:::Nefelibatas::: D. Mainardi na Câmara

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  • Date: Wed, 5 Oct 2005 09:28:49 -0300

Pensadores 

 O jornalismo covarde de
Veja e o silêncio profissional
Por Renato Rovai <mailto:rovai@xxxxxxxxxxxxxxxxxxx>  

Vi esse Mainardi, que mentiu na sua coluna, como um ratinho, encostado no fundo 
do plenário, por horas, falando baixinho e olhando pro chão. Parecia ter medo 
que alguém lhe fosse cobrar honestidade ou coisa do gênero.

Há algum tempo a revista Veja vem se esmerando em publicar pseudo-reportagens 
que desancam personalidades públicas, movimentos sociais e partidos políticos 
que tenham qualquer viés progressista e de esquerda. Para isso, vale tudo. 
Porque isso é liberdade de imprensa, sustentam seus editores.

Na edição (1.925) desta semana, Veja decidiu fulanizar o debate a respeito do 
desarmamento fazendo de sua capa um cartaz pelo voto no "não". 
<http://www.novae.inf.br/pensadores/veja_invencoes_elite.htm> 

Entre os "sensacionais" argumentos para defender tal tese, o panfleto semanal 
dos Civita diz que "Antonio Gramsci, fundador do Partido Comunista Italiano, 
listou o desarmamento da população entre as providências essenciais para 
garantir o controle totalitário" e que "Hitler desarmou os alemães e os povos 
dos países ocupados, mas distribuiu armas entre milícias fiéis ao regime". 
Ainda: "Nas zonas rurais brasileiras, longe dos postos policiais, [as armas] 
servem para sitiantes e fazendeiros defenderem suas propriedades de assaltos, 
invasões do MST e dos ataques de animais predatórios a seus rebanhos e 
criações. É por isso, com certeza, que os sem-terra apóiam o desarmamento". 
Evidente que não vale a pena polemizar com argumentos de impressionante nível, 
mas por outro lado, é preciso começar a fazer algo para combater esse tipo de 
jornalismo farsante e sangue azul de Veja.

Quem perde credibilidade com isso não é só o veículo. Ao aceitar 
silenciosamente que o senhorio use a seu bel-prazer um título, desconsiderando 
os princípios legítimos que permitem recortes de posicionamento à publicação, 
mas não autorizam a invenção pura e simples de aspas ou teses, quem perde mais 
é o profissional jornalista.

É por isso que me darei ao trabalho de tratar de dois exemplos desta edição, 
deixando de lado a aberração maior que foi a capa pelo não ao desarmamento. 

Quando um Otávio Cabral compara membros do governo à turma do Sítio do Pica Pau 
Amarelo e escreve assim: "o governo vendeu a mãe, o pai e a mulher no primeiro 
turno", descreveu um dos coordenadores da campanha de Rebelo, num surto de 
franqueza. "No segundo turno, ofereceu a irmã mais nova." Não só ele se 
demoraliza. Ridicularizamo-nos todos. Se esse Otávio Cabral tem coragem de 
assinar uma matéria cujo enredo é ridicularizar personalidades públicas sem o 
menor constrangimento e direito à defesa para as partes envolvidas, por que não 
publicaria o nome de um "dos coordenadores da campanha de Rebelo". Explico: 
porque inventou a frase para dar suporte ao texto. 

Da mesma forma como faz Diogo Mainardi, na mesma edição. Ele conta sua viagem a 
Brasília e narra a cobertura da eleição da presidência da Câmara e, ao fim, 
registra: "Aldo Rebelo acaba de ser eleito. Os mensalistas atiram-no para o 
alto. Todos os deputados com quem falei hoje - foram mais de trinta - o 
consideram um perfeito idiota. Por isso estão tão felizes. Por isso não o 
deixam se espatifar no chão".

Por que a covardia de Mainardi não lhe permite dar nome àqueles que consideram 
Aldo um perfeito idiota? Porque mente. Ele não só não ouviu isso de trinta 
deputados, vou além, nem falou com quinze enquanto por lá esteve. Por motivos 
óbvios, eu e tantos outros colegas jornalistas, também estávamos em Brasília no 
dia das eleições da Câmara. Espero que outros também o digam. Vi esse Mainardi 
como um ratinho, encostado no fundo do plenário, por horas, falando baixinho e 
olhando pro chão. Parecia ter medo que alguém lhe fosse cobrar honestidade ou 
coisa do gênero. Algo ridículo. Deu umas zanzadas pelo salão verde e voltou 
para o seu esconderijo. Depois dessa sensacional "missão jornalística", foi 
para o seu laptop e "corajosamente" escreveu aquilo que o chefe adoraria ler. E 
ofendeu a quem o chefe gostaria de ofender. Sem ter compromisso com o real, só 
com sua corajosa missão de agradar a quem lhe garante a coluna.

Esse jornalismo farsante e sangue-azul de Veja não atenta apenas contra os 
valores da democracia e da ética profissional. Ele ainda abre o caminho para 
que outros veículos passem a fazer o mesmo e expõe ao ridículo a imprensa 
enquanto instituição e o jornalismo como profissão. Os tiros do padrão Veja de 
jornalismo estão sendo dados enquanto o silêncio acomodado da maior parte dos 
jornalistas segue impávido. Parece que é assim mesmo, que faz parte do jogo. 
Não é. Não se pode deixar que seja. Os profissionais mais jovens ainda merecem 
um desconto. Os mais experientes, calados, são cúmplices. Estão ajudando a 
desmoralizar a profissão. E pagaremos todos por isso.

Renato Rovai é jornalista e editor da revista Fórum 
<http://www.revistaforum.com.br/> 

Qual a sua opinião sobre este assunto? 
<http://www.novae.inf.br/manifestese/index.htm> 

09.2005

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