[CamaraDas] Re: [CamaraDas] El sueño ha terminado

  • From: Leandro <leandro.cariello@xxxxxxxxx>
  • To: "niquele@xxxxxxxxx" <niquele@xxxxxxxxx>
  • Date: Tue, 17 Feb 2015 06:46:19 -0200

Leiam a coluna do Gabeira no Globo de domingo. Não consigo localizá-la mais e 
não saberia mesmo copiá-la e transmiti-la (sou pouco mais que um analfabeto 
digital...). 
Texto bem melhor e mais sério que esses publicados naquilo que chamo de 
'bloguinhos amestrados'. Niquele, help me!
Espero que os jihadistas tupiniquins não me fuzilem nem me degolem...
Leandro.
PS: o que o Chico estaria achando desse desabafo meio tardio, mas ainda a 
tempo, do seu ex-parceiro Pablo Milanés?



Em 17/02/2015, às 02:58, Niquele <niquele@xxxxxxxxx> escreveu:

> CLOVIS ROSSI
> Cuba e o desencanto do poeta
> 
> Pablo Milanés, 72 anos a completar domingo (22), é uma espécie de Chico 
> Buarque de Holanda cubano. Criou, com Silvio Rodríguez, a Nova Trova Cubana e 
> funcionou na maior parte do tempo como o grande trovador da revolução.
> Não o dissuadiu de cantá-la nem o fato de ter passado dois anos (1965/67) 
> pelos campos de concentração da ilha, vítima do que chama de "repressão 
> stalinista".
> 
> Agora, em entrevista publicada no sábado (14) por "El País", o poeta se 
> confessa vítima de uma fraude cometida por "uns dirigentes que pro­me­te­ram 
> um amanhã me­lhor, com fe­li­ci­dade, com li­berda­des e com uma 
> pros­pe­ri­dade que nun­ca che­gou em 50 anos", que é, pouco mais ou menos, o 
> tempo de vida da Revolução Cubana.
> 
> Milanés é definitivo: "Cuba forma parte do fracasso do socialismo real". Ou, 
> posto de outra forma: é um escapismo achar que o socialismo caribenho é 
> diferente do falecido comunismo da União Soviética e seus satélites. Faliram 
> ambos.
> 
> Já faz algum tempo que o trovador, autor de belíssimas canções, vinha 
> ensaiando a crítica que agora faz ao regime que defendeu.
> 
> O que surpreende é o fato de que intelectuais e artistas brasileiros, muitos 
> dos quais sonharam sonhos embalados pelas letras de Milanés, não tenham ainda 
> percebido o óbvio por ele exposto tão tranquila e cristalinamente.
> 
> Ou perceberam e preferem silenciar, o que é até compreensível. Raras são as 
> pessoas com a coragem de admitir que passaram meio século equivocadas.
> 
> Ou, o que seria ainda pior, calam para não perder a boquinha dos convites 
> para viajar a Cuba e louvar depois, nos seus círculos estreitos, o que era 
> revolução e virou apenas mais uma ditadura latino-americana.
> 
> Não sei o que esse pessoal teme. Milanés critica o regime cubano sem deixar 
> de "sentir-se revolucionário".
> 
> Explica seu fascínio pela revolução com uma descrição que muitíssima gente de 
> sua geração também faria:
> 
> "A ori­gem [do fascínio] es­tá no que sig­ni­fi­cou Cu­ba em 1959 pa­ra o 
> mun­do. Eu tinha então 15 anos e, quando me aprofundei na realidade social da 
> América La­ti­na, me con­ver­ti em um revo­lu­cio­nário. (...) Os idea­is que 
> pro­fes­sáva­mos eram os mais pu­ros que se po­diam ter naque­la épo­ca".
> 
> Cuba significou à época a liberdade após uma tirania obscena e a 
> possibilidade de cicatrizar as "veias abertas da América Latina", para usar o 
> clássico de Eduardo Galeano.
> 
> Se Cuba foi uma fraude, Milanés põe outro idealista no altar: "Para mim, o 
> maior exemplo de revolucionário na América é José Mujica [presidente do 
> Uruguai], preso durante 14 anos e, depois, um homem sem rancor, capaz de 
> criar um Estado livre, soberano, não dependente e próspero".
> 
> Mujica tem realmente uma certa aura, mas o seu Uruguai está longe de 
> representar a utopia que Cuba parecia nos anos 60.
> 
> Talvez por isso, uma ampla fatia da esquerda prefira não ver ou calar sobre a 
> transformação da ilha caribenha em distopia.
> 
> Milanés, o poeta, ao contrário, sente que já não pode dedicar versos a uma 
> Cuba que matou a poesia.
> 
> 
> 
> -- 
> :::
> Niquele
> 

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