[CamaraDas] Para que servem sete trilhões de dólares - Eduardo F. Silva

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  • Date: Fri, 13 Mar 2009 11:56:43 -0300

Com a devida autorização do autor, encaminho para a o grupo o texto abaixo:

*Uma saída para a crise ou para que servem sete trilhões de dólares?*

*Eduardo Fernandez Silva
Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados
Área IX - Economia e Desenvolvimento Econômico
Março de 2009
*

Sete trilhões de dólares foi quanto os governos despejaram para sustentar os
mercados até janeiro último, disse, em Davos, o Primeiro Ministro inglês. Os
analistas acreditam que ainda mais dinheiro será necessário, principalmente
para resolver o problema do dito “lixo tóxico”  - curioso eufemismo para não
dizer “os efeitos da imprevidência dos gestores dos mercados financeiros”.
Assim, mais dinheiro será necessário. O Assessor Especial do Obama, Lawrence
Summers, em entrevista ao Financial Times de 09/03/08, propôs que os
governos injetem mais dinheiro na economia de maneira coordenada, para
reforçar a demanda e tirar o mundo da recessão. Convém indagar, pois, como
poderiam ser aplicados tais recursos. Aliás, o Presidente Lula, parece,
levará à próxima reunião do G20 proposta de um plano global para redução da
pobreza como forma de combater a crise. Se as duas propostas se somarem,
possivelmente teremos um caminho para sair da crise.
Vejamos, então, o que significam sete trilhões de dólares.
A população do planeta é hoje da ordem de seis bilhões de humanos, que
enfrentam riscos a sua sobrevivência como espécie e organizam-se em
famílias, cujo tamanho médio fica entre quatro e cinco indivíduos. Há, pois,
cerca de 1,34 bilhões de famílias na Terra. Se o dinheiro injetado “nos
mercados” – outro eufemismo – fosse dado, no montante de dez mil dólares
para cada família, uma de cada duas seria beneficiada. Digamos que tais
recursos fossem dados aos mais pobres, e não aos mais ricos, como tem
ocorrido com os planos de combate à crise até agora divulgados.
Com tal grana, esse grupo de metade das famílias de humanos poderia
construir casas, comprar remédios, pagar escolas, comprar roupas,
eletrônicos e até mesmo poupar, contribuindo para restaurar o crédito e,
acompanhado das medidas institucionais adequadas, criar um novo sistema
financeiro. A lista de compras, aliás, seria tão vasta e em tal montante
que, muito provavelmente, o desemprego desapareceria rapidamente e os
governos teriam até mesmo que buscar alternativas para evitar um surto
inflacionário.
Porém, as melhorias na saúde, habitação, educação, vestuário e segurança que
cada família poderia obter, com o dinheiro recebido, ativaria os mercados de
produção locais e implicaria, no futuro próximo, aumento de receita pública
e queda dos gastos governamentais provavelmente suficientes para
reequilibrar as finanças públicas.
Assim, o mito de que tal alternativa é inviável deve cair, como caíram os
mitos da eficiência e autoregulação dos mercados. Também deve ser revista a
noção keynesiana de que o governo deve injetar recursos para reativar a
economia; importância no mínimo igual deve-se dar à questão de onde, em que,
para que e para quem o governo injeta dinheiro.
Além disso, os humanos poderiam usar a oportunidade para redefinir os rumos
do seu desenvolvimento, ao invés de buscar restaurar* “um sistema para o
crescimento que depende de nós construirmos mais e mais lojas para vender
mais e mais coisas produzidas em mais e mais fábricas na China, movidas a
mais e mais carvão que causa mais e mais mudanças climáticas para que a
China ganhe mais e mais dólares para comprar títulos dos EUA para que este
tenha mais e mais dinheiro para construir mais e mais lojas para vender mais
e mais coisas que empregarão mais e mais chineses ......” *(Friedman,
Thomas, The New York Times, 07/03/08, com adaptações).
Ainda há tempo para as mudanças, que são imperiosas e ainda mais amplas do
que aqui sugerido; haverá lideranças capazes de botar os guizos nos gatos e
mobilizar populações para promovê-las?

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