ELIO GASPARI A mordomia hipercalórica da Câmara A primeira coisa que se pode pedir aos candidatos a presidente da Câmara é o compromisso de devolução à Viúva da casa oficial onde vive hoje o deputado João Paulo Cunha. Devolvida a casa, caducará a mordomia mal-assombrada que ela hospeda. Ela provoca surtos prorrogacionistas nos inquilinos que não gostam de pagar carrinho de feira, muito menos aluguel. Em julho passado a repórter Lydia Medeiros descreveu a estrutura hoteleira da "casa do João", como ela é conhecida. O aparelho digestivo da mansão legislativa habilitava-a a receber 30 convidados para um café da manhã onde se esperavam 15. Três cozinheiras, duas auxiliares e uma nutricionista garantiam sucos frescos (do gosto do doutor João Paulo) e operavam uma pequena panificadora, louvada pela qualidade de seus pães de queijo. Nessa casa, o líder do PL, Valdemar Costa Neto (SP), soltou um precioso grito primal da república petista: "Nossa, não agüento mais comer!". Pudera. Em junho, "chez" Cunha compraram-se 40 quilos de filé, 25 quilos de peito de frango e 20 de peixes, num total de 120 mil quilocalorias. De acordo com as tabelas alimentares da patuléia, levantadas pelo IBGE, verifica-se que semelhante consumo de proteínas animais corresponde a uma dieta total de 1,7 milhão de quilocalorias. É Bolsa-Alimentação suficiente para dar de comer, na média nacional, a cerca de 950 contribuintes num dia, ou uns 30 durante um mês. Já houve tempo em que o vice-presidente da República (Café Filho, entre 1950 e 1954) presidia o Senado e morava no apartamento do primeiro andar do cruzamento de Nossa Senhora de Copacabana com Joaquim Nabuco. Nenhum presidente de Câmara teve o poder que o texano Sam Rayburn exerceu sobre os deputados americanos durante os 17 anos em que presidiu a Casa, entre 1940 e 1961. "Mr. Sam" comia em restaurantes chineses, não aceitava diárias nem "bocas-livres". Não tratava com lobistas nem cobrava por palestras. Fez uma viagem oficial ao exterior (para inspecionar o canal de Panamá) e pagou a despesa do seu bolso. Quando morreu, aos 79 anos, em 1961, tinha US$ 15 mil no banco e um apartamento de dois quartos e sala em Washington. Era nele que vivia. No tempo em que os petistas não sabiam o que era uma boa mordomia, os generais transformaram uma das granjas de Brasília em residência de fim de semana do presidente. Era a Granja do Riacho Fundo. Estiveram lá Emílio Medici e Ernesto Geisel. Dificilmente algum dos dois teve um consumo mensal de proteínas comparável ao de João Paulo Cunha. Scylla Medici decorou a granja com móveis capturados nos depósitos públicos de Brasília. Terminada a ditadura, Tancredo Neves mandou desativar a mordomia e devolver a granja à Viúva. Hoje o Riacho Fundo abriga a Asteca (Associação Terapêutica e Educacional para Crianças Autistas). Se os candidatos à sucessão de João Paulo Cunha estiverem interessados em saber como se pode presidir a Câmara numa dieta de baixas calorias, podem procurar no Rio de Janeiro o ex-deputado Célio Borja. É conversa útil porque ele conheceu o Brasil em que viveram homens como Café Filho, presidiu a Câmara (1974-1976), foi ministro do Supremo Tribunal Federal (1986-1992) e da Justiça (1992). Tudo isso sem engordar. Célio tem outra vantagem: é praticamente abstêmio. Nickeleus L.P. Zemborian Presidente Supremo do P.R.F.