[CamaraDas] Filósofo italiano no Estadão: Diz que o presidente brasileiro é 'muito melhor' que a esquerda cega que ainda se agarra a conceitos superados, como imperialismo e colonialismo.

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  • Date: Fri, 14 Oct 2005 14:57:30 -0300

 
Assunto: Filósofo italiano no Estadão: Diz que o presidente brasileiro é 'muito 
melhor' que a esquerda cega que ainda se agarra a conceitos superados, como 
imperialismo e colonialismo.



        Entrevista ao Anotnio Negri, Estado de Sao Paulo, 9 de outubro de 2005




        
        
        Entre o público e o privado, o filósofo italiano Antonio Negri fica com 
o comum, o espaço onde se mobiliza e se movimenta a Multidão. Considerado o 
grande pensador da nova esquerda mundial, Negri afirmou, em entrevista 
exclusiva ao Estado, que o terceiro mundo não está mais ao Sul do Equador, mas 
em todo lugar, inclusive nos países desenvolvidos. 'O furacão nos mostrou essa 
realidade monstruosa: ele está em New Orleans'. O filósofo-coqueluche da Europa 
diz que o mundo globalizado do século 21 está, afinal, unificado, mas movido 
por dois vetores que se confrontam e se complementam, como yin e yang: de um 
lado, o Império e, de outro, a Multidão.
        A globalização gerou o Império, o sistema que controla a produção e o 
fluxo econômico, mas também abriu as fronteiras nacionais e mundializou as 
relações pessoais, gerando a Multidão, a nova revolução das pessoas que se 
comunicam furiosamente, fora do controle de qualquer Estado, sem o estímulo das 
velhas ideologias e sem as limitações das fronteiras nacionais, que caminham 
para a extinção. Antonio Negri, 72 anos, inventor do Potere Operaio, exilado 
por 16 anos na França e preso por 6 na Itália - e que chega ao Brasil no dia 22 
de outubro - diz que assim é o mundo novo. 'Estou convencido de que é o
        comum que nos permite ampliar as liberdades', afirma ele, quebrando 
pilares centenários da velha esquerda que já perfilhou com ardor e pregando um 
novo pensamento comunitário: 'A Multidão não é revolucionária', agrega, 'mas 
ela pode construir uma consciência de transformações profundas'. Com o 
americano Michael Hardt, da Universidade de Harvard, ele é autor dos dois 
livros mais instigantes dos últimos anos: Império, que conceituou o sistema de 
dominação consolidado pela globalização; e agora Multidão
        (Editora Record), que será lançado dia 24, no Rio, e que explica o 
efeito das comunicações globais sobre a Multidão, a grande 'assembléia-geral 
mundial' do século atual.
        Negri defende o presidente Lula à direita e à esquerda. Diz que o 
presidente brasileiro é 'muito melhor' que a esquerda cega que ainda se agarra 
a conceitos superados, como imperialismo e colonialismo. Ele não se assusta com 
os escândalos na base parlamentar do governo e diz que 'democracia 
representativa é isto mesmo'. Põe ênfase na voz e dá um cheque em branco a 
Lula: 'É provavelmente o menos corrupto de todos os governantes que conheço'. 
Por fim, afirma que Lula rompeu as regras da globalização quando fechou as 
contas do FMI e ao estabelecer linhas de relacionamento Sul-Sul - e que isso 
trouxe repercussões globais.
        Para completar as marteladas na esquerda, Negri detona a velha e 
sacrossanta classe operária: diz que ela é 'fechada sobre si mesma', foi 
organizada pelo capital, excluiu os pobres e as mulheres e atua 'dentro de um 
conceito diretamente produtivo'. A Multidão, observa com fé, é mais abrangente: 
inclui mulheres, pobres, imigrantes, e compreende todos aqueles que produzem no 
terreno social, e não somente sobre o terreno industrial. 'Esta é a grande 
diferença', comemora.
        Negri decreta que o século americano acabou e que o presidente George 
Bush não conseguiu fazer com que a guerra se tornasse um elemento de 
legitimação do Império. 'Hoje a guerra continua na agenda deles, mas a 
resistência da Multidão os impediu e continuará impedindo'. Esse filósofo 
cáustico, que desafia a lógica do marxismo e navega num zênite original, 
criando novas âncoras do pensamento social, cultivou a ira do Fórum Social 
Mundial ao pregar que a esquerda não podia ignorar ou combater a globalização. 
A globalização, alega, é irreversível. Ela existe e, mais que existir, pode se 
transformar em arma do povo reunido na Multidão. Eis a entrevista:
        
        Em 2003, quando veio ao Brasil, o senhor disse ter a impressão de que 
Lula estaria aceitando as regras da globalização. Dois anos depois, o que pensa 
a respeito?
        Hoje eu estou convencido de que Lula tem sido capaz de romper as regras 
da globalização.

