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  • Date: Wed, 30 Mar 2005 11:45:58 -0300

Brasília monitora testes nucleares      
Data: 30/3/2005         

Parque Nacional abriga aparelho, instalado pela ONU, capaz de captar explosões 
atômicas 

Samanta Sallum - 
Da equipe do Correio - 

O Parque Nacional de Brasília (PNB) é a maior reserva ecológica em meio urbano 
do país. São 30 mil hectares de árvores, flores, córregos e uma infinita 
coloração de vida silvestre. A região, no entanto, abriga algo mais que a fauna 
e a flora do cerrado. Tem outros segredos. A área chamou a atenção dos 
ingleses, na década de 60, depois dos americanos, nos anos 70, e recentemente 
da Organização das Nações Unidas (ONU). O resultado disso é que hoje o parque é 
ponto estratégico no monitoramento internacional de testes nucleares 
clandestinos. 

Entranhada na reserva ambiental, existe uma aparelhagem avaliada em quase US$ 1 
milhão. São 14 estações sismológicas que captam as ondas provocadas por 
terremotos nos diversos cantos do mundo. Uma dessas estações, a infra-sônica, 
foi instalada pela ONU e tem uma missão bem específica: registrar abalos de 
explosões causadas por testes nucleares. A estação PS-07, única no Brasil, faz 
parte de uma rede de 50 espalhadas por todos os continentes. 

O Parque Nacional de Brasília foi considerado um local privilegiado para esse 
tipo de estudo. Uma das vantagens é a proximidade com a Universidade de 
Brasília (UnB) que serve de base para análise e retransmissão de informações. 
Graças ao interesse internacional pelo parque, a UnB recebeu recursos, por meio 
de convênios, e hoje detém conhecimento altamente qualificado sobre abalos 
sísmicos. Mas o crescimento urbano de Brasília começou a atrapalhar as 
pesquisas, e as estações precisarão ser transferidas de lugar. 

Os sensores e as torres de transmissão terão de ser interiorizados na reserva 
ambiental. A necessidade de mudança é resultado do aumento de ruídos na área 
que contorna o Parque Nacional. A ocupação do Lago Oeste e o movimento da 
rodovia da Estrada Parque Contorno (DF-001) estão atrapalhando a captação das 
ondas pelos aparelhos, que têm alta sensibilidade. "É preciso baixo nível de 
ruídos para não atrapalhar os sensores", explica o chefe do Observatório 
Sismológico da UnB, professor Lucas Vieira Barros. 

A UnB vai investir R$ 1 milhão para fazer as adaptações necessárias nas 
estações este ano. Duas que estavam na região limítrofe do parque já foram 
desativadas por causa do crescente ruído na região. E também já houve roubo de 
parte dos equipamentos. "Anos atrás, essa região era isolada. Hoje, o cenário 
mudou. Tivemos de redesenhar a disposição dos aparelhos para garantir a 
eficiência do monitoramento", diz Barros. 

Ponto estratégico 
As primeiras estações no parque foram instaladas pelo Serviço Geológico 
Britânico em 1962. O local foi escolhido porque era isolado, longe de 
atividades humanas. O objetivo, na época, era monitorar particularmente os 
abalos da Cordilheira dos Andes. Uma década depois, os americanos descobriram o 
ponto estratégico e pediram licença ao governo brasileiro para ter também uma 
estação. Para isso, foram assinados convênios com a universidade, que 
impulsionaram a criação do Observatório Sismológico da UnB. É a universidade 
que opera os equipamentos estrangeiros e controla os dados registrados no 
parque. 

A estação infra-sônica instalada pela ONU registra abalos com equipamento 
colocado a cem metros de profundidade. Os dados registrados são transmitidos 
por uma torre de 30 metros para a central de informações na UnB, onde está a 
antena receptora. De lá, os dados são retransmitidos via satélite para central 
da ONU em Viena. O monitoramento é ininterrupto (veja infografia). 

O monitoramento de explosões nucleares faz parte de tratado internacional de 
1996 assinado por 71 países, inclusive o Brasil, com objetivo de coibir testes 
de armas nucleares. Por conta do convênio com a ONU, a UnB recebe US$ 100 mil 
por ano para operar a manter os aparelhos. De outra estação, que faz parte de 
parceria com os Estados Unidos, as informações são transmitidas para a central 
de Albuquerque, nos Estados Unidos, que abastece o Serviço Nacional Americano 
de Informações sobre Terremotos. 

América do Sul 
A UnB instalou e controla 60 estações sismológicas em todo o Brasil, incluindo 
as 12 do Parque Nacional. O arranjo sismográfico de Brasília é o maior da 
América do Sul. Foi capaz de captar o terremoto ocorrido na Ásia ontem. A área 
mais sensível a abalos é nossa vizinha: Mato Grosso. Em 31 de janeiro passado, 
completou 50 anos do maior abalo sísmico do Brasil, com magnitude superior a 
seis. Ocorrido na Serra do Tombador, os tremores foram sentidos até na cidade 
de Cuiabá, a 380 quilômetros do epicentro. Não houve danos na época, porque a 
área atingida era pouco povoada. Cem estações sismográficas no mundo 
registraram o fato. 

Há poucos dias houve outro tremor no Mato Grosso, de 4,7 pontos na escala 
Richter. A região atingida na quarta-feira é conhecida como Vale do Arinos e 
inclui municípios de Porto dos Gaúchos, Novo Horizonte do Norte, Juara e 
Tabaporã. Não foram registradas quedas de casas ou prédios, nem feridos. A UnB 
mantém na região uma estação sismológica porque os abalos são freqüentes. Entre 
1998 e 2002, foram registrados na área três mil abalos. O segundo maior foi em 
1998, com 5,1 de intensidade, no norte do Mato Grosso. 

Anos atrás, essa região era isolada. Hoje, o cenário mudou. Tivemos de 
redesenhar a disposição dos aparelhos para garantir a eficiência do 
monitoramento 

Lucas Vieira Barros, chefe do Observatório Sismológico da UnB 

Barragens de hidrelétricas causam tremores 

O Observatório Sismológico de Brasília se especializou em monitorar abalos 
sísmicos provocados por barragens de hidrelétricas. A grande quantidade de água 
armazenada numa região facilita o rompimento das rochas. Já foram comprovados 
20 casos no Brasil de tremores de terra resultantes de represas. A UnB tem 
convênios com diversas empresas de energia, como Furnas, Itaipu Binacional, 
Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig), Eletrosul, Eletronorte, entre 
outras. 

A equipe do observatório faz análises de risco e acompanha o comportamento das 
barragens. Também assessora a Defesa Civil de diversas cidades que estão em 
áreas sensíveis, como Mato Grosso, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco. 
"Não dá para prever um terremoto. Mas dá para fazer estudo sobre os riscos dele 
acontecer, identificar as áreas mais sensíveis, o efeito que os tremores podem 
causar nos terrenos e, assim, auxiliar na construção civil para que casas e 
edifícios sejam mais resistentes", explica Lucas Barros. 

A cidade de João Câmara, no Rio Grande do Norte, viveu momentos de pânico em 
1986, quando houve tremor de terra de magnitude cinco. Houve danos materiais, 
diversas casas de áreas mais pobres da cidade desabaram. As residências depois 
foram reconstruídas por engenheiros do Exército seguindo normas para deixá-las 
resistentes aos abalos. 

Ampliação de reserva 

O Parque Nacional de Brasília é um patrimônio do meio ambiente que está 
ameaçado, segundo especialistas. Tem sofrido agressões graves nos últimos anos. 
A mudança das estações sismológicas para o interior da reserva reflete a 
pressão sobre os limites da área. O avanço urbano, que ameaça as fronteiras do 
verde, motivou a criação de um movimento pela ampliação do parque. O Ministério 
do Meio Ambiente quer aumentar a reserva em 16 mil hectares. Se a proposta for 
aprovada, ele se tornará o maior parque urbano do mundo. 

"O Parque está em colapso. Está quase completamente sitiado pelo complexo 
urbano. A fauna está confinada e a vegetação fragmentada, ou seja, em processo 
de perda de sua biodiversidade", alerta a engenheira florestal Christiane 
Horowitz, doutora em Desenvolvimento Sustentável. Analista ambiental do Ibama, 
ela trabalha há 20 anos no Parque Nacional. 

De acordo com o Projeto de Lei 4.186/04, enviado pelo Ministério do Meio 
Ambiente ao Congresso, o parque passará de 30 mil hectares para 46 mil 
hectares. Preservar a qualidade de água consumida no Plano Piloto é um dos mais 
fortes argumentos do Ibama para ampliar a reserva. Ela protege mananciais 
hídricos que abastecem a capital. A água da represa Santa Maria, no centro do 
Parque, é consumida por 350 mil brasilienses. Abastece a Asa Sul, Asa Norte, 
Cruzeiro, Sudoeste, Octogonal, Guará I, parte do Lago Sul e Lago Norte. 

Desinformação 
A reserva abriga uma das poucas amostras do bioma cerrado, que ainda remanescem 
no Planalto Central. É a maior zona-núcleo da reserva da biosfera do cerrado 
(fase 1) reconhecida pela Unesco em 1994. No dia 5 de abril, o Ibama realizará 
audiência pública para ouvir a opinião da população sobre o assunto. Na porta 
do parque já estão sendo coletadas assinaturas para o abaixo-assinado em favor 
da ampliação. No entanto, há divergência sobre a proposta. 

O projeto de lei prevê anexar a área da Chapada Imperial, que um grupo de 
pessoas afirma ser área particular e por isso teria de haver desapropriação. O 
governo federal terá de gastar milhões para indenizar os proprietários do 
local, que já promovem turismo ecológico na região. As partes envolvidas alegam 
que a população não está devidamente informada sobre o assunto. E que ainda há 
dúvidas sobre a demarcação das terras que são públicas e das que são 
particulares. (S.S.) 

para saber mais 
País não está livre de abalo 

A idéia propagada por muito tempo de um Brasil essencialmente estável, livre da 
ocorrência de terromotos, é errada. O nosso território está localizado no 
interior de uma placa tectônica e os terremotos tendem a ocorrer em outras 
partes mais frágeis, como as bordas dessas placas. Por isso, os tremores de 
terra aqui são bem mais modestos se comparados ao da região da Cordilheira dos 
Andes. 

Mas os abalos são, sim, significativos, porque já ocorreram vários tremores de 
magnitude acima de cinco, indicando que o risco de terremotos no país não pode 
ser simplesmente ignorado. Acima de magnitude três o tremor já causa danos. Os 
abalos podem surgir em qualquer lugar e a qualquer hora. Os cientistas dizem 
que não é impossível que algum dia um sismo de conseqüência grave possa atingir 
uma cidade brasileira. O terremoto é causado pelo rompimento das placas 
internas por causa de pressão que vem do centro da Terra. 

O número 
Observatório 
14 estações 
sismográficas estão instalados no Parque Nacional de Brasília 

Aparelhos custaram US$ 1 milhão 

3 mil abalos já foram registrados em Mato Grosso 

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