[CamaraDas] ENC: O silêncio dos inocentes

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  • Date: Fri, 19 May 2006 16:08:30 -0300

 
Panfleto interessante.
 
  

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silêncio dos inocentes

Se as declarações de Cláudio Lembo sobre o caráter perverso da elite brasileira 
foram bombásticas, as reações de seus aliados no PFL e no PSDB expuseram um 
silêncio patético e constrangido, parecendo confirmar o diagnóstico do 
governador. O tom geral foi: "vamos fazer de conta que não ouvimos o que 
ouvimos".

Marco Aurélio Weissheimer

O governador Cláudio Lembo (PFL), em entrevista a Mônica Bergamo, na "Folha de 
São Paulo", fez algumas das declarações mais duras e agudas contra a elite 
brasileira que se tem notícia nos últimos tempos. Não mediu palavras. O Brasil 
é governado por uma elite branca muito perversa. A burguesia brasileira terá de 
abrir a bolsa para sustentar a miséria social do país. Nossa burguesia devia é 
ficar quietinha pensar muito no que ela fez para este país. Essas foram algumas 
das declarações do governador paulista. Um homem do PFL, partido que, segundo a 
piada de Bergamo, cuja autoria Lembo reivindicou, está no poder desde que 
Cabral chegou ao Brasil. Na entrevista, o governador também destila ironia na 
direção do triunvirato tucano (Alckmin, Serra e Fernando Henrique Cardoso), que 
não teria manifestado grande solidariedade com a situação enfrentada por ele 
desde o final da semana passada. Mas o que foi que Lembo disse mesmo?

Muita gente não acreditou ao pegar a "Folha de São Paulo" nas mãos e ler a 
seguinte radiografia da elite brasileira: "O Brasil só acredita na camisa da 
seleção, que é símbolo de vitória. É um país que só conheceu derrotas. Derrotas 
sociais...Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa 
(...).Não há nada mais dramático do que as entrevistas da Folha (com 
socialites, artistas, empresários e celebridades) desta quarta-feira. Na sua 
linda casa, dizem que vão sair às ruas fazendo protesto. Vai fazer protesto 
nada! Vai é para o melhor restaurante cinco estrelas junto com outras figuras 
da política brasileira fazer o bom jantar (...).Nossa burguesia devia é ficar 
quietinha e pensar muito no que ela fez para este país (...).A bolsa da 
burguesia vai ter que ser aberta para poder sustentar a miséria social 
brasileira no sentido de haver mais empregos, mais educação, mais 
solidariedade, mais diálogo e reciprocidade de situações".

O LUGAR DE QUEM FALA

Essas declarações têm um significado adicional, além daquele expresso 
propriamente pelo seu conteúdo. E esse significado adicional diz respeito ao 
lugar de quem fala. Quem fala é um quadro dirigente do PFL que até bem pouco 
tempo era vice daquele que hoje é o candidato do PSDB à presidência da 
República, o sr. Geraldo Alckmin. Quem fala é alguém que conhece a elite de 
perto. Na entrevista, aponta alguns de seus hábitos, idéias e comportamentos. 
Não é a fala de um esquerdista panfletário discursando contra as elites 
brasileiras pela milésima vez. Se fosse, provavelmente não ganharia uma linha 
na imprensa. Não traria nada de novo. Quem fala é o governador do estado mais 
rico do país. É o principal mandato que o PFL ocupa hoje no Estado brasileiro. 
É a fala de alguém que manifesta desprezo por seus pares, um desprezo profundo, 
"quase classista", com a licença do paradoxo. O modo como se refere às 
"dondocas de SP" é sintomático.

"O que eu vi (nas entrevistas para a Folha) foram dondocas de São Paulo dizendo 
coisinhas lindas. Não podiam dizer tanta tolice. Todos são bonzinhos 
publicamente. E depois exploram a sociedade, seus serviçais, exploram todos os 
serviços públicos. Querem estar sempre nos palácios dos governos porque querem 
ter benesses do governo. Isso não vai ter aqui nesses oito meses (prazo que 
resta para Lembo deixar o governo)". Lembo foi mais longe, espacial e 
temporalmente, fazendo uma irônica homenagem à obra de Gilberto Freire: "A casa 
grande tinha tudo e a senzala não tinha nada. Então é um drama. É um país que 
quando os escravos foram libertados, quem recebeu indenização foi o senhor, e 
não os libertos, como aconteceu nos EUA. Então é um país cínico. É disso que 
nós temos que ter consciência. O cinismo nacional mata o Brasil. Este país tem 
que deixar de ser cínico. Vou falar a verdade, doa a quem doer, destrua a quem 
destruir, porque eu acho que só a verdade vai construir este país". Mais claro, 
impossível.

"DECLARAÇÕES FORAM COMEDIDAS"

Se as declarações de Lembo contra a elite branca brasileira foram bombásticas, 
as reações de seus aliados no PFL e no PSDB expuseram um silêncio patético e 
constrangido, parecendo confirmar o diagnóstico do governador. O tom geral 
dessas reações foi: "vamos fazer de conta que não ouvimos o que ouvimos". O 
líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que as declarações do 
governador foram "comedidas diante do que ele passou". Comedidas? Imaginemos, 
por um segundo, o que Lembo diria se não fosse comedido. "Governador de São 
Paulo defende o fim da propriedade privada e a expropriação da burguesia 
brasileira". "Lembo convoca Chávez para enfrentar elite brasileira". Ou ainda: 
"Lembo declara guerra à elite de São Paulo". Algo assim. Para Virgílio, a 
entrevista "foi a expressão de um governante naturalmente e compreensivelmente 
comovido com o drama que seus governados viveram".

O líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), ainda irritado com a escolha de 
José Jorge (PFL-PE) para ser o vice de Alckmin, preferiu o silêncio e não 
comentou as declarações de Lembo. O senador Romeu Tuma (PFL-SP) admitiu que o 
PSDB falhou no apoio a Lembo, que a entrevista atingiu Alckmin, e filosofou: 
"Medo não dá só em branco, dá em qualquer um. Foi um desabafo". Um desabafo 
comedido e comovido, como diria o senador Arthur Virgílio. Aliás, o líder 
tucano também fez seu desabafo: "Não sei por que o Serra não ligou. Não faria 
mal ter ligado. Se o Fernando Henrique disse (ser contra supostas negociações 
com o PCC), era melhor não ter dito". Os sites de PFL e PSDB simplesmente 
ignoraram a entrevista. Nenhuma palavra. Há uma certa coerência aí, medíocre, 
mas coerência. Se houve silêncio na hora de prestar solidariedade a Lembo, ele 
continuou quando o governador "desabafou".

SILÊNCIOS RUIDOSOS

Lembo manifestou seu desconforto com tanto silêncio, um silêncio que só foi 
quebrado com uma bola nas costas do governador, lançada pelo ex-presidente 
Fernando Henrique Cardoso (que criticou a possibilidade de um acordo com o 
PCC). "Eu acho que o presidente Fernando Henrique poderia ter ficado 
silencioso. Ele deveria me conhecer e conhecer o governo de SP. Eu não posso 
admitir nem a hipótese de se pensar isso. Para opinar sobre um tema tão amargo, 
tão grave, ele teria que refletir, pensar. E se informar. Quanto ao presidente 
(FHC), pode ser que eventualmente ele tenha precedente sobre acordos. Eu não 
tenho". Alckmin ligou duas vezes. "O senhor achou pouco?", perguntou Mônica 
Bergamo. "Eu acho normal. Os pulsos (telefônicos) são tão caros", respondeu 
Lembo. Já o ex-prefeito de São Paulo e candidato ao governo do Estado, José 
Serra, não ligou nenhuma vez, revelou Lembo. Serra é conhecido por ser um homem 
econômico.

Entre silêncios, bolas nas costas, evasivas e declarações ambíguas e 
protocolares, ninguém do PSDB e do PFL se atreveu a comentar abertamente o 
conteúdo da entrevista de Lembo. A própria entrevista pode fornecer uma chave 
para explicar esse silêncio. "Nossa burguesia devia é ficar quietinha e pensar 
muito no que ela fez para este país". Provavelmente o chapéu não serviu a 
nenhuma cabeça. Trata-se de um silêncio de outro tipo. Um silêncio constrangido 
e perplexo. Dizer o quê, exatamente? Concordar com o diagnóstico de Lembo sobre 
o caráter perverso e pueril da elite branca brasileira? Tecer algum comentário 
sobre a necessidade de a burguesia brasileira abrir a bolsa para enfrentar a 
miséria social do país? O que fazer com isso? Talvez estejam apostando na 
máxima que diz: "Se nos mantivermos calados pensarão que somos filósofos". Ou, 
melhor ainda, inocentes.

 

Marco Aurélio Weissheimer é jornalista da Agência Carta Maior (correio 
eletrônico: gamarra@xxxxxxxxxxx)

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