        Lula e o governo brasileiro têm sido capazes de uma operação que 
raramente - e só muito raramente - foi possível a governos de grandes países, 
no âmbito da globalização. Estou falando do rompimento com o estatuto da 
dependência. Isso se deu através de duas operações fundamentais. De um lado, o 
acerto de contas com o FMI; de outro, a abertura, extremamente importante, de 
uma linha SulSul. Portanto, as operações feitas por Lula inventaram uma 
novidade, ao quebrarem a centralização que o unilateralismo americano impunha à 
globalização. Esses são dois êxitos de importância global, e sua relevância 
internacional é muito maior do que os ganhos que o Brasil auferiu com elas.
        
        O Brasil vive, há quatro meses, sob um enorme escândalo político na 
base parlamentar do PT e do governo. Isso é um sinal de decadência da esquerda 
ou da democracia representativa?
        (Ri) Trata-se da revelação da natureza da democracia representativa, 
que, como os estudiosos sabem, foi fundada sobre regras de corrupção. Essas 
regras da corrupção são inevitáveis no âmbito de um sistema que, em vez de 
representar os interesses das massas - alguém diria populares, mas eu uso pouco 
essa adjetivação, prefiro dizer dos interesses da Multidão - dentro do governo, 
faz com que elas se manifestem através de uma representação, que inclui uma 
expropriação do poder na representação política, uma forma de representação que 
foi inventada há muitos séculos. Desde o nascimento do sistema capitalista, 
essa representação se mostrou muito útil aos interesses do desenvolvimento 
capitalista, porque se baseia numa série de referências de poder estranhas ao 
Parlamento, como o poder da mídia e das empresas multinacionais.
        Desse ponto de vista, vejo o governo democrático de Lula provavelmente 
como um dos menos corruptos entre todos os que eu conheço, do governo americano 
de (George W.) Bush ao governo italiano de Silvio Berlusconi. Não consigo 
entender por que a indignação pôde chegar a níveis tão altos.
        
        Esse escândalo dificulta a trajetória da esquerda no Brasil e na 
América Latina?
        No livro que publico agora com Giuseppe Cocco, Global - Biopoder e luta 
numa América Latina globalizada, critico a esquerda latino-americana, essa 
esquerda que ainda se prende a conceitos de dependência, e que não é a esquerda 
de Lula. Por causa da sua total incompreensão sobre os reais problemas da 
globalização, diria que é uma esquerda cega, que reproduz, no que diz respeito 
às formas de transformação no Brasil, um antigo esquema eurocêntrico. É uma 
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        'Eu nunca disse que a Multidão, enquanto tal, é revolucionária.
        A Multidão não é revolucionária, mas também digo uma outra coisa: que 
ela, a Multidão, pode construir uma consciência de transformação profunda.' 
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        esquerda que, presa aos conceitos de imperialismo e do colonialismo, 
nunca entendeu os grandes processos da globalização e da modernização. Lula é 
enormemente superior a essa esquerda.
        
        Por que a esquerda, em geral, tem uma dificuldade colossal de 
administrar o poder com democracia?
        Não diria que a esquerda tem uma dificuldade colossal em administrar o 
poder com democracia. Ela tem seguido, isso sim, os velhos critérios da 
democracia burguesa representativa. Insisto, não consigo entender a indignação 
de vocês no Brasil. Na Itália, temos um patrão. A pessoa mais rica do país é o 
dono do Estado e, ao mesmo tempo, da televisão e dos jornais. Por isso, não 
consigo entender a indignação de vocês.
        Vocês têm de entender que democracia é isto mesmo, e não uma outra 
coisa. É um sistema de representação que delega poder a alguns indivíduos mais 
ou menos corruptos. Lula é o menos corrupto de todos aqueles que estão no 
poder. O seu grande defeito foi confiar na democracia e não usar, como faz (o 
primeiro-ministro Silvio) Berlusconi, operações financeiras para dominar o 
capital dos grandes jornais.
        
