[CamaraDas] Quem é Lúcio Flávio Pinto - Caros Amigos

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  • Date: Fri, 15 Sep 2006 11:21:30 -0300

Abaixo, entrevista da Caros Amigos com Lúcio Flávio Pinto.
 
Nosso entrevistado é um homem gentil e de aspecto grave, daquele tipo de 
repórter investigativo que não se faz mais. Durante três horas de conversa, 
ficou claro porque o jornalista e sociólogo Lúcio Flávio Pinto, 54 anos, vive 
há quase duas décadas sob a pressão de vários processos judiciais. O motivo? 
Escrever em seu Jornal Pessoal, formato tablóide, com tiragem de 2 mil 
exemplares, o que ninguém mais tem coragem de publicar sobre os principais 
conflitos da região amazônica, como a grilagem de terra, a exploração ilegal de 
madeira e a conivência do Judiciário com esses delitos. " Antes o grileiro 
tinha o seu parceiro no 38. Hoje os grileiros descobriram que o Judiciário, por 
desconhecimento, insensibilidade, omissão ou conivência, é o principal parceiro 
do grileiro na Amazônia". 

Ganhador de quatro prêmios Esso, dois da Fenaj (Federação Nacional dos 
Jornalistas Profissionais), e o maior prêmio jornalístico da Itália (o prêmio 
Colombe d ' Oro per la Pace), percorreu, ao longo de 38 anos de profissão, 
diversas redações como do Estadão, Veja e Isto É, e publicações alternativas, 
como dos extintos jornais Opinião e Movimento. Tem 10 livros publicados, todos 
sobre a Amazônia. Nesse momento, corre o risco de ser condenado e ir para a 
cadeia. "Acho interessante que durante o regime militar, fui jornalista por 19 
anos e só fui processado uma vez. Desde 1992, já foram 15 processos, além de 
mais um na justiça eleitoral. Em pleno regime democrático, sinto-me mais 
perseguido do que na ditadura."
Belém, 27 de julho de 2004.


Entrevistadores: Rogério Almeida, Guilherme Carvalho e Nanani Albino. Fotos: 
Nanani Albino.


 Rogério Almeida - Como foi o início de sua carreira?
Comecei no jornalismo em 1966, com 16 anos, em A Província do Pará. Aí fui pro 
Rio de Janeiro, onde trabalhei no Correio da Manhã. Voltei então para Belém, 
onde fiquei até janeiro de 1969. Quando foi baixado o AI-5, eu era editor de A 
Província do Pará, depois de ter sido seu secretário de redação por um período. 
Resolvi ir para São Paulo porque não havia mais condição de trabalho em Belém. 
Trabalhei no Diário de S. Paulo e no Diário da Noite, que faziam parte dos 
Diários Associados, e participei da edição especial da revista Realidade sobre 
a Amazônia, que ganhou o Prêmio Esso de Reportagem de 1971. Naquela época a 
edição foi de 450 mil exemplares. Uma edição de 400 páginas, toda ela sobre a 
Amazônia. Uma edição antológica. Trabalhei também na Rádio Eldorado do grupo 
Mesquita, do Estadão. Depois voltei para Belém, onde fui correspondente do 
Estadão e da Veja. 

Guilherme Carvalho - Quando foi esse regresso?
Eu ia e voltava sempre. Nesse período era muito inconstante. Voltei mesmo em 
fim de 1971. Fiquei aqui até o fim de 1972, daí voltei para São Paulo, para o 
jornal O Estado de S. Paulo , onde fiquei 17 anos, de 1971 a 1988. Voltei para 
Belém no fim 1974,quando fiquei como correspondente. Trabalhei no Opinião, para 
mim, o maior jornal alternativo daquela época. Trabalhei ainda no Movimento e 
no EX. Todas eram publicações alternativas. Em seguida, trabalhei no O Liberal 
(jornal de maior circulação do Norte do país) e na TV Liberal. Trabalhei na 
Isto É e no Jornal da República. Aí, em 1987, comecei a fazer o Jornal Pessoal. 
Antes havia feito o Informe Amazônico, que foi o embrião do Jornal Pessoal. 
Foram 12 números do Informe Amazônico. Antes, em 1975, havia feito o Bandeira 3 
, um tablóide semanal de 18 páginas. 

Nanani Albino - Antes de entrar no Jornal Pessoal, gostaria de voltar um pouco 
na sua trajetória. A Amazônia é rica em história de intensa migração. Gostaria 
de saber a história de sua família. Qual é o seu movimento familiar?
Minha família é totalmente migratória. Meu avô por parte de mãe é português. 
Meu avô por parte de pai veio da seca do Nordeste para o Acre, depois para o 
Pará. Por parte de mãe português e acreano e cearense e acreano por parte de 
pai.

