[CamaraDas] Chico Buarque e as eleições

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  • Date: Thu, 28 Sep 2006 13:51:48 -0300



   Chico Buarque: lucidez e coerência

A cada uma de suas entrevistas, o compositor e cantor Chico Buarque de
Holanda sempre surpreende por sua lucidez e enorme coerência.
Agora, no lançamento do seu novo CD, Carioca, ele novamente brilhou ao falar
sobre a situação política brasileira. A direita deve ter ficado furiosa,
com saudades dos tempos da ditadura militar que o perseguiu e censurou;  a
esquerda "rancorosa" deve ter ficado ressentida com seus irônicos
comentários; já os setores da sociedade que, mesmo críticos das limitações
do governo Lula, não perderam a perspectiva, ganharam novo impulso  criativo
para a sua atuação. Mas é melhor deixar o poeta falar, pinçando  trechos das
suas entrevistas na revista Carta Capital e no jornal Folha de  S. Paulo :

*Sobre a crise política:*

É claro que esse escândalo abalou o governo, abalou quem votou no  Lula,
abalou sobretudo o PT. Para o partido, esse escândalo é desastroso.  O outro
lado da moeda é que disso tudo pode surgir um partido mais correto, menos
arrogante. No fundo, sempre existiu no PT a idéia de que você ou é  petista
ou é um calhorda. Um pouco como o PSDB acha que você ou é tucano ou  é burro
(risos).

Agora, a crítica que se faz ao PT erra a mão. Não só ao PT, mas
principalmente ao Lula. Quando a oposição vem dizer que se trata do  governo
mais corrupto da história do Brasil é preciso dizer 'espera aí'.  Quando
aquele senador tucano  canastrão diz que vai bater no Lula, dar  porrada,
quando chamam o Lula de vagabundo, de ignorante - aí estão errando  muito a
mão. Governo mais corrupto da história? Onde está o corruptômetro?
É preciso investigar as coisas, sim. Tem que punir, sim. Mas vamos  entender
melhor as coisas. A gente sabe que a corrupção no Brasil está em  toda
parte. E vem agora esse pessoal do PFL, justamente ele, fazer cara  de
ofendido, de indignado. Não vão me comover...

*Preconceito de classe.*

O preconceito de classe contra o Lula continua existindo - e em  graus até
mais elevados. A maneira como ele é insultado eu nunca vi igual. Acaba
inclusive sendo contraproducente para quem agride, porque o sujeito mais
humilde ouve e pensa: 'Que história é essa de burro!? De ignorante!? De
imbecil!?'. Não me lembro de ninguém falar coisas assim antes, nem com o
Collor. Vagabundo! Ladrão! Assassino! - até assassino eu já ouvi. Fizeram o
diabo para impedir que o Lula fosse  presidente. Inventaram plebiscito,
mudaram a duração do mandato, criaram a reeleição. Finalmente, como se fosse
uma concessão, deixaram Lula assumir. 'Agora sai já daí, vagabundo!'.
É como se estivessem despachando um empregado a quem se permitiu o  luxo de
ocupar a Casa Grande. 'Agora volta pra senzala!'. Eu não gostaria que fosse
assim.

*Eu voto no Lula!*

A economia não vai mudar se o presidente for um tucano. A coisa está tão
atada que honestamente não vejo muita diferença entre um próximo governo
Lula e um governo da oposição. Mas o país deu um passo importante elegendo
Lula. Considero deseducativo o discurso em voga: 'Tão cedo esses caras não
voltam, eles não sabem fazer, não são preparados, não são poliglotas'. Acho
tudo isso muito grave.

Hoje eu voto no Lula. Vou votar no Alckmin? Não vou. Acredito que, apesar de
a economia estar atada como está, ainda há uma margem para investir no
social que o Lula tem mais condições de atender. Vai ficar devendo, claro.
Já está devendo. Precisa ser cobrado. Ele dizia isso: 'Quero ser cobrado,
vocês precisam me cobrar, não quero ficar lá cercado de puxa-sacos'. Ouvi
isso dele na última vez que o vi, antes dele tomar posse, num encontro aqui
no Rio.

*Sobre o PSOL. *

Percebo nesses grupos um rancor que é próprio dos ex: ex-petista,
ex-comunista, ex-tudo. Não gosto disso, dessa gente que está muito próxima
do fanatismo, que parece pertencer a uma tribo e que quando rompe sai
cuspindo fogo. Eleitoralmente, se eles crescerem, vão crescer para cima do
PT e eventualmente ajudar o adversário do Lula.

*Papel da mídia. *

Não acho que a mídia tenha inventado a crise. Mas a mídia ecoa muito mais o
mensalão do que fazia com aquelas histórias do Fernando Henrique, a compra
de votos, as privatizações. O Fernando Henrique sempre teve uma defesa
sólida na mídia, colunistas chapa-branca dispostos a defendê-lo a todo
custo. O Lula não tem. Pelo contrário, é concurso de porrada para  ver quem
bate mais.

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