[CamaraDas] Opiniões

  • From: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • To: "CamaraDas" <analistas2002@xxxxxxxxxxxxx>
  • Date: Wed, 3 May 2006 09:10:24 -0300

CLÓVIS ROSSI 

Evo tem o direito até de errar 
SÃO PAULO - A nacionalização do gás boliviano pode ser certa ou errada, 
conforme o gosto de cada qual, mas tem um aspecto que precisa ser ressaltado: 
trata-se de cumprimento de contrato, coisa que os liberais, hoje hegemônicos, 
sempre exigem.


Que contrato? O contrato entre candidato e eleitor, que deveria ser sagrado na 
democracia. Evo Morales prometeu, na campanha, nacionalizar os recursos 
minerais. O eleitorado "comprou" a promessa e lhe deu a vitória. Está agora 
fazendo apenas o que prometeu.


Democracia é assim. Pena que parte dos que se dizem democratas só gosta de quem 
cumpre as promessas que lhes agradam. Enamoraram-se, por exemplo, de Luiz 
Inácio Lula da Silva porque tudo o que prometeu em 23 anos de vida partidária 
-e que desagradava ao liberalismo- virou "bravata" depois de eleito. É assim 
que começa a corrupção. Pela corrupção da palavra empenhada.


Outra tremenda falta de coerência é atacar a Petrobras por ter investido na 
Bolívia e, agora, correr o risco de perder tudo (ou muito).


O credo liberal não mandava criar transnacionais tupiniquins para competir no 
mercado global? A Petrobras investiu. E trouxe ao Brasil gás a um preço 
bastante interessante: US$ 2 o milhão de metros cúbicos, que, na Califórnia, 
por exemplo, custa de US$ 12 a US$ 15 -ou de seis a sete vezes mais. O negócio, 
na era contemporânea, não é fazer negócios? Pois é, a Petrobras fez, surfando 
na onda de privatizações que marcou a América Latina nos anos 90.


O único probleminha é que o negócio do gás deu lucro para as empresas, mas não 
serviu para alterar a situação de extrema miséria da maioria, o que acabou 
sendo o combustível para as mobilizações populares que levaram ao solo 
sucessivos governos e ao poder Evo Morales.


Agora, ele quer tentar melhorar a vida de sua gente usando os recursos do gás 
na mão do Estado. O passado mostra que não é exatamente o melhor caminho, mas 
ele tem todo o direito de tentar. 



ELIO GASPARI 

A diplomacia do trivial delirante 
É do chanceler Celso Amorim o qualificativo "nosso guia" para designar a 
clarividência diplomática de Lula. Bajulá-lo, elevando-o à condição de líder 
mundial, faz parte do ritual de oferendas-companheiras. O senador Aloizio 
Mercadante, por exemplo, escreveu que "não há líder no planeta que não queira 
se reunir com ele para trocar idéias e percepções sobre a construção do 
futuro". "Em nossa região, a maioria dos chefes de Estado busca seu conselho." 
Será que foi o caso de Evo Morales?


O pior é que Lula acredita nessas coisas. Rege uma política externa esportiva 
no método, exibicionista no ritual e desastrosa nos resultados. Nunca, desde 
que os obás Osenwede, do Benin, e Osinlokun, de Lagos, tornaram-se os primeiros 
chefes de Estado a reconhecer a nação brasileira, Pindorama andou tão 
encrencada nas relações com seus vizinhos. O Brasil se distanciou de quem 
deveria se aproximar (Argentina e Chile) e aproximou-se de quem devia se 
distanciar (Venezuela e Cuba). 

Perdeu tempo com países inúteis (Namíbia e Gabão) e oportunidades com aliados 
tradicionais (Uruguai e Paraguai).
Quando o secretário de Estado George Marshall chamou o embaixador George Kennan 
para planejar a recuperação da economia européia, pediu-lhe: "Evite as 
trivialidades". Lula faz o contrário: persegue uma autoglorificação trivial. 
Meteu-se a cabo eleitoral na eleição boliviana e associou-se a Evo Morales, que 
confisca o patrimônio de empresas brasileiras. Decidiu capturar a presidência 
da Organização Mundial do Comércio e seu chanceler desqualificou o candidato 
uruguaio. Atropelou na direção de uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU e 
até hoje está em pé. A diplomacia fominha estimulou a galhofa do presidente 
argentino Néstor Kirchner, para quem Lula tinha candidato até a papa. (Era d. 
Cláudio Hummes.) Saiu pelo mundo articulando um imposto contra a pobreza. 
Resultou que a patuléia brasileira corre o risco de pagar taxas de embarque 
mais caras nos seus vôos internacionais. O presidente americano George Bush já 
disse que não aceita esse tipo de tunga em cima de seu povo miserável.


Pode-se fixar com precisão a ocasião em que Lula jogou no mar a oportunidade de 
desempenhar um papel politicamente relevante nas negociações internacionais. 
Ela se deu em janeiro do ano passado, quando a Argentina saiu sozinha brigando 
pela reestruturação de sua dívida externa. Pressionado pela servidão 
cosmopolita da ekipekonômika, "nosso guia" foi incapaz de oferecer aos 
argentinos o conforto da cortesia. Pelo contrário, muita gente boa do governo 
brasileiro saiu a futricar pelos salões de Washington, defendendo a banca. 
Achavam que a reestruturação fracassaria. Deu certo.
Enquanto "nosso guia" acredita que redesenha o mapa geopolítico do mundo, o 
Mercosul (herança maldita do tucanato) vai a pique, comido pela borda por uma 
teia de acordos bilaterais da diplomacia comercial americana. Encantado com a 
política externa dos grandes empreiteiros, ratificou uma irresponsável 
dependência do gás boliviano. Não bastaram os confiscos de Saddam Hussein nos 
anos 80, os calotes da cleptocracia africana nos anos 90, muito menos as 
roubalheiras angolanas de hoje.

GIF image

Other related posts:

  • » [CamaraDas] Opiniões