        Mas Lula bem que tentou aprovar leis para controlar a imprensa.
        A ingenuidade de Lula foi, governando neste regime, não criar 
condicionantes para as grandes cadeias de televisão e a mídia. Ele precisa ser 
realista nisto. Eu sou completamente maquiavélico. O poder é o que é, essa 
imundície na qual estamos mergulhados, mas que, de qualquer forma, precisamos 
controlar.

        
        O senhor acha que Lula fez avançar as conquistas da esquerda na América 
Latina?
        Eu acredito que a democracia latino-americana conquistada através de 
Lula é irreversível.
        Lula vencerá. Vencerá! E eu espero que, no próximo governo, ele consiga 
mobilizar os movimentos sociais por dentro e não simplesmente atrelá-los ao 
governo. Eu penso que as grandes forças sociais, e sobretudo as grandes forças 
sociais da Multidão, populares, étnicas, possam movimentar-se dentro do âmbito 
do governo. Eu espero que tudo isso venha a acontecer no novo mandato que Lula 
terá. E quando estiver no Brasil insistirei, onde quer que seja, e sempre, 
sobre este tema. Lula não é um ditador, nem é um corrupto, é um homem que 
conseguiu construir uma nova idéia de democracia para a América Latina inteira. 
É o único que trouxe uma proposta renovadora e a apresentou em condições 
realistas, começando por um nível mundial, um nível global.
        Ora, esta burguesia brasileira, que esfacelou o País e que, também, 
destruiu, em vários momentos, a capacidade de governar de alguns de seus 
melhores quadros, agora é quem se indigna, querendo retomar o governo. O que 
seria esse governo da burguesia senão corrupção, organizado para obstaculizar a 
renovação e favorecer o seu próprio bolso?
        
        O senhor disse que lançará, no Brasil, em parceria do professor 
Giuseppe Cocco, um livro sobre os efeitos daMultidãonospaísesemdesenvolvimento. 
Como se formará e se manifestará a Multidão nesses países?
        Falar hoje de 'países em desenvolvimento' é já muito redutivo. Nos EUA, 
por exemplo, New Orleans passou a ser um país em desenvolvimento. O tufão 
revelou essa realidade monstruosa - o terceiro mundo está em qualquer lugar. 
Você pode encontrá-lo em Los Angeles, em New Orleans, na periferia parisiense e 
em todos os países desenvolvidos. Hoje a discussão sobre o mundo em 
desenvolvimento é um problema de cada governo e este problema revela a natureza 
da esquerda ou da direita: a direita finge não vê-lo, a esquerda o considera. A 
esquerda que vale a pena, a esquerda necessária o tem na conta de primeiro 
problema a resolver. Mas se você disser tudo isso a grupos dirigentes do 
primeiro e do terceiro mundos, vai parecer incorrer em total contradição. 
Porque para muitos governantes esses problemas não existem. Uma das coisas mais 
características da globalização é justamente a generalização e a homogeneização 
desses problemas. O MST não existe apenas no Brasil, existe em vários lugares, 
nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Em todos os lugares há uma 
aspiração de toda uma população a se tornar cidadã.
        
