[CamaraDas] Para não esquecer

  • From: João Marcos <jmcantarino@xxxxxxxxx>
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  • Date: Wed, 11 Nov 2009 17:06:26 -0200

Artigo de Augusto Nunes na Veja Online.


*Anotações para uma reedição da história universal da infâmia*

Em novembro de 1984, por não enxergar diferenças entre Paulo Maluf e
Tancredo Neves, o Partido dos Trabalhadores optou pela abstenção no Colégio
Eleitoral que escolheria o primeiro presidente civil depois do ciclo dos
generais. Em janeiro de 1985, por entenderem que não se tratava de um
confronto entre iguais, três parlamentares do PT ─ Airton Soares, José Eudes
e Bete Mendes ─ votaram em Tancredo. Foram expulsos pela direção.

Em 1988, num discurso em Aracaju, o deputado federal Luiz Inácio Lula da
Silva qualificou o presidente José Sarney de “o grande ladrão da Nova
República”. No mesmo ano, a bancada do PT na Constituinte rejeitou o texto
da nova Constituição.

Em 1989, derrotados no primeiro turno da eleição presidencial, Ulysses
Guimarães, candidato do PMDB, e Mário Covas, do PSDB, declararam que
ficariam ao lado de Lula na batalha final contra Fernando
Collor. Imediatamente recusado, o apoio acabou aceito por insistência dos
parceiros repudiados. Num comício em frente do estádio do Pacaembu, Ulysses
e Covas apareceram no palanque ao lado do candidato do PT. Foram vaiados
pela plateia companheira.

Em 1993, a ex-prefeita Luiza Erundina, uma das fundadoras do partido,
aceitou o convite do presidente Itamar Franco para assumir o comando de um
ministério. Foi expulsa. Em 1994, ainda no governo de Itamar Franco, os
parlamentares do PT lutaram com ferocidade para impedir a aprovação do Plano
Real. No mesmo ano, transformaram a revogação da providencial mudança de
rota na economia numa das bandeiras da campanha presidencial.

Entre o começo de janeiro de 1995 e o fim de dezembro de 2002, a bancada do
PT votou contra todos os projetos, medidas e ideias encaminhados ao
Legislativo pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Todos, sem exceção. Uma
das propostas mais intensamente combatidas foi a que instituiu a Lei de
Responsabilidade Fiscal.

Em janeiro de 1999, mal iniciado o segundo mandato de Fernando Henrique, o
deputado Tarso Genro, em nome do PT, propôs a deposição do presidente
reeleito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. O
lançamento da campanha com o mote “Fora FHC!” foi justificado por acusações,
desacompanhadas de provas, que Tarso enfeixou num artigo publicado pela *Folha
de S. Paulo. *Trecho: *Hoje, acrescento que o presidente está pessoalmente
responsabilizado por amparar um grupo fora da lei, que controla as finanças
do Estado e subordina o trabalho e o capital do país ao enriquecimento
ilegítimo de uns poucos. Alguns bancos lucraram em janeiro (evidentemente,
por ter informações privilegiadas) US$ 1,3 bilhão, valor que não lucraram em
todo o ano passado! *

O que diriam Tarso, Lula e o resto da companheirada se tal acusação,
perfeitamente aplicável ao atual chefe de governo, fosse subscrita por
alguém do PSDB, do DEM ou do PPS? Coisa de traidor da pátria, inimigo da
nação, gente que aposta no quanto pior, melhor, estariam berrando todos.
“Tem gente que torce pra que tudo dê errado”, retomaria Lula a ladainha
entoada há quase sete anos.

Faz sentido. Desde a ressurreição da democracia brasileira, a ação do PT
oposicionista foi permanentemente orientada por sentimentos menores, miúdos,
mesquinhos. É compreensível que os Altos Companheiros acreditem que todos os
políticos são movidos pelo mesmo combustível de baixíssima qualidade.

Desfigurado pela metamorfose nauseante, o chefe de governo não teria sossego
se o intratável chefe da oposição ainda existisse. O condutor do rebanho não
tem semelhanças com o Lula do século passado, mas continua ouvindo o som dos
balidos aprovadores. O caçador de gatunos hoje é padroeiro da quadrilha
federal. O parlamentar que recusou a conciliação proposta por Tancredo é o
presidente que se reconcilia com qualquer abjeção desfrutável. O moralizador
da República presidiu e abafou o escândalo incomparável do mensalão.

Mas não admite sequer criticas formuladas sem aspereza pelo antecessor que
atacava com virulência. É inveja, Lula deu de gritar agora. O espelho
reflete o contrário. Nenhum homem culto prefere ser ignorante, nenhum homem
educado sonha com a grosseria, gente honrada não quer conversa
com delinquentes.

Lula não esquece que foi derrotado por FHC duas vezes, ambas no primeiro
turno. E sabe que o vencedor nunca inveja o vencido.

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