Nanani Albino - Sempre em Belém ou interior?
Eu nasci em Santarém e minha mãe também. Meu pai e minha mãe se juntaram lá. 
Depois viemos para cá. 

Nanani Albino - O que fazia o seu pai?
Meu pai era precoce. Começou a trabalhar no Nordeste com meu avô, que era 
comerciante, com oito anos, carregava semente de algodão. Meu avô voltou para a 
Amazônia e meu pai dava aula de inglês e era fotógrafo. Foi o primeiro locutor 
esportivo em Santarém, com 14 anos. Fundou o jornal Baixo Amazonas. Depois foi 
presidente da Congregação Mariana e secretário do prefeito da cidade. Como o 
prefeito era muito inibido, era ele quem fazia os discursos, o que lhe rendeu o 
apelido de "papagaio do prefeito". Iniciou a primeira campanha para a 
industrialização da juta, fibra que havia sido trazida pelos japoneses para o 
Baixo Amazonas com sementes da Ásia. Como era muito audacioso, escreveu para 
Getúlio Vargas e conseguiu uma audiência com o presidente, no Palácio do 
Catete, Rio no Janeiro, na época sede do governo. O presidente liberou a 
importação das máquinas para a industrialização da juta. As máquinas vieram da 
Inglaterra e meu pai começou a montar a fábrica. Em 1954, ele foi deputado 
estadual pelo PTB, com a quinta maior votação do Estado. A família o acompanhou 
para Belém quando assumiu o cargo. Ele fez carreira como deputado pelo PTB, daí 
integrou a comissão de planejamento da SPVEA (Superintendência do Plano de 
Valorização Econômica da Amazônia).

Rogério Almeida - O embrião da SUDAM? 
Não era o embrião do SUDAM. A SPVEA foi criada em 1953, por Vargas e estava 
ligada estava ligada à visão da substituição de importações; já a Sudam vinha 
executar uma política colonial, baseada no fornecimento de matérias primas e 
insumos básicos, começando com a pecuária de corte. Ela deveria continuar, mas 
desapareceu em 1966, no regime militar. Bem, meu pai trabalhou na SPVEA, depois 
foi prefeito de Santarém, pelo MDB (atual PMDB). 

Rogério Almeida - Então o senhor não teve problemas para estudar, já que era de 
classe média?
A nossa vida foi um pouco incerta. Depois que meu avô perdeu tudo com a seca 
meu pai ficou pobre e eu estudava em escola pública. Num dado momento, meu pai 
começou a enriquecer como empresário e comerciante. Chegou a ter três fábricas, 
duas delas de fibras, a Tecejuta, em Santarém, e a Tecefátima, no município de 
Capanema, e a Cerâmica Marajó. Nessa época éramos de classe média alta. Pude 
ter um bom estudo. Meu maior patrimônio era uma conta corrente em aberto na 
Livraria Martins. Podia tirar o que quisesse.

Guilherme Carvalho - Quantos irmãos?
Somos sete. Seis homens e uma mulher.

Guilherme Carvalho - Como foi o episódio que ocorreu com teu pai durante a 
ditadura?
Naquele tempo, o Pará só tinha 83 municípios. Dos 83, o MDB, de oposição, só 
elegeu dois: em Santa Isabel, um pequeno município, e Santarém, o segundo mais 
importante município do Estado. Meu pai tinha conseguido uma vitória grande 
sobre a Arena, com uma margem de 65% dos votos. Ele já havia sido "garfado" 
duas vezes no "mapismo" (a fraude que era praticada quando se fechava a 
apuração dos votos). Então, desde o início ele ficou atravessado. A Arena tinha 
o controle político e ele tentou uma composição com o governador Alacid Nunes. 
Sob o pretexto de irregularidades nas contas dele, meu pai foi afastado pela 
Câmara Municipal, onde era minoria. Tinha apenas três representantes do total 
de nove. Afastado, a Câmara resolveu pela sua cassação. Ele entrou na Justiça 
no município de Óbidos, o juiz era Christo Alves, que veio a ser desembargador 
depois. Ele concedeu mandado de segurança para a reintegração do meu pai no 
cargo. No dia da execução do mandado de segurança, Alacid enviou uma tropa com 
150 homens da PM com ordem de não permitir a posse. Papai teve apoio do 
deputado mais votado da região, o brigadeiro Haroldo Veloso, que tinha sido 
líder da revoltas de Jacareacanga e Aragarças contra Juscelino kubistchek e era 
da ala radical da Aeronáutica, embora fosse da Arena. Ele disse que ia liderar 
a passeata para papai reassumir a prefeitura. Quando a passeata saiu, às cinco 
horas da tarde, para a prefeitura, a PM começou a atirar. Morreram três 
pessoas. Papai teve que fugir e recebeu a cobertura do brigadeiro Paulo Vítor, 
que se deslocou para lá com tropas, em avião da Aeronáutica. Isso aconteceu em 
1968. Ele conseguiu fugir e depois teve o mandato cassado. Talvez seja o único 
político cassado duas vezes. Primeiro o mandato e depois os direitos políticos. 
E Santarém foi declarada área de Segurança Nacional, não pôde mais eleger seu 
prefeito.

