Leiam a coluna do Gabeira no Globo de domingo. Não consigo localizá-la mais e não saberia mesmo copiá-la e transmiti-la (sou pouco mais que um analfabeto digital...). Texto bem melhor e mais sério que esses publicados naquilo que chamo de 'bloguinhos amestrados'. Niquele, help me! Espero que os jihadistas tupiniquins não me fuzilem nem me degolem... Leandro. PS: o que o Chico estaria achando desse desabafo meio tardio, mas ainda a tempo, do seu ex-parceiro Pablo Milanés? Em 17/02/2015, às 02:58, Niquele <niquele@xxxxxxxxx> escreveu: > CLOVIS ROSSI > Cuba e o desencanto do poeta > > Pablo Milanés, 72 anos a completar domingo (22), é uma espécie de Chico > Buarque de Holanda cubano. Criou, com Silvio Rodríguez, a Nova Trova Cubana e > funcionou na maior parte do tempo como o grande trovador da revolução. > Não o dissuadiu de cantá-la nem o fato de ter passado dois anos (1965/67) > pelos campos de concentração da ilha, vítima do que chama de "repressão > stalinista". > > Agora, em entrevista publicada no sábado (14) por "El País", o poeta se > confessa vítima de uma fraude cometida por "uns dirigentes que prometeram > um amanhã melhor, com felicidade, com liberdades e com uma > prosperidade que nunca chegou em 50 anos", que é, pouco mais ou menos, o > tempo de vida da Revolução Cubana. > > Milanés é definitivo: "Cuba forma parte do fracasso do socialismo real". Ou, > posto de outra forma: é um escapismo achar que o socialismo caribenho é > diferente do falecido comunismo da União Soviética e seus satélites. Faliram > ambos. > > Já faz algum tempo que o trovador, autor de belíssimas canções, vinha > ensaiando a crítica que agora faz ao regime que defendeu. > > O que surpreende é o fato de que intelectuais e artistas brasileiros, muitos > dos quais sonharam sonhos embalados pelas letras de Milanés, não tenham ainda > percebido o óbvio por ele exposto tão tranquila e cristalinamente. > > Ou perceberam e preferem silenciar, o que é até compreensível. Raras são as > pessoas com a coragem de admitir que passaram meio século equivocadas. > > Ou, o que seria ainda pior, calam para não perder a boquinha dos convites > para viajar a Cuba e louvar depois, nos seus círculos estreitos, o que era > revolução e virou apenas mais uma ditadura latino-americana. > > Não sei o que esse pessoal teme. Milanés critica o regime cubano sem deixar > de "sentir-se revolucionário". > > Explica seu fascínio pela revolução com uma descrição que muitíssima gente de > sua geração também faria: > > "A origem [do fascínio] está no que significou Cuba em 1959 para o > mundo. Eu tinha então 15 anos e, quando me aprofundei na realidade social da > América Latina, me converti em um revolucionário. (...) Os ideais que > professávamos eram os mais puros que se podiam ter naquela época". > > Cuba significou à época a liberdade após uma tirania obscena e a > possibilidade de cicatrizar as "veias abertas da América Latina", para usar o > clássico de Eduardo Galeano. > > Se Cuba foi uma fraude, Milanés põe outro idealista no altar: "Para mim, o > maior exemplo de revolucionário na América é José Mujica [presidente do > Uruguai], preso durante 14 anos e, depois, um homem sem rancor, capaz de > criar um Estado livre, soberano, não dependente e próspero". > > Mujica tem realmente uma certa aura, mas o seu Uruguai está longe de > representar a utopia que Cuba parecia nos anos 60. > > Talvez por isso, uma ampla fatia da esquerda prefira não ver ou calar sobre a > transformação da ilha caribenha em distopia. > > Milanés, o poeta, ao contrário, sente que já não pode dedicar versos a uma > Cuba que matou a poesia. > > > > -- > ::: > Niquele >