        Como funciona a evolução das massasnospaísesemdesenvolvimento?
        Esta é uma pergunta de um milhão de dólares... (ri) Há quem dê a esta 
pergunta a resposta do islamismo, isto é, 'tomemos o petróleo'. Mas existem 
outras respostas bem mais sérias.
        Há aqueles que dizem: precisa haver igualdade. Precisa haver igualdade. 
E, uma vez que o novo modo de produção se baseia essencialmente em formação e 
informação, é necessário construir meios formadores e informáticos que sejam 
comuns, isto é, é preciso construir escolas e grandes redes de comunicação, os 
meios que nos permitem viver e produzir, renovar e aumentar a nossa riqueza. 
Esses são os projetos em torno dos quais podemos desenvolver e construir 
realidades comuns, deixando as privatizações de lado. Deixar de privatizar, não 
para tolher a liberdade - não é verdade que as coisas privadas garantam a 
liberdade. E digo mais: nem mesmo o regime público nos permite ampliar a 
liberdade. Eu estou convencido que o comum é que nos permite ampliar a 
liberdade. E este comum é a Multidão, que é a resposta à sua pergunta. Em nossa 
civilização, nós fazemos três-quartos das coisas do nosso cotidiano sem a 
presença do Estado. São coisas que fazemos dentro do patamar de liberdade das 
relações que estabelecemos entre nós. E a riqueza disso está na abundância das 
nossas relações sociais. Isto é o que importa: o comum.O comum é a coisa mais 
simples e bem repartida que existe no mundo, são as ruas, as escolas, os 
idiomas, todas as coisas de que nem sempre nos damos conta, mas que devemos 
administrar no nosso dia-a-dia.

        
        Há dois anos o senhor disse que era preciso impedir que a guerra se 
tornasse um elemento de legitimação do Império. Depois de dois anos, a situação 
piorou?
        Não, não piorou. A guerra não se tornou um elemento de legitimação do 
Império. Ou melhor, as forças unilaterais, os americanos, pensaram em legitimar 
o Império, ou o seu domínio sobre o Império, usando a guerra.
        Mas perderam a guerra, Bush perdeu a guerra. Hoje a guerra continua na 
agenda deles, mas a resistência da Multidão os impediu e continuará impedindo.
        
        Como será a sociedade global que emergirá da Multidão?
        Isto eu não sei, não sou um profeta. Para mim a Multidão é simplesmente 
uma definição daquela que é a realidade atual das classes produtivas no mundo. 
Não escrevi o manifesto do partido comunista global. Eu nunca disse que a 
Multidão, enquanto tal, é revolucionária. A Multidão não é revolucionária, mas 
também digo uma outra coisa: que ela, a Multidão, pode construir uma 
consciência de transformação profunda. Porque o conceito é este, não podemos 
confundir a realidade das transformações do mundo com a ilusão de uma mudança. 
As transformações já começaram a acontecer.
        
        Qualadiferençaentreclasse operária e multidão? E entre população e 
multidão?
        A classe operária é uma classe fechada sobre si mesma, organizada pelo 
capital, exclui os pobres, exclui as mulheres, em boa parte, e atua dentro de 
um conceito diretamente produtivo, a nível do sistema industrial. A Multidão 
inclui as mulheres, os pobres, os imigrantes; compreende todos aqueles que 
produzem no terreno social, e não mais simplesmente sobre o terreno industrial. 
Esta é a grande diferença. Se existe alguma diferença da Multidão com as 
populações - e neste ponto eu preciso explicar bem - é quanto às populações 
nacionais. Hoje, um discurso dirigido objetivamente para as populações 
nacionais não é mais possível. Os fenômenos migratórios são enormes e 
modificam, miscigenam, transformam as populações em, praticamente, todos os 
países do mundo.
        
        EmseulivroMultidãoháinteressante discussão sobre a legitimação da 
violência.Não seria mais correto dizer que nenhuma violência pode ser legítima 
entre homens e nações?
        Não há no livro a legitimação da violência, eu digo simplesmente que a 
violência é uma coisa normal. E me parece completamente banal que, em países 
como o Brasil - onde não sei bem qual o porcentual de pessoas que são 
assassinadas por ano, parece um porcentual muito alto, a despeito da grande 
quantidade de habitantes do Brasil -, se diga que a violência não existe.
        
        No começo do livro o senhor diz que a possibilidade de fazer a 
democracia global acontece agora pela primeira vez. Como se fará essa 
democracia?Elaseráfeita,aseujuízo,por uma revolução lenta, um processo gradual?
        O mundo está finalmente unificado e que a mundialização que 
experimentamos hoje é profundamente diversa daquela que o capitalismo conheceu 
a partir do século 16. Em primeiro lugar porque hoje os fluxos de informações, 
de finanças, de comandos e o político cruzam o mundo de maneira mais ou menos 
homogênea. A isso corresponde uma série de movimentos de informação, de 
mobilidade, de conhecimento e de inovações a que se coligam aqueles que são 
verdadeiramente produtivos.
        Isto é, não se produz mais apenas na fábrica da periferia de São Paulo. 
Hoje se produz no mundo todo, através da informação. A riqueza não é mais uma 
coisa produzida em um lugar, mas em espaços que são sempre definidos de maneira 
nova e diversificada.
        