 Rogério Almeida - Como foi a sua saída para o Sudeste. Foi convite de algum 
meio de comunicação de lá ou uma iniciativa sua?
Vi que aqui não dava mais. A imprensa estava acomodada. Fui primeiro para o Rio 
de Janeiro. Parte de minha família morava lá e mesmo sem contato nenhum 
consegui trabalhar no Correio da Manhã, na última fase de D. Niomar. A gente já 
começava a ver o início da decadência do jornal que havia sido o mais 
importante da República. Por problema de família, voltei para Belém. Fiquei 
indo e vindo um certo período. Até que fiquei em Belém por mais tempo e 
participei de uma série de transformações em A Província do Pará. A primeira 
página dessa época era só de telegramas nacionais e internacionais. Fizemos 
chamadas de primeira página, introduzimos suplementos. Aí veio o AI- 5. Li a 
íntegra na redação, fim de noite. Vi que não tinha como ficar mais em Belém. 

Rogério Almeida - Do Pará, quem assinou foi o Jarbas Passarinho?
Passarinho era o ministro do Pará, autor da célebre frase sobre "jogar fora os 
escrúpulos da consciência" para poder assinar o AI-5. É a frase mais infeliz de 
Passarinho. Vi que não tinha chance, que os donos de jornais iriam aceitar a 
censura, determinada por via telefônica, como aceitaram mais tarde. No dia 2 de 
janeiro de 1969, fui para São Paulo e ainda peguei a decadência dos Diários 
Associados, do Diário de S. Paulo, que durante um certo período foi um dos mais 
importantes de São Paulo. Chegamos a criar ainda um suplemento de vanguarda aos 
domingos. Nesse período o que me interessava era o cosmopolitismo, sociologia 
cultural e sociologia política. Meu sonho era passar um tempo fora, sair do 
Brasil. Estava fazendo mestrado em política na USP, com Oliveiros Ferreira. 
Minha tese era mostrar que às vezes o pensamento conservador pode ser mais 
modernizador do que o pensamento de esquerda e analisava os intelectuais das 
décadas de 20 e 30 no Brasil. Fui entrevistar o presidente da Associação dos 
Empresários da Amazônia, na antiga sede da Federação das Indústrias do Estado 
de São Paulo, a Fiesp, que era no Viaduto Maria Paula, o Eduardo Celestino 
Ribeiro, bandeirante típico, dono da Cetenco Engenharia. No meio da entrevista, 
ele começou a falar da Amazônia que bandeirantes como ele estavam criando. Na 
medida em que ele falava (já havia escrito dois livros sobre isso), EU entrava 
em pânico. Dizia para mim mesmo: se ele conseguir fazer isso, a minha Amazônia, 
na qual nasci e havia vivido a maior parte da minha vida, desaparece. Era o 
auge da pecuária de corte. Decidi voltar para a Amazônia. 

Nanani Albino - Era a contradição de sua tese?
Não é contradição. É aplicação histórica. Aquelas tendências modernizadoras dos 
anos 20 e 30 se tornaram conservadoras. Avalio que há uma diferença entre 
conservadorismo e reacionarismo. Meu marco teórico na época era Karl Manheimm. 
Eu dizia que às vezes a reação contra a mudança exerce um papel muito 
importante de oxigenação das idéias (daí a importância do pluralismo e da 
tolerância). Isso ocorreu com o fim do feudalismo na Europa. O pensamento dos 
nobres da oligarquia fez-se mágico. Assim, surgiu uma literatura fantástica, 
muito rica. Eles escapavam da realidade para o mundo da imaginação. Isso é bom 
para gerar controvérsia. Um ambiente mais democrático. Foi isso que ocorreu com 
os intelectuais de 20 e 30 chamados de direita: Oliveira Vianna, Azevedo 
Amaral, Lourival Fontes. Todos estão atentos a Nelson Werneck Sodré, Caio Prado 
Júnior, Sérgio Buarque de Holanda. E esquecendo essa vertente, incluindo 
Gilberto Freyre, que conheciam o Brasil melhor dos que os de esquerda. Os 
pensadores conservadores, como Paulo Prado, conheciam muito o Brasil.

