*Para os neopanglossianos...* O Brasil melhorou? <http://blog.estadao.com.br/blog/claudia?title=o_brasil_melhorou&more=1&c=1&tb=1&pb=1> por *Cláudia Trevisan *(colunista do Estadão) O Brasil se tornou uma das coqueluches dos mercados internacionais e não há seminário no qual o país não receba elogios de economistas encarregados de aconselhar os endinheirados do mundo. Cada vez que escuto essas análises, me pergunto o quanto a vida real dos milhões de brasileiros realmente melhorou. Estive em São Paulo há um mês e a sensação é a de que todos os dramas cotidianos continuavam intactos: a escandalosa desigualdade de renda, a pobreza gritante e a violência que paira sobre todos. *Sei que a renda aumentou e a desigualdade diminuiu, mas a distância que estamos de um patamar minimamente decente é tão grande que o país não poderia se dar ao luxo de não ter um sentido de urgência para enfrentar essas questões. * Na semana passada estive em Dalian, cidade do nordeste da China, para cobrir o encontro de verão do *Fórum Econômico Mundial *_que realiza sua reunião mais célebre em Davos, na Suíça, durante o inverno europeu. *O Brasil foi um dos destaques positivos do relatório sobre competividiade da instituição,*que basicamente mede a capacidade dos países de crescerem de maneira sustentável e eficiente e, assim, melhorarem a renda e a qualidade de vida de seus habitantes. *O Brasil subiu impressionantes oito posições e foi apontado como uma das nações que devem sofrer menos com a crise atual*, ao lado de China e Índia, que tiveram melhoras mais modestas no ranking, de apenas uma posição. Mesmo com o salto, o Brasil está em 56º lugar em um universo de 133 países pesquisados, atrás da China (29º) e da Índia (49º). Entre os BRICs, só a Rússa aparece em pior posição, 63ª. *Mas o que chama atenção na performance brasileira são os setores onde o país NÃO melhorou ou avançou muito pouco: educação primária, saúde e segurança*, essenciais para mudar a maneira como a população experimenta sua vida cotidiana. Todas são áreas básicas, sem as quais o Brasil não poderá ir muito longe, por mais sofisticado que seja seu sistema financeiro e seu mercado de capitais. *No quesito saúde e educação primária, o Brasil permaneceu na mesma posição em que estava no ano passado, a 79ª em um universo de 133, atrás de países como México (65), Malásia (34), Tailândia (61) e Colômbia (72)*. Entre os BRICs, o Brasil está atrás da China (45) e da Rússia (51), ganhando apenas da Índia (101). *O país aparece em 93º lugar no item segurança, dentro do qual o “crime organizado” nos coloca em 111º*. Como disse a economista Jennifer Blanke, uma das autoras do trabalho,* o Brasil melhorou em áreas mais sofisticadas e avançou pouco ou nada nas mais elementares*. *O país ficou em 91º nos chamados “requisitos básicos”, que englobam instituições, infraestrutura, estabilidade macroeconômica e saúde e educação primária*. É a pior posição entre os integrantes dos BRICs _a China aparece 36º lugar, a Rússia em 64º e a Índia em 79º. “É difícil avançar no resto sem melhorar a qualidade da educação primária”, disse Blanke. *O país também não avançou no quesito “educação superior”*, ainda que registre posição mais alta, 58ª, a mesma que ocupava no ano passado. No item “ética e corrupção” amargamos a 125º posição, o que deixa apenas sete países em situação pior. A ineficiência do poder público é outro flanco aberto, no qual estamos na 120º posição. Os terrenos onde o Brasil avançou são importantes, mas estão a anos luz de distância dos moradores da favela de Heliópolis, em São Paulo, ou da Rocinha, no Rio. *No item “mercados financeiros”, o país escalou 13 posições, para o 51º lugar, enquanto o uso de tecnologia subiu 10 pontos, para a 46ª posição. * Outra área em que o Brasil saltou 13 posições foi a “estabilidade macroecômica”, que inclui o tamanho da dívida pública em relação ao PIB, déficit público e inflação. Mas mesmo com a melhoria, nós estamos na 109ª posição, com apenas 24 países em situação pior.