        Como a Multidão pode tirar proveito da globalização?
        Quando eu falo de globalização e da Multidão, estou falando de uma nova 
organização do espaço e do tempo. A primeira questão é compreender a capacidade 
desestabilizadora, de ruptura, da velha estrutura moderna do poder. Os velhos 
governos não agüentam mais. O governo Lula foi extremamente importante porque 
mexeu nesse terreno. Seja como for, o governo Lula tem sido infinitamente mais 
inteligente do que foi o governo de outro grande personagem, Fernando Henrique 
Cardoso, que se movimentou apenas sobre uma questão nacional. Este é o problema.
        Quando dizem, por exemplo, que Lula não fez senão realizar as coisas 
que Cardoso havia intuído, de um certo ponto de vista isto é verdade. Mas de 
outro ponto de vista, soa falso, porque Lula jogou o seu poder sobre o nível 
global e não simplesmente na hipótese da revalorização monetária ou da invenção 
do Real.

        Esta foi uma diferença extremamente importante.
        
        Como se fará o processo de formação da consciência das pessoas que 
farão a revolução da Multidão?
        Eu não sei. A propósito, uma coisa que tenho notado na Europa é que a 
febre das privatizações passou completamente. Recorrer ao Estado é a maneira 
mais antiga, mais velha, além de ser própria das posições políticas 
hegemônicas. É o eterno jogo entre o público e o privado, entre a apropriação 
individualista, do individualismo possessivo, e a entrega ao Estado da defesa 
dos próprios interesses. Veja, são coisas que não me agradam, porque, na 
realidade, entre elas existe o comum. Hoje (terçafeira passada), aqui em Paris, 
onde estou, há uma grande greve geral dos trabalhadores, não sai um trem de 
metrô, as lojas estão todas fechadas. Nós, a Multidão, já nos reconhecemos como 
uma comunidade verdadeira e não queremos mais ter patrões. Não é que exista, no 
coração dessa comunidade, a igualdade chata e brutal dos sistemas totalitários, 
mas também não pode ser objeto de discussão que, quando saímos à rua, nós 
precisamos usar um meio público - e eles não podem ser paralisados. O conceito 
de segurança, pois, é um conceito onde tudo é medido pela satisfação e desejo 
dos cidadãos, e não pode ser tomado, apenas sob o ângulo da defesa contra o 
terrorismo. São mistificações horríveis.
        
        SemaisadianteoImpériodescobrir fórmulas insuperáveis para controlar a 
internet, a revolução da Multidão se exaure, estará abortada?
        Eu não sei. No momento, o que tem me divertido muito é o fato de que a 
Europa quer tirar dos EUA o controle da rede. Como você sabe, hoje a rede é 
controlada pelos EUA de maneira absolutamente monopolística. Mas, por hipótese, 
hoje é a Europa quem quer assumir esse controle, amanhã pode ser que o Brasil 
queira. E provavelmente haverá tentativas da parte de uma cadeia de Estados do 
Sul, a África, a Índia e a China. Entende? Esta coisa é extremamente 
importante: o século americano acabou.
        
        A Multidão poderá resgatar o conceito de sobriedade, digamos, em 
relação ao consumo?
        Nesta questão eu sou muito cauteloso. Nunca fui um anticonsumista. 
Creio que muitas vezes o anticonsumismo foi imposto, de uma maneira dura, às 
populações. Penso que existem níveis de consumo necessários à reprodução da 
vida e ao enriquecimento do saber que são absolutamente fundamentais.
        Eles não podem, de nenhuma forma, ser reduzidos a um estado de 
subconsumo.
        
        Refiro-meaumconsumomaiscrítico,enãoaoconsumomecânico.
        Sobre isso estamos completamente de acordo, mas por outro lado, você 
sabe muito bem que, ao cabo, qualquer posição anticonsumista acaba sendo tomada 
como uma posição anticapitalista.
         <http://www1.estado.com.br/ep/media_global/t.gif> 
        Lula é muitos!


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