Com a devida autorização do autor, encaminho para a o grupo o texto abaixo: *Uma saída para a crise ou para que servem sete trilhões de dólares?* *Eduardo Fernandez Silva Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados Área IX - Economia e Desenvolvimento Econômico Março de 2009 * Sete trilhões de dólares foi quanto os governos despejaram para sustentar os mercados até janeiro último, disse, em Davos, o Primeiro Ministro inglês. Os analistas acreditam que ainda mais dinheiro será necessário, principalmente para resolver o problema do dito “lixo tóxico” - curioso eufemismo para não dizer “os efeitos da imprevidência dos gestores dos mercados financeiros”. Assim, mais dinheiro será necessário. O Assessor Especial do Obama, Lawrence Summers, em entrevista ao Financial Times de 09/03/08, propôs que os governos injetem mais dinheiro na economia de maneira coordenada, para reforçar a demanda e tirar o mundo da recessão. Convém indagar, pois, como poderiam ser aplicados tais recursos. Aliás, o Presidente Lula, parece, levará à próxima reunião do G20 proposta de um plano global para redução da pobreza como forma de combater a crise. Se as duas propostas se somarem, possivelmente teremos um caminho para sair da crise. Vejamos, então, o que significam sete trilhões de dólares. A população do planeta é hoje da ordem de seis bilhões de humanos, que enfrentam riscos a sua sobrevivência como espécie e organizam-se em famílias, cujo tamanho médio fica entre quatro e cinco indivíduos. Há, pois, cerca de 1,34 bilhões de famílias na Terra. Se o dinheiro injetado “nos mercados” – outro eufemismo – fosse dado, no montante de dez mil dólares para cada família, uma de cada duas seria beneficiada. Digamos que tais recursos fossem dados aos mais pobres, e não aos mais ricos, como tem ocorrido com os planos de combate à crise até agora divulgados. Com tal grana, esse grupo de metade das famílias de humanos poderia construir casas, comprar remédios, pagar escolas, comprar roupas, eletrônicos e até mesmo poupar, contribuindo para restaurar o crédito e, acompanhado das medidas institucionais adequadas, criar um novo sistema financeiro. A lista de compras, aliás, seria tão vasta e em tal montante que, muito provavelmente, o desemprego desapareceria rapidamente e os governos teriam até mesmo que buscar alternativas para evitar um surto inflacionário. Porém, as melhorias na saúde, habitação, educação, vestuário e segurança que cada família poderia obter, com o dinheiro recebido, ativaria os mercados de produção locais e implicaria, no futuro próximo, aumento de receita pública e queda dos gastos governamentais provavelmente suficientes para reequilibrar as finanças públicas. Assim, o mito de que tal alternativa é inviável deve cair, como caíram os mitos da eficiência e autoregulação dos mercados. Também deve ser revista a noção keynesiana de que o governo deve injetar recursos para reativar a economia; importância no mínimo igual deve-se dar à questão de onde, em que, para que e para quem o governo injeta dinheiro. Além disso, os humanos poderiam usar a oportunidade para redefinir os rumos do seu desenvolvimento, ao invés de buscar restaurar* “um sistema para o crescimento que depende de nós construirmos mais e mais lojas para vender mais e mais coisas produzidas em mais e mais fábricas na China, movidas a mais e mais carvão que causa mais e mais mudanças climáticas para que a China ganhe mais e mais dólares para comprar títulos dos EUA para que este tenha mais e mais dinheiro para construir mais e mais lojas para vender mais e mais coisas que empregarão mais e mais chineses ......” *(Friedman, Thomas, The New York Times, 07/03/08, com adaptações). Ainda há tempo para as mudanças, que são imperiosas e ainda mais amplas do que aqui sugerido; haverá lideranças capazes de botar os guizos nos gatos e mobilizar populações para promovê-las?