, diferentemente do padeiro, os senhores não se satisfazem me 
cobrando apenas pelo produto que adquiri.

 
 Para ter acesso ao produto de seu negócio, os senhores me cobraram uma "taxa 
de abertura de crédito" - equivalente àquela hipotética "taxa de acesso ao 
pãozinho", que os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar.

 
 Não satisfeitos, para ter acesso ao pãozinho, digo, ao financiamento, fui 
obrigado a abrir uma conta corrente em seu Banco. Para que isso fosse possível, 
os senhores me cobraram uma "taxa de abertura de conta". 

 
 Como só é possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta, 
essa "taxa de abertura de conta" se assemelharia a uma "taxa de abertura da 
padaria", pois, só é possível fazer negócios com o padeiro depois de abrir a 
padaria.

 
 
Antigamente, os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos como 
"Papagaios".  Para liberar o "papagaio", alguns gerentes inescrupulosos 
cobravam um "por fora", que era devidamente embolsado. Fiquei com a impressão 
que o Banco resolveu se antecipar aos gerentes inescrupulosos. Agora ao invés 
de um "por fora" temos muitos "por dentro".


 -  Tirei um extrato de minha conta - um único extrato no mês - os senhores me 
cobraram uma taxa de R$ 5,00.

  
 - Olhando o extrato, descobri uma outra taxa de R$ 7,90 "para a manutenção da 
conta" - semelhante àquela "taxa pela existência da padaria na esquina da rua".

 
 -  A surpresa não acabou: descobri outra taxa de R$ 22,00 a cada trimestre - 
uma taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito. Se eu 
utilizar o limite especial vou pagar os juros (preços) mais altos do mundo. 
Semelhante àquela "taxa por guardar o pão quentinho".

 
 
- Mas, os senhores são insaciáveis. A gentil funcionária que me atendeu, me 
entregou um caderninho onde sou informado que me cobrarão taxas por toda e 
qualquer movimentação que eu fizer.


 Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os senhores 
esqueceram de me cobrar o ar que respirei enquanto estive nas instalações de 
seu Banco. 

 
 Por favor, me esclareçam uma dúvida: até agora não sei se comprei um 
financiamento ou se vendi a alma?

 Depois que eu pagar as taxas correspondentes, talvez os senhores me respondam 
informando, muito cordial e profissionalmente, que um serviço bancário é muito 
diferente de uma padaria. Que sua responsabilidade é muito grande, que existem 
inúmeras exigências governamentais, que os riscos do negócio são muito elevados 
etc e tal. E, ademais, tudo o que estão cobrando está devidamente coberto por 
lei, regulamentado e autorizado pelo Banco Central. 

 
 Sei disso.

            Como sei, também, que existem seguros e garantias legais que 
protegem seu negócio de todo e qualquer risco. Presumo que os riscos de uma 
padaria, que não conta com o poder de influência dos senhores, talvez sejam 
muito mais elevados. 

 
Sei que são legais.
 
          Mas, também sei que são imorais. Por mais que estejam garantidas em 
lei, tais taxas são uma imoralidade.

  

 

Brasilia, 30 de maio de 2006.                                                   
                                                                                
               

Delman Ferreira 

 

  _____  

Esta mensagem foi verificada pelo E-mail Protegido  <http://mail.terra.com.br/> 
Terra.
Scan engine: McAfee VirusScan / Atualizado em 03/08/2006 / Versão: 4.4.00/4821
Proteja o seu e-mail Terra: http://mail.terra.com.br/ 


--- End Message ---

Other related posts:

  • » [CamaraDas] CARTA ABERTA