[CamaraDas] Fome Zero

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  • Date: Mon, 17 Oct 2005 18:45:24 -0200

17 DE OUTUBRO DE 2005

ENTREVISTA      
Representante da FAO defende 
o Fome Zero de críticas da mídia

                
Tubino: solidariedade é o que mais falta        

Para o representante da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e 
Alimentação (FAO) no Brasil, José Tubino, a mídia brasileira "está carregada de 
negativismo" quando ridicuklariza programas como o Fome Zero, mas estes 
precisam estar acompanhado por programas de desenvolvimento para que traga 
resultados à população pobre. Veja o que o especialistra comentou em entrevista 
a Érica Santana, Juliana Andrade e Spensy Pimentel, da Agência Brasil, por 
motivo do Dia Mundial da Alimentação, sobre a contradição entre as críticas da 
mídia nacional e o reconhecimento internacional dos programas de segurança 
alimentar e combate à fome desenvolvidos pelo governo brasileiro. 

Agência Brasil: Enquanto, no Brasil, muitas vezes, a mídia e setores de classe 
média ridicularizam programas como o Fome Zero, percebe-se ao mesmo tempo 
vários sinais de reconhecimento internacional desses programas sociais. Nesta 
segunda-feira, por exemplo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe em 
Roma a Medalha Agrícola, da FAO. Afinal, por que o Fome Zero chama a atenção da 
comunidade internacional? Como o sr. percebe esse descompasso entre a 
repercussão internacional e parte da opinião pública brasileira?

José Tubino: O trabalho da mídia é ser imparcial: sair e observar diretamente o 
que está acontecendo nas comunidades e com as populações, e não somente enfocar 
notícias negativas. A mídia está carregada de negativismo. Não apenas aqui no 
Brasil, mas no mundo inteiro. A mídia tem que ser um pouco mais equilibrada e 
também descobrir onde estão as coisas boas.

Nós, como Nações Unidas, temos uma perspectiva internacional global, e o que 
nós vemos no Brasil é, primeiro, um compromisso político, que é fundamental. É 
um compromisso político com programas que já estão sendo executados. O Bolsa 
Família é um programa que já foi reconhecido pelo Banco Mundial como um 
programa modelo. 
A FAO considera que o Fome Zero é um conjunto de programas que precisa acelerar 
a velocidade para chegar ao mesmo compasso do Bolsa Família, que é um programa 
complicado, mas que não tem a mesma complexidade de um programa de 
desenvolvimento que pode gerar empregos, educar a população, possibilitar o 
acesso de pequenos produtores ao mercado, educação alimentar e nutricional. 

ABr: Como esses programas se destacam no atual panorama internacional?

José Tubino: A ONU está torcendo pela cooperação e solidariedade. É isso é o 
que mais falta no mundo de hoje. Atualmente, o mundo está mais orientado à 
competitividade. Uma competitividade boa, mas para aqueles que têm capacidade 
de ganhar. 

E o que acontece às pessoas que não têm capacidade de concorrer? Cada vez se vê 
mais dificuldade para gerar renda, particularmente para os jovens. Por um lado, 
há mais população e, por outro, menos emprego. As Nações Unidas estão invocando 
a fazer um maior esforço pela cooperação e a solidariedade entre as sociedades. 

Estamos falando de solidariedade internacional. Os países ricos têm o 
compromisso de participar do desenvolvimento internacional, com 0,7% do seu PIB 
(Produto Interno Bruto). Mas esse compromisso não está sendo cumprido. Eu não 
estou falando somente do Brasil, mas de como a comunidade internacional tem que 
resolver esses problemas de necessidades básicas da população.

ABr: Logo depois que o presidente Lula discursou na ONU, recentemente, uma 
revista brasileira publicou, nesse tom que comentávamos há pouco, a seguinte 
nota: o fato de a ONU destacar a experiência de política social do governo Lula 
apenas mostra a decadência, a falência das Nações Unidas. O que pensa desse 
tipo de crítica? 

José Tubino: Para mim, é muito difícil falar sobre isso, porque existem 
interesses muito grandes para acabar com a ONU. Por outro lado, temos que 
reconhecer que a ONU tem que ser modificada e modernizada. Eu não acredito que 
a ONU esteja decadente. 
O que está acontecendo é a mesma coisa que eu falei anteriormente. A mídia só 
está focando coisas ruins. Na última Cúpula do Milênio Mais Cinco, em Nova 
Iorque, foram aprovadas muitas coisas boas, mas a mídia só pegou as coisas 
negativas. A ONU está sofrendo com a falta de informação sobre as coisas 
positivas que as Nações Unidas fazem no mundo, em condições muito difíceis e 
com pouco apoio financeiro dos próprios países, que são os donos da ONU.

ABr: Com relação aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, há críticas de 
que eles seriam apenas uma "declaração de boas intenções", sem definições 
claras de como serão atingidos. A FAO percebe essa "falha"?

José Tubino: Os indicadores e o monitoramento de informações são aspectos muito 
importantes, mas isso não deveria ser uma justificativa para não fazer as 
coisas. No âmbito da ONU, existem algumas questões que sempre serão alvos de 
críticas. Nunca haverá clareza suficiente sobre determinados padrões. 

É a primeira vez que as Nações Unidas têm metas concretas e quantitativas para, 
em tal data, fazer tal coisa. Isso é um grande avanço. Mas sempre haverá 
críticas. Será impossível chegar a um consenso geral.

Fonte: Agência Brasil


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