05/07/2005 Como Lula pode resistir à crise (Murillo de Aragão) Com amigos como Dirceu, Genuíno, Delúbio e Silvinho. E aliados como Jefferson, Valério, PL, PP e PTB o governo Lula naufragou politicamente. Salvou-se pela credibilidade pessoal – já danificada – e pelo controle da economia. Imaginem se o país estivesse vivendo um ataque especulativo? Dólar subindo acima de R$3,50, investidores abandonando o Brasil, governo tendo que buscar o apoio do FMI. Seria um cenário catastrófico para Lula. Graças a Deus, à condução da política econômica, ao ambiente externo favorável e, finalmente, à confiança existente nas instituições políticas, o Brasil atravessa a crise política sem danos maiores. Poderia ser bem pior. Muito pior. Considerando o quadro econômico e internacional, Lula pode reagir e retomar o comando do governo. Para tal deve tomar medidas duras, contrariar amigos e testar suas qualidades de líder. Neste momento, Lula depende de três fatores para sobreviver. Da sua capacidade de se reinventar, da possibilidade de reabrir os entendimentos com a oposição e da manutenção da blindagem de Palocci. Depende, ainda, do não aparecimento de fato comprometedor que o envolva diretamente. Caso apareça algo realmente constrangedor a presente avaliação deixa de ter validade. Para se reinventar, Lula precisa tomar medidas duras que contrariem seus amigos e aliados. Afastar Genuíno, Delúbio e Silvinho da direção do PT, adiar as eleições para a presidência do partido marcadas para outubro e afastar os petistas incompetentes do governo. São muitos. Deve, ainda, reduzir dramaticamente o número de ministérios e de cargos de confiança. O eixo do eventual apoio das oposições a Lula está fundamentado em três pilares: investigações justas, manutenção da estabilidade econômica e respeito ao jogo democrático. Com base nesses pilares, Lula deve buscar a reabertura de entendimentos com a oposição. Quem sabe buscar FHC e estabelecer um pacto de governabilidade em torno de uma agenda mínima de reformas. A crise política se apresenta como uma bela oportunidade para as reformas. Lula deve aumentar a blindagem de Palocci para que o país não seja atacado por uma onda especulativa. A proposta do déficit zero em seis anos é excelente para aumentar a credibilidade do país. Se o Brasil bobear, o mercado leva nos dólares em algumas semanas. Como nos episódios pré-desvalorização. No limite, Lula depende de Palocci, de FHC e dele mesmo. Seus amigos o deixaram na mão com tantas incompetências e inconveniências. Agora é hora de ele agir por si, sacrificar quem o traiu, aprofundar o lado bom do governo e ter uma postura de estadista. Ainda bem que o mercado não está dando bola para a crise. Com a condução responsável das políticas fiscal, monetária e cambial, Lula conseguirá atravessar a crise política sem ter que se preocupar muito com eventuais ataques especulativos. Sua popularidade ainda resiste. Porém, uma pesquisa divulgada pela revista Época neste fim de semana revela que, para o eleitorado paulista, Lula perderia para Geraldo Alckmin em 2006. Sem reagir adequadamente, o presidente poderá se transformar num fantasma e comprometer suas chances em 2006. Todos devem reconhecer que Lula tem uma admirável resistência à crise política. Mesmo com ela rondando a sua ante-sala há mais de um mês. No entanto, sua blindagem poderá não resistir. É hora de reagir com uma reforma ministerial que não decepcione e com a reabertura dos entendimentos com a oposição em torno de uma agenda em favor do país. Murillo de Aragão é cientista político NickeLeus L. P. Zemborian Presidente do P.R.F