Rogério Almeida - E os conservadores de hoje, conhecem?
Acho que não conhecem mais.

Nanani Albino - O que desconhecem?
O brasileiro continua a viver como caranguejo, arranhando o litoral, para usar 
a imagem quinhentista. Do ponto de vista do pensamento, a imagem vale até hoje. 
É sempre o pensamento do litoral voltado para fora do Brasil. O Brasil não 
conhece o Brasil. A penetração para o sertão, a corrida para o Oeste, mais 
destrói do que conscientiza. A descoberta do Brasil não passa de movimentos 
espasmódicos e cheios de exotismo. É o descobridor querendo que a paisagem 
original seja de acordo com a visão do colonizador. Isso me levou a desistir da 
grande imprensa. Houve um momento importantíssimo para mim, principalmente 
entre 1971 e 1979. Quem quiser escrever a história da Amazônia tem que 
obrigatoriamente consultar o jornal O Estado de S. Paulo nesse período. A 
história da Amazônia desse período está no Estadão. Em nenhum outro lugar a 
história da Amazônia é mais visível. Isso foi um trabalho paulatino de 
convencimento da direção

Nanani Albino - Isso se deve a quê? Por que você estava lá?
Quando fui para o Estadão, não havia um só paraense na redação, nem de qualquer 
outra parte da Amazônia. Várias coincidências fizeram aproximar -me do dono do 
jornal, Júlio Mesquita Neto. Em alguns momentos ele precisou de determinadas 
coisas que forneci, inclusive escrever editorial. Naquela época fiz a "heresia" 
de entrar na sala do doutor Júlio, na qual ninguém entrava. Não tinha muito 
respeito pela sacralidade do "aquário" (ambiente da direção do jornal) do 
chefe. O Estadão tinha a mácula do Estado Novo, quando o governo entrou no 
Estadão e o administrou. A propósito, o Estadão melhorou tecnicamente nesse 
período. A marca do liberalismo do Estadão dessa época era não aceitar censura. 
A rede de informação do Estadão era bem fraca. Sob a liderança do Raul Martins 
Bastos, do Departamento de Sucursais e Correspondentes, que naquela época não 
tinha muita importância, ajudei a fazer a mudança de toda a rede de 
correspondentes do jornal no país. Havia pessoas que trabalhavam no jornal 
fazia muito tempo, e entraram numa rotina que era pobre para o jornalismo. 

Rogério Almeida - Quem veio cobrir a Guerrilha?
Nós tínhamos feito o levantamento e faltava apenas a senha, que viria a ser a 
ACISO - Ação Cívico Social do Exército, que arrancava dentes da população 
carente e outras coisas, além do que o repórter enviado era tido como de 
confiança do governo. Os oito parágrafos iniciais eram dedicados a essa 
história da ACISO, o resto era só a história da guerrilha, a única que furou a 
muralha da censura no período. Depois disso, se decidiu que o Estadão ia ser o 
grande jornal da Amazônia. O plano, aprovado pessoalmente pelo doutor Júlio, 
era para eu vir para cá e montar a sucursal, a primeira sucursal 
verdadeiramente regional do jornal. Fizemos uma grande reunião com todos os 
correspondentes da região, e logo acertamos que São Paulo não mexeria em nosso 
texto. A nossa idéia era depurar a visão exótica da Amazônia. Permitir que a 
Amazônia verdadeira emergisse na grande imprensa. 

Rogério Almeida - Como foi a decisão da direção?
A gente apresentou o projeto e foi aprovado. 

Rogério Almeida - Ainda é exótico o olhar da grande imprensa sobre a Amazônia?
Hoje a cobertura da grande imprensa é muito pior do que na época do regime 
militar. A grande imprensa vê a Amazônia como o lugar onde ocorrem os fatos 
insólitos, originais e inéditos. Eles não conseguem fazer uma cobertura 
sistemática. 

Nanani Albino - Quem são "eles"? 
Toda a grande imprensa. Na época nós tínhamos a sucursal do Estadão, da Veja, 
Manchete. Todos os grandes jornais tinham correspondentes. 

 Rogério Almeida - Não é contraditório quando a Amazônia é pauta em todo canto 
do mundo?
É um interesse estandardizado. É o que se quer que seja a Amazônia. Essa é a 
regra para a Amazônia. Para acompanhar a Amazônia bem, é preciso uma boa 
estrutura, gente bem paga e qualificada. Eles não querem isso. Exemplo disso é 
Klester Cavalcanti, repórter da Veja. Ele apareceu um dia dizendo que foi 
seqüestrado, embora o caso nunca tenha sido bem elucidado, provavelmente pelos 
grileiros de terras. Ele foi retirado de Belém logo em seguida como se fosse 
uma operação de guerra. Uma história cheia de contradição. Dois terços da 
matéria que saiu em Veja era sobre o seqüestro dele. O que ele escreveu sobre 
grilagem de terras não justificava de jeito nenhum qualquer ato hostil. Era 
muito menos do que qualquer um aqui da terra já havia escrito várias vezes. Ele 
saiu como o Indiana Jones, de volta à metrópole cosmopolita depois de aventuras 
na jungle feroz e primitiva.
(Leia a resposta do jornalista Klester, a tréplica de Lúcio Flávio e a 
continuação da discussão aqui 
<http://carosamigos.terra.com.br/novas_corpo_ci.asp?not=602> )

Guilherme Carvalho - Nesse caso o seu Jornal Pessoal surge para se contrapor a 
isso?
Como disse, fiquei 17 anos no Estadão. Existe uma regra que se você sobrevive a 
15 anos na empresa, você é indemitível , para usar um neologismo. Quando pedi 
demissão, o doutor Júlio me ligou. Ele se sentia desconfortável, eu vim com um 
compromisso dele. Pedi demissão porque não acreditava mais que o Estadão 
pudesse fazer uma cobertura decente da Amazônia, como havia feito no passado. 

Nanani Albino - O que havia mudado?
Tinha mudado o seguinte, vou citar um exemplo: eu estava fazendo uma cobertura 
sobre um assunto. No melhor dia a matéria não saiu. Liguei para o editor de São 
Paulo e perguntei o que estava acontecendo. Ele falou que havia dado dois dias 
seguidos de Amazônia e que precisava dar uma matéria de Fortaleza. Vi que o 
Estadão não voltaria mais a ser o que era. Quando saí, depois de 22 anos na 
grande imprensa, sabia que não tinha volta. Meu compromisso era com a Amazônia. 
Escrever o que a grande imprensa não escrevia. Eu já tinha iniciado o Jornal 
Pessoal, em setembro de 1987. 

Rogério Almeida - Você ainda estava no Liberal? 
Eu ainda estava em O Liberal. Começou exatamente por causa da morte de Paulo 
Fontelles, que foi deputado estadual pelo PMDB e advogado que defendia os 
posseiros no sul do Pará. Ele não conseguiu se eleger deputado federal. Seria 
reeleito fácil se saísse deputado estadual. Aí ele assumiu o vínculo com o PC 
do B. Três dias antes a gente havia participado de um debate no Instituto Lauro 
Sodré, do qual fez parte Luiz Pinguelli, que ficou pouco tempo na Eletrobrás, 
porque ele não tem voto, Lula o demitiu para colocar o Silas Randeau.

Rogério Almeida - Por pressão do PMDB?
Da ala conservadora do PMDB e porque o Pinguelli queria executar o programa do 
PT para energia. Mas o PT já tinha mudado e não queria mais o programa de 
energia. 

Rogério Almeida - Pinguelli é a maior autoridade de energia no 
Brasil?
Não digo que é a maior, mas digo que é uma grande autoridade, é respeitado por 
todas as pessoas. O que o PT fez com ele foi uma coisa indecente. Decidiu 
demiti-lo sem que ele nem fosse consultado. Como fez com o Christovam Buarque. 
Bem, voltando ao episódio Paulo Fontelles, nós estávamos no debate, Paulo e eu, 
depois conversamos longamente. Parecia um desabafo dele. Três dias depois, 
quando estava fazendo uma cobertura na Sudam, um colega que cobria polícia 
informou que ele havia sido morto. Vi o corpo dele quando ainda estava no 
carro. Ele estava no banco do carona. Ainda com o cigarro na mão. Foram três 
tiros de mestre dados na cabeça dele. Morreu na hora, sem a menor possibilidade 
de reação. Foi no dia 10 de junho de 1987. Uma regra não escrita do crime de 
encomenda dizia que quem estava em Belém estava a salvo. Era a sede dos poderes 
institucionais. Agora, no sertão, não; era a lei da selva. Em Belém, os 
pistoleiros respeitavam. O caso do Paulo foi o primeiro crime político na 
região metropolitana de Belém. Eu disse que a gente tinha que impedir que o 
crime ficasse impune. Só assim seria possível frear uma escalada, como viria a 
ocorrer. No ano seguinte, foi morto o advogado João Batista, em pleno exercício 
de seu mandato de deputado estadual. Passei três meses investigando. Escrevi 
uma matéria, que veio a ganhar o prêmio da FENAJ, no ano de seu lançamento. 
Escrevia nessa época a coluna Repórter 70, a mais influente do jornal O 
Liberal, apresentava um programa de entrevistas na TV Liberal e tinha minha 
própria coluna assinada no jornal. Na época do assassinato do Paulo, o dono da 
empresa tinha acabado de morrer, o Romulo Maiorana. Entreguei a matéria para a 
Rosângela Maiorana Kzan, que depois viria a entrar com cinco ações na Justiça 
contra mim. Ela falou que a matéria era impressionante, só que tinha um 
problema: denunciava as pessoas mais ricas do Pará: o Joaquim Fonseca, que se 
dizia o maior armador fluvial do mundo, e o Jair Bernadino de Souza, da 
Belauto, a maior revendedora de automóveis. Ela disse que não podia publicar a 
matéria porque citava dois dos maiores anunciantes do jornal. Sugeri que ia 
fazer um jornal, ela falou que imprimiria o meu jornal de graça, contanto que 
não citasse isso. Depois, entraram com uma ação na justiça para que citasse 
onde era a impressão do Jornal Pessoal, para intimidar as gráficas, que 
realmente se amedrontavam. No segundo número, foi uma denúncia de um rombo de 
30 milhões de dólares no Banco da Amazônia (BASA), que nenhum jornal publicava, 
pelo presidente interino do banco, que era o advogado de O Liberal, Augusto 
Barreira Pereira. O Liberal não publicava porque um dos envolvidos era o 
procurador dele, e A Província do Pará não publicava porque outro dos 
envolvidos era o famoso Billy Blanco, irmão do Milton Trindade, superintendente 
da empresa. 

Rogério Almeida - O compositor?
O compositor se beneficiou, são as fraquezas da alma. Aí O Liberal disse que 
não imprimiria o jornal. Passei para a segunda gráfica, das 11 pelas quais o 
Jornal Pessoal já passou. Em seguida, publiquei uma denúncia de uso de cocaína 
bem antes da escalada da droga, sobre a penetração da cocaína na alta 
sociedade. Envolvia uma pessoa que era amiga do dono dessa segunda gráfica, que 
não podia imprimir por causa disso. O que avaliei é que se o Jornal Pessoal não 
saísse, mesmo saindo pouco, com pouca circulação, determinadas matérias nunca 
seriam publicadas na imprensa local e nacional. Local por causa dos 
compromissos, nacional pelo desinteresse. O Jornal Pessoal se mantém nessa 
trincheira. Se não sair no Pessoal, provavelmente não sai em nenhum lugar. 

Nanani Albino - Você sofre ameaças?
Além de situações constrangedoras de perda de amizades, há ameaças anônimas. Na 
primeira você fica em desespero. Depois aprende a filtrar as ameaças que são 
sérias dos trotes. É preciso tratar com seriedade o assunto. Tem gente que é 
vítima de brincadeiras de humor negro e se diz perseguida. Houve um momento em 
que os telefonemas anônimos não vinham para mim. Foi feito um para o diretor de 
redação de O Liberal, que era o Cláudio Augusto de Sá Leal, que já morreu. 
Dizia a voz: "Doutor, prepare a manchete de amanhã: Assassinado Lúcio Flávio 
Pinto". Descobri de onde vinham as ameaças. Isso foi em 1985, o Jader Barbalho 
era o governador do Estado. liguei para ele, informei-o e lhe disse que se 
fosse investigar saberia de onde estava vindo. Comuniquei-lhe que estava com 
uma carta para ser enviada para o dono do Estado de S. Paulo, contando que as 
ameaças de morte estavam vindo dele. Depois do impacto, o Jader reagiu, disse 
que a carta seria usada pelos seus inimigos para tentar prejudicá-lo. Retruquei 
que eu é que estava sendo ameaçado de ser destruído. Ele pediu 24 horas para 
desmontar o esquema. No dia seguinte, ligou dizendo que era verdade e que ele 
havia desmontado o esquema. 

Guilherme Carvalho - Os caras estavam mesmo interessados em assassinar você?
O Jader apurou minha denúncia e desfez qualquer esquema que pudesse ser montado 
contra mim afirmando, numa reunião com seu esquema de segurança, literalmente, 
que "cortaria o saco" de quem pretendesse me fazer mal. Na época, eu estava 
fazendo a primeira denúncia de corrupção do Jader. Foi por isso a reação. A 
denúncia estava muito bem documentada. Eles não tinham como rebater. Foi o 
momento mais crítico. Por ironia, dizem que protejo o Jader.

Nanani Albino- Por que dizem isso?
Eu e o Jader estudamos na mesma época no Colégio Paes de Carvalho. Da turma, 
fui o único que não subiu com o Jader. O resto todo subiu. Quando o Jader 
estava formando o primeiro secretariado dele, me chamou na sede do IDESP 
(Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social do Pará, órgão extinto no 
governo Almir Gabriel, do PSDB). Estavam ele e o Roberto Ferreira, que seria o 
secretário da Fazenda. Ele perguntou o que eu queria ser no governo dele. Nessa 
época eu escrevia muito sobre terras, ele sugeriu a presidência do Iterpa 
(Instituto de Terras do Pará). Falei que não, ele sugeriu que eu fosse o 
coordenador do Conselho Superior de Desenvolvimento, que seria o órgão-chave da 
administração dele, mas se reuniu uma vez. Falei que não queria nada, que 
seguiria jornalista e crítico dele. 

Guilherme Carvalho -Você responde a quantos processos e qual a natureza deles?- 
Acho interessante que durante o regime militar (1964-1985), fui jornalista por 
19 anos e só fui processado uma vez. O caso foi por causa do suplemento 
Encarte, que editava em O Liberal. Denunciei o processo de tortura que uns 
presos sofreram após uma fuga. Eles eram levados de barco para "interrogatório" 
na ilha de Cotijuba. Na lancha Martada Conceição houve a fuga e jogaram na baía 
o tenente responsável pela tortura, Teodorico Rodrigues. Fizemos as fotos da 
tortura, publicamos. O governador da época era o Aloysio Chaves, que mandou 
investigar as denúncias. O chefe do inquérito era o então major Antonio Carlos 
(depois coronel da PM e secretário de Segurança Pública). Ele me chama de lado 
e informa que todos os jornalistas que foram lá haviam admitido que as fotos 
tinham sido montadas. Desmentiram tudo o que haviam feito. E que o interesse da 
polícia era pegar o repórter policial Paulo Ronaldo. O Paulo foi um célebre 
repórter, tinha sido eleito deputado estadual pela oposição. Ele era muito 
popular e tinha tido uma votação estrondosa. A polícia era louca para pegá-lo. 
Eu e o Paulo fomos indiciados na Lei de Segurança Nacional por incitarmos a 
sociedade contra as autoridades. Depois o crime foi desqualificado na justiça 
militar e o processo arquivado na justiça comum. Desde 1992, quando a Rosângela 
Maiorana Kzan entrou com a primeira ação, das cinco que moveu contra mim, já 
foram 15 processos, além de mais um na justiça eleitoral. Em pleno regime 
democrático, sinto-me mais perseguido do que na ditadura.

Rogério Almeida - O que se passa?
A Justiça está sendo usada como instrumento de quadrilhas. Vejamos uma coisa 
absurda. A história da maior grilagem da humanidade usa como autor um certo 
Carlos Medeiros. Todo mundo sabe que o Carlos Medeiros não existe. Foi forjado 
por uma quadrilha de advogados e corretores de terras. Foi inventado por um 
advogado que morreu recentemente. Eles vão aos cartórios com os juízes e 
desembargadores em nome de uma pessoa que não existe. Já escrevi várias vezes 
no Jornal Pessoal que a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) exigisse do 
advogado a apresentação em carne e osso do cliente, o Carlos Medeiros. E caso o 
advogado não apresentasse no prazo de uma semana, cassasse a licença do 
advogado. A Justiça, hoje, por ser o poder menos fiscalizado, se tornou um 
poder terrível. 

Rogério Almeida - Desse rosário de processos, nove são sobre grilagem de 
terras? 
Nove são de grilagem de terras e extração de madeira na Terra do Meio, lá no 
Xingu. Cinco são da dona do Liberal, a Rosângela Maiorana Kzan. Chegou ao 
cúmulo de ela entrar com ação cível para me proibir de falar o nome dela para 
sempre. Fiz a seguinte pergunta no Tribunal: caso ela ganhe, como vai ser a 
execução da sentença? Vão mandar um censor do Tribunal? Vou ter que submeter o 
Jornal Pessoal a um censor do Tribunal? É um absurdo. A ação prospera até hoje. 

Guilherme Carvalho - A Justiça paraense nesse caso, ou o Judiciário de um modo 
geral, está servindo como instrumento para que a ação dessas quadrilhas de 
grilagens de terras proliferem?
Veja o caso da desembargadora Maria do Céu Duarte. Ela se sentiu ofendida por 
um artigo meu no qual reproduzia trecho de uma decisão dela. Disse que a ofensa 
era agravada pelo fato de eu ter colocado aspas na declaração dela, denotando 
intenção de ofensa.

Rogério Almeida - Para tentar ser didático. São três os atores que o processam. 
Os dois desembargadores, a Maiorana e o pessoal da grilagem de terras. 
E tem a figura intolerante do prefeito de Belém, que também é dono de uma ação, 
Edmilson Rodrigues (PT/PA). A ação é porque ele dava dinheiro para um escroque, 
um crápula do jornalismo para defender a prefeitura e garantir uma coluna com 
pseudônimo, que era o "Décio Malho". Usando essa gazua, ele ofendia todas as 
pessoas inimputavelmente. Mostrei que o PT, que vinha para estabelecer a 
moralidade, estava usando o dinheiro público para chantagem.

Rogério Almeida- Qual era o jornal?
Jornal Popular.

Rogério Almeida - Ainda existe? 
Existe, mas sem o seu criador, que morreu, perdeu eficácia. Quando o prefeito 
deixou de pagar o jornal, o jornal deixou de falar bem dele. No processo, uso a 
figura jurídica da exceção da verdade. Ou seja, a possibilidade de provar que 
tudo que estou dizendo é verdade. E as pessoas não deixam. A primeira sentença 
que me condenou foi manuscrita. Tinha 54 páginas. Foi dada por uma juíza que 
jamais havia dado uma sentença parecida. Você visualizando notava que não era a 
mesma letra. Há uma regra da lavratura de sentença que diz que se o juiz 
começar a manuscrever a sentença, tem que fazer do principio ao fim, rubricar 
cada página e assinar no final. A juíza não fez isso. Pedi perícia. Afirmava 
que não havia sido a juíza quem havia escrito aquela sentença. Pedi perícia 
grafotécnica e grafológica. Era mais de um modelo de letra. 

Rogério Almeida - Qual foi a acusação?
Foi na ação da Rosângela Maiorana, por crime de imprensa. 

Rogério Almeida - O que a motivou a processar você?
Mostrei a briga entre os irmãos Maiorana. Mostrei que havia uma dissensão entre 
os irmãos. Que eles estavam usando o mesmo funcionário para criar duas empresas 
para fazer no Amapá a mesma coisa para um e outro, sem que um soubesse da 
iniciativa do outro, em negócios pessoais paralelos ao da empresa. Estavam 
criando empresa satélite para um e para outro. Depois o funcionário foi 
demitido por justa causa. Acho importante dizer que em nenhuma das 15 ações 
qualquer dos autores usou o direito de resposta. Ninguém quis exercer o direito 
de reposta no meu jornal ou em outro espaço, inclusive um servidor público, 
como é o desembargador. Por que eles não prestam contas? Publico qualquer tipo 
de carta. 

Nanani Albino -Você tem alguma condenação?
O primeiro caso foi esse da Rosângela Maiorana. O segundo foi o do 
desembargador João Alberto Paiva. No primeiro pedi a perícia. Acabou não sendo 
feita a perícia. A desembargadora que autorizou a perícia foi alvo de uma 
campanha contra ela no jornal O Liberal. Tentei esclarecer o caso. Não tive 
espaço nem no jornal oponente, o Diário do Pará (propriedade do deputado 
federal Jader Barbalho). O próprio Jader interferiu para a não publicação da 
explicação, quando o pai dele já havia autorizado. 

Rogério Almeida- Tem um problema também com os órgãos de imprensa aqui no Pará?
Tem. No O Liberal sou proibido de sair. A coisa é tão séria, que fui fazer uma 
palestra num cursinho. O dono resolveu anunciar no jornal O Liberal, pagando 
nos classificados. Nem anúncio pago com o meu nome sai no Liberal. A pedido 
meu, numa das audiências, a juíza interrogou Rosângela Maiorana se era verdade 
que o meu nome era proibido de sair no jornal. Ela respondeu que não. Que no 
dia em que eu morrer, sai. Quanto ódio, meu Deus!

Rogério Almeida - Como é a história mais recente de sua batalha processual, a 
da condenação do processo movido pelo desembargador Paiva?
Em 1996, o Instituto de Terras do Pará (Iterpa) propôs, na comarca de Altamira, 
uma ação de anulação e cancelamento dos registros imobiliários que havia ali em 
nome da Incenxil (Indústria, Comércio, Exportação e Navegação do Xingu). A 
Incenxil era uma empresa de Altamira, que foi comprada pela Rondon 
Agropecuária, do grupo C. R. Almeida. O que havia de ativo na Incenxil? 
Registros de posse, com uma cