__________Nefelibatas Provocadores__________
É, parece que não melhorou tanto assim...
Agências Internacionais
From: ANALISTAS2002@xxxxxxxxxxxxx Reply-To: niquele.siqueira@xxxxxxxxxxxxx To: <analistas2002@xxxxxxxxxxxxx> Subject: [Nefelibatatinhas] Será? Date: Wed, 29 Dec 2004 10:27:44 -0200
Será?O mundo do Krakatoa melhorou
ELIO GASPARI
Omundo melhorou, e muito. Entre a hora em que o vulcão Krakatoa explodiu (10h02m de 27 de agosto de 1883) e o momento em que o cônsul inglês Alexander Cameron terminou seu relatório ao conde de Granville, em Londres, passaram-se cinco dias. Cameron percebeu que estava diante de uma das ?maiores calamidades do século?. Uma ilha sumira do mapa, numa explosão que provocara o maior estrondo dos tempos modernos. Quatro tsunamis, um deles da altura de um prédio de dez andares, varreram três cidades e 165 vilarejos das costas de Java e Sumatra (cerca de dois mil quilômetros ao sul do epicentro do terremoto de domingo). Morreram 36 mil pessoas.
O cônsul Cameron consumiu cinco linhas referindo-se ao sumiço de ?milhares de nativos?. Tratou da falta de forragem para o gado. Comida para os bípedes, nem uma palavra. O mesmo aconteceu com o agente da seguradora Lloyd?s. Semanas depois, quando chegou o socorro do governo holandês, atenderam-se primeiro às necessidades dos comerciantes europeus. Dois meses depois da explosão um soldado foi esfaqueado enquanto comprava fumo no mercado. Pouco depois, outra adaga mostrou à Europa que Java não era mais a mesma. Começava uma revolta rural islâmica que hoje se confunde com a independência da Indonésia, obtida em 1949.
O mundo melhorou muito porque entre o momento em que o tsunami lanhou a Ásia e o instante em que se percebeu o tamanho do desastre de domingo passaram-se menos de cinco minutos. Cinco horas depois já estavam mobilizados voluntários de dezenas de países, levando toneladas de alimentos, milhões de dólares e o sentimento do mundo para aquele pedaço de tragédia. Por maior que seja a pobreza do litoral atingido, desapareceu do mundo a noção de ?nativos?, tão cara aos ingleses do século XIX. Por mais ineptos que sejam os baronetes dos países atingidos, dezenas de organizações não governamentais dão à ajuda internacional uma inédita legitimidade.
Em 1883 não havia como fazer chegar ajuda às praias de Java a tempo de salvar as vítimas de epidemias e da fome. Também não havia grande interesse em fazê-lo. O mundo globalizado do fim do século XIX debruçou-se sobre o caso do Krakatoa por conta do desconforto científico que os cataclismos parecidos com o fim do mundo costumam estimular.
Com a ajuda de Iemanjá, a ONU pode transformar a tragédia asiática numa ressurreição de sua bandeira azul-celeste. Já se foi o tempo em que os Estados Unidos podiam socorrer os flagelados com navios-hospital e voluntários de organizações semigovernamentais. Em 1966, quando uma barragem do Rio Arno rompeu-se e a cidade de Florença foi inundada por um aluvião, jovens de toda a Europa acorreram para a relíquia enlameada e salvaram uma parte do acervo da Biblioteca Nacional e do porão do museu dos Uffizi. Coisa parecida pode se repetir na Ásia.
É possível que esteja se formando um dos maiores movimentos de solidariedade da História. Se isso acontecer, 2004 terá terminado mal, mas 2005 terá começado da melhor maneira possível.
? Serviço. A fonte mais recente para a explosão de 1883 é ?Krakatoa ? The Day the World Exploded?, do geólogo Simon Winchester, publicado nos Estados Unidos no ano passado. Ele pode ser sapeado no seguinte endereço da Amazon Books:
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ELIO GASPARI é jornalista.
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