[CamaraDas] Laurel à corrupção

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  • Date: Thu, 31 Aug 2006 01:11:30 -0300

30/08/2006

Romano vê má-fé em ação de intelectuais pró-Lula
Romano vê má-fé em ação de intelectuais pró-Lula


El Roto/El Pais
 



Roberto Romano, professor de ética e filosofia da Unicamp, enxerga uma 
diferença na tentativa de artistas de justificar desvios éticos na política e 
no manifesto assinado por 213 intelectuais em apoio à candidatura Lula. Acha 
que os artistas apenas exercitam a sua “ignorância crassa”. Avalia que o caso 
dos intelectuais é mais grave. Sabem do estão falando. E agem movidos por 
“oportunismo e má-fé”. Menciona especificamente Marilena Chauí, de quem foi 
aluno. “Ela não é jejuna em matéria de filosofia”. Leia abaixo a entrevista:

 

- O que achou da tentativa de artistas de justificar transgressões à ética e do 
encontro em que Lula recebeu um manifesto de apoio de 213 intelectuais?

Há que distinguir os dois grupos. As manifestações do Paulo Betti –‘Não dá para 
fazer política sem botar a mão na merda’— e  de Wagner Tiso –‘Não estou 
preocupado com a ética do PT ou com qualquer tipo de ética (...). O PT fez um 
jogo que tem que fazer para governar o país”—são toscas. Mostram uma ignorância 
crassa. Eles vivem no universo do slogan, no mundo das palavras de ordem. Isso 
é uma herança que vem da prática totalitária, tanto de direita como de 
esquerda. Tenta-se justificar o injustificável. O custo desse discurso é o 
estímulo à imbecilidade geral.

- Por que distinguir os intelectuais?

No caso dos intelectuais, não se trata de ignorância. Conheço os personagens, 
sobretudo a professora Marilena Chauí, que foi minha professora. Ela não é uma 
jejuna em matéria de filosofia. Conhece a ética de Spinoza melhor do que eu, 
conhece a ética cartesiana, conhece a ética de São Thomás de Aquino, conhece 
Aristóteles. Quando uma pessoa tem esse grau de conhecimento se alia a uma 
coisa dessas, está agindo com oportunismo e pela má-fé. Não tenho outra 
qualificação.

- Que conseqüências podem advir do gesto dos intelectuais?

Lula e todos esses intelectuais vão desaparecer. Quem vai responder por tudo o 
que está ocorrendo no Brasil no momento em que os costumes hoje abençoados por 
eles –o mensalão, a ocultação da verdade, a perseguição à imprensa— quando tudo 
isso tiver se transformado em costume? É um mau irreparável. O intelectual sabe 
que um ato pode se transformar em costume. Sabe também que um costume é difícil 
de ser mudado. Esse intelectual tem a obrigação de verificar as conseqüências 
dos atos. Não poderão dizer depois que são inocentes. Eles sabem o que estão 
fazendo. Abençoar desvios éticos, brincar de militante é o mesmo que abdicar da 
função essencial do intelectual, que é a crítica, a análise, a discussão.

- Um intelectual não pode apoiar o presidente Lula?

Acho perfeitamente lícito que apóie. Mas acho que o apoio só é razoável até o 
ponto em que o intelectual não se transforme numa espécie de ventríloquo do 
partido ou do indivíduo a quem ele apóia.

- No caso específico chegou-se a esse ponto?

Sem dúvida. Diria que a reunião dos intelectuais com Lula foi uma espécie de 
encontro mediúnico. Quem falou foi o Lula, pela boca dos intelectuais. Os 
presentes racionalizaram o discurso do presidente. Aí eu me lembro de Sartre, 
para diferenciar o filósofo do ideólogo. O filósofo é aquele que critica, que 
analisa, que se informa, que coloca matizes, que procura a diferença. O 
ideólogo é aquele que repete as palavras de ordem. Tem a função de tentar 
racionalizar o que é irracional. (Continua abaixo...)

Escrito por Josias de Souza às 23h02

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‘Intelectuais estão brincando de Maquiavel’
‘Intelectuais estão brincando de Maquiavel’




Continuação da entrevista do professor Roberto Romano: 


-Os intelectuais estariam confundindo os papéis?

Esses intelectuais estão brincando de ser Maquiavel. E agem em nome alheio. Há 
uma atitude muito errada dos intelectuais brasileiros. Eles se colocam muito 
facilmente na posição de tutores do povo, da opinião pública e da República. É 
uma arrogância. Julgam-se no direito de definir aquilo que é bom e aquilo que é 
errado.

-A intelectualidade tucana não tem o mesmo defeito?

Não digo que não tenha. Esse problema não é só dos intelectuais petistas.

-Houve transgressões éticas também sob FHC –fisiologia, Sudam, privatizações 
feitas ‘no limite da irresponsabilidade’, compra de votos da reeleição... 
Eticamente, o que diferencia FHC de Lula? 

Em primeiro lugar, por mais encantos que tenha o Fernando Henrique, ele não 
encarna a figura do carismático. Ele teve muitos problemas, inclusive do ponto 
de vista acadêmico. Recebeu críticas e as devolveu. Segundo, do ponto de vista 
da investigação dos acontecimentos, o máximo que pode ser dito é que ele teve 
um engavetador-geral da República, que servia como anteparo das investigações. 
Mas não houve uma ação coordenada dos tucanos para inocentar o Fernando 
Henrique.

-Há uma ação coordenada para inocentar Lula?

Quando você pega o José Genoino, o Delúbio Soares, o José Dirceu e o Antonio 
Palocci é como se eles estivessem pagando com o próprio sangue a sobrevivência 
do Lula.

-Diria que as perversões éticas da era FHC foram pecadilhos?

Não foram pecadilhos. Mas foram menores. Nunca vi tentativas dos tucanos de 
enquadrar a imprensa para controlar as investigações. Desde que o Lula tomou 
posse, todo ano aparece uma iniciativa nova de calar a boca da imprensa e do 
Ministério Público. É nessa linha que vejo diferenças. Vamos supor que tenha 
existido uma série de irregularidades e até de crimes no período Fernando 
Henrique. Mas não houve essa tentativa sistematicamente organizada de impedir a 
divulgação dos crimes. Do ponto de vista ético isso é muito mais grave.

-Se Alckmin o convidasse para uma reunião de apoio, iria?

Não iria. Nem para o Alckmin nem para a Heloísa Helena nem para o Serra, que é 
o meu candidato preferido. Era o meu candidato preferido também para a 
presidência da República. Não participaria de um encontro com esse padrão de 
apoio. 

-O apoio público leva à perda de isenção crítica?

Não é só perda de isenção crítica. O intelectual tem todo o direito de defender 
e dizer em quem vai votar. Mas reunir-se enquanto corporação e dizer: nós, 
intelectuais, estamos apoiando é o mesmo que abdicar da autoridade ética e 
moral para, amanhã, criticar. O presidente da República de ontem era o Fernando 
Henrique, hoje é o Lula, amanhã pode ser outro. O problema não está no ocupante 
empírico do cargo, mas na ação que está sendo desenvolvida.  

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