Política Aldo sai com mágoas e feridas Gustavo Krieger Tema do Dia - Congresso Candidato comunista adota tom moderado após derrota, mas destaca falta de apoio do Planalto na disputa pela reeleição. Ciro Gomes fala em “seqüelas gravíssimas” na base governista Aldo Rebelo ao deixar a cabine de votação: discurso lembrou lealdade ao presidente Lula e fez referência ao corneteiro de Pirajá, símbolo da campanha Até a última hora, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) acreditou que tinha chances de vencer o segundo turno e reeleger-se presidente da Câmara. Mal terminou o primeiro turno ele foi para o gabinete reunir-se com os coordenadores de campanha. Começou um intenso movimento para reverter a vantagem de Chinaglia. Telefonou para vários governadores, incluindo os tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG). Não deu. Quando o resultado saiu, faltaram 18 votos. Aldo voltou ao gabinete da Presidência pela última vez. Consolou seus aliados e esfriou a cabeça antes de dar a primeira entrevista. Quando falou, adotou o tom moderado e quase monocórdio de sempre, mas não escondeu a mágoa e as feridas deixadas pela disputa na base aliada. “Quem teve a votação que eu tive não pode sentir-se abandonado”, disse. “Tive muito apoio dos deputados, mas não tive e nem pedi apoio do governo.” Ele considerou o resultado democrático, mas advertiu: “Disputei a eleição contra Arlindo Chinaglia porque tínhamos idéias diferentes sobre o país e sobre a Câmara. Essas idéias continuam”. Quem explicitou melhor a crise foi o deputado eleito Ciro Gomes. “Essa fissura na base governista simboliza o que eu chamei de marcha da insensatez”, avaliou. “Duas bandas da sustentação do governo se enfrentaram e deram ao PSDB o protagonismo de decidir a eleição na Câmara”. O deputado previu que os próximos dias serão cheios de declarações diplomáticas e juras de pacificação, mas não acredita nelas. “Essa crise deixa seqüelas gravíssimas. Elas não serão confessadas de público, mas existem.” Ciro é um dos personagens centrais nessa divisão. A união do PSB, PCdoB e PDT em torno da candidatura de Aldo Rebelo vai muito além da eleição na Câmara. Os três partidos organizaram um bloco partidário e querem se manter juntos. Pretendem formar uma terceira força dentro da coalizão governista, até aqui dominada pelo PMDB e PT. O bloco é o embrião do esquema político de sustentação da provável candidatura à Presidência da República em 2010. O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) têm pretensões de concorrer ao Planalto na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A disputa pela hegemonia dentro da coalizão e pela eleição de 2010 já existia, mas tornou-se mais dura com a eleição da Câmara. Os líderes do PSB e PCdoB acusaram o PT de jogar pesado demais para eleger Chinaglia, negociando cargos no governo e liberando emendas de parlamentares ao orçamento em troca de votos. Ontem, o clima de suspeita era tão grande que Aldo e seus aliados mantiveram uma equipe de assessores conectados durante todo o dia ao Siafi, o sistema de dados que registra todos os gastos do governo. O objetivo era rastrear qualquer liberação suspeita de verbas. Desabafo No discurso que fez em plenário, Aldo deixou escapar um tom de desabafo e lembrou os sacrifícios que fez em apoio ao governo Lula. “Fui companheiro do presidente Lula em oito campanhas presidenciais”, recordou. Falando de sua gestão, marcada pelos escândalos do mensalão e dos sanguessugas, disse que “mais presidi a crise que a Casa, mas não fugi. Enfrentando momentos difíceis, a cada quarta-feira julgando cassações de colegas, enfrentando grupos desesperados que invadiram a instituição. Mas em nenhum momento fugi”. No discurso, citou a figura símbolo de sua campanha, o corneteiro de Pirajá, que afugentou as tropas portuguesas ao tocar o hino de “Avançar” em vez do toque de recolher durante uma das batalhas pela independência. Seus apoiadores usaram ontem um pingente com uma corneta dourada.