Re: [CamaraDas] analistas2002 Digest V2 #44

  • From: Cintia Abreu <cintiabreu@xxxxxxxxxxxx>
  • To: "analistas2002@xxxxxxxxxxxxx" <analistas2002@xxxxxxxxxxxxx>, analistas2002 digest users <ecartis@xxxxxxxxxxxxx>
  • Date: Tue, 15 Jul 2014 11:33:36 -0700

Caros colegas,

Descobri agora que tenho 4 diárias da Bancorbras que irão vencer no dia 31 de 
julho. Infelizmente não poderei usá-las até lá por isso resolvi vender. Alguém 
teria interesse? São diárias duplas, mas é possível colocar uma cama extra no 
quarto. Caso alguém tenha interesse, entre em contato cintiabreu@xxxxxxxxxxxx. 
Cada diária sai prá mim por 231, mas se alguém tiver interesse nas 4, eu faço 
até um preço melhor do que paguei (pela proximidade da data). 

Abraços

Cintia


Em Domingo, 13 de Julho de 2014 2:09, "analistas2002@xxxxxxxxxxxxx" 
<analistas2002@xxxxxxxxxxxxx> escreveu:
 


:::: Coletânea de mensagens do grupo Analistas 2002/3/4/5.
:::: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
:::: Arquivo: //www.freelists.org/archives/analistas2002
:::: Login: analistas2002 Senha: camaradas
:::: Algumas mensagens neste resumo podem estar truncadas

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analistas2002 Digest    Saturday, July 12 2014    Volume: 02  Issue: 044

In This Issue:
        Artigo: Eliane Brum

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From: Niquele <niquele@xxxxxxxxx>
Date: Sat, 12 Jul 2014 16:39:52 -0300
Subject: Artigo: Eliane Brum

*O Brasil do eu acredito*
*Na grande tragédia da seleção brasileira nesta Copa do Mundo não há
inocentes, nem mesmo a torcida *

"Eu acredito, eu acredito." Uma pequena parte da torcida brasileira ainda
repetia o bordão depois de a seleção brasileira já ter levado uma goleada
dos alemães no Mineirão. Era uma pequena grande cena. A realidade se
impunha como o inacreditável, as bolas iam estourando na rede brasileira
como ficção, quem não tinha deixado o estádio olhava para o campo tomado
pela anestesia que assinala a tragédia. A inversão da expectativa é tão
avassaladora que passa a ser interpretada como irrealidade, num estado
delirante, em que qualquer gesto parece destinado ao nada. A goleada era da
Alemanha no Brasil, mas era ainda mais profundo do que isso: era realidade
7x1 pensamento mágico. Um? Não. Zero.

Essa foi a seleção do pensamento mágico. E, nesse aspecto, não podia ser
mais brasileira nesta Copa de 2014. Não o pensamento mágico como fonte de
explosão criativa, mas como um produto de consumo. Vende-se que o
espetáculo é a verdade profunda sobre o Brasil e o seu futebol. Confunde-se
marketing publicitário com realidade. Os jogadores da seleção comportam-se
como astros. Não mais astros de rock, mas astros de um show religioso.
Confinados, assistem a palestras de "motivação", são treinados no
pensamento de autoajuda mais do que no campo, com a bola no pé.

Age-se como se houvesse uma predestinação. Se você acreditar muito, você
consegue. Se você rezar muito, acontece. A arrogância enorme de achar que
"deus" é torcedor do seu time porque você é o mais merecedor expressa nas
cenas de joelhos dentro do campo, os dedos apontando para o céu, a oração
em transe nos momentos-limite.

Só que acreditar não foi o suficiente para fazer acontecer. A realidade deu
de goleada. Diante da força avassaladora da verdade em alemão, os
torcedores brasileiros reagiram como se tivessem sido traídos.
Apresentadores de TV que desempenharam o papel de, em vez de fazer uma
narração crítica, serem o mestre cerimônias de um espetáculo no qual a
realidade era matéria ordinária, passaram a sangrar os "vilões" com o mesmo
empenho com que antes os tinham transformado em "heróis". É fácil perceber
por que o espetáculo, com tanto dinheiro envolvido, precisa continuar o
mais rapidamente possível. No mundo de negócios a lealdade não importa, os
puxa-sacos que antes só faltavam lustrar a careca de Felipão com a língua,
agora mostram caninos afiados, ávidos por sangue.

Não há inocentes nessa trágica história de futebol. Nem mesmo os
torcedores. O que se convencionou chamar de povo brasileiro embarcou
alegremente na lógica do espetáculo. Era visível nos estádios, onde
proporcionalmente havia muito mais negros em campo do que nas
arquibancadas, que a preocupação com a câmera para muitos era maior do que
com o jogo que se jogava no chão. Nas entrevistas com torcedores
fantasiados de verde-amarelo, a maioria deixava claro que se produzia para
virar imagem na TV. Na entrada da Granja Comary, eram mais numerosos os que
tentavam vender alguma coisa, aproveitando a presença das câmeras --em
geral a si mesmos. A torcida era mais um produto. E um produto sem
constrangimento de apresentar-se como produto.

Todos cumpriram o seu papel, então como não deu certo? Como parecem
descobrir agora o que alguns têm dito, a um alto custo pessoal e
profissional, que o futebol brasileiro não é mais o futebol brasileiro? Ou,
o mais difícil de ouvir, que este é o futebol brasileiro hoje. Algumas
cenas da "reação" dizem muito:

*1) A entrevista coletiva de Felipão, acompanhado da comissão técnica,
nesta quarta-feira (9), na Granja Comary.*
A cena era bastante patética. Felipão levou várias planilhas para mostrar
que fez tudo certo. "O trabalho não foi de todo ruim, tivemos uma derrota
ruim." Ele continuava achando --ou fingindo achar-- que a "realidade" das
planilhas era mais "real" do que o que todos viram no Mineirão. Carlos
Alberto Parreira chegou a fazer uma afirmação surreal: "Todos foram
perfeitos, nenhum deslize. O resultado é que impactou".

*2) O pedido de desculpas de David Luiz depois do jogo.*
"Eu só queria dar alegria ao meu povo, a minha gente que sofre tanto
inúmeras coisas (...). Eu só queria ver o meu povo sorrir. Todos sabem o
quanto era mais importante pra mim ver o Brasil inteiro feliz pelo menos
por causa do futebol.(...) Um dia vou alegrar esse povo de alguma forma." É
um discurso emocionado, em lágrimas, mas também é um discurso de político
populista. Expressa sincera emoção, mas também enorme onipotência.

*3) Neymar, o menino de chuteiras douradas da seleção e do mercado
publicitário.*
Quando a realidade interfere, na forma do joelho do colombiano Zúñiga, foi
preciso rapidamente improvisar para continuar mantendo a propriedade da
narrativa. Neymar disse outra frase, que também pertence a essa geração:
"Tenho certeza que os meus companheiros vão fazer de tudo para que eu possa
realizar o meu sonho, que é ser campeão". O sonho dele. De imediato
criaram-se campanhas de apoio, máscaras com o rosto do jogador, usando e
potencializando a comoção nacional. Era preciso manter o jogo, não o da
bola, mas o do mercado, em campo: "Somos todos Neymar". Na vida real, como
mostrou Juca Kfouri, depois dos sete gols Neymar foi jogar pôquer com os
amigos.

*4) A imagem de um menino inconsolável, aos gritos: "Quero vencer!".*
Mantém-se a narrativa do "trauma", que atravessou a campanha brasileira
nessa Copa. Primeiro, eram os jogadores em permanente estado de "trauma",
fosse por quase perder do Chile, fosse por perder Neymar, agora por perder
de goleada. É a marca dessa geração, treinada para acreditar que o
pensamento mágico de poder tudo é a realidade. Tudo o que é da vida não é
da vida, mas "trauma". A vida "traumatiza". Acaba o jogo da Alemanha e são
as crianças brasileiras as "traumatizadas". Como se uma derrota, mesmo
acachapante, não fizesse parte de qualquer existência humana. Completa-se a
transmutação: uma seleção de traumatizados, uma torcida de traumatizados.
E, mais uma vez, explora-se o choro a exaustão, agora das crianças. Não é
trauma na seleção, não é trauma na torcida. Trauma é de outra ordem.

O espetáculo continua, parece que pouco se aprendeu com a goleada da
realidade. Neymar desembarcou nesta quinta-feira (10), na Granja Comary,
"para dar apoio" aos companheiros, aos "caras". O único que não estará em
campo em Brasília, na partida pelo terceiro lugar, foi o escolhido pela CBF
para dar coletiva à imprensa. Torna-se explícito qual é o jogo que
realmente importa. O drama real é insuficiente, o espetáculo precisa
seguir. É vetado se retirar do palco. O herói alquebrado será explorado até
o fim. Todos usando todos.

O que aconteceu não foi um "apagão" de seis minutos no jogo contra a
Alemanha. Seria fácil se fossem só seis minutos. Na vida real, o "apagão"
dura anos, abarca o país inteiro e continuará como espetáculo depois da
Copa, se o bordão "eu acredito" não mudar para "eu duvido".

*:::*
*Niquele*


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End of analistas2002 Digest V2 #44
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         A man can be happy with any woman as long as he does not love her.
                        
                                             Oscar Wilde

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