04/07/2005 Carta ao presidente Lula (João Bosco Bittencourt) Como não tenho intimidade alguma com Vossa Excelência – nem sou companheiro – e para não torrar sua paciência, que deve estar curtíssima, vou ser curto e direto. É que essa história de golpe da direita, conspiração das elites, armação daqueles que não se conformam com as mudanças que o PT promove, encheu. Não sou filiado ao PT e ando meio enojado com os últimos acontecimentos. Mas preocupa-me a situação do Brasil. Não posso fazer nada a não ser escrever. Que o governo do PT não mudou quase nada, o senhor já deve ter desconfiado, né? A política econômica segue a mesma cartilha do FHC, a relação com o Congresso é a mesma e o bombardeio da propaganda oficial também. E agora, a bandalheira atual se equipara à antiga. E não dá para ficar parado. Não acha, por exemplo, que está na hora de dar um basta a tudo isso e liderar um choque de sinceridade em toda a sociedade? É, vamos falar a verdade! O presidente, os ministros, os parlamentares, os empresários, enfim, todo mundo, dizer o que sabe, sem restrições. Que os políticos digam, por exemplo, que as campanhas são financiadas de forma ilegal, com dinheiro do caixa 2. Todo mundo sabe disso, presidente. Que os empresários assumam que pagam as campanhas para, posteriormente, obter favores dos eleitos. O senhor duvida disso? Que os funcionários públicos falem que criam milhares de dificuldades para venderem facilidades. Até alunos do jardim da infância sabem disso. Chega de hipocrisia, né? E o PT? Diga que o partido não é diferente dos outros. Pare com essa história de que vocês são diferentes. Diga também que esta tal governabilidade afunda qualquer governo. Que a grande maioria dos políticos troca apoio por favores pessoais. E que os partidos apenas interpretam os papéis de oposição e situação, não interessando os reais interesses da população. O Roberto Jefferson é complicado, mas não está mentindo. Presidente, a coisa está preta!(mesmo sendo politicamente incorreto). Olhe, meu medo é que apareça um louco aí na próxima eleição propondo o fechamento do Congresso e outras maluquices ditatoriais e o povo embarque na canoa. Porque está tudo muito desmoralizado. Tudo em decomposição. Fica difícil acreditar em alguém. Todos estão sob suspeita e, em vez de abrir o peito e encarar a situação, monta-se um teatro. Tenho mais coisas a dizer, mas sei que seu tempo é curto. Sei que toma tempo ver os jogos do Corinthians, viajar, fazer a festa julina e, nos intervalos, governar o País. Termino, então, esta carta com um apelo. Na sua eleição, a esperança venceu o medo. Não deixe agora a malandragem vencer a esperança. Um abraço! PS.: Esta ajudazinha aqui vai de graça, tá? Nem precisa me incluir na lista do mensalão. João Bosco Bittencourt é diretor de Redação e escreve neste espaço aos domingos. Publicado na edição de ontem do Diário da Manhã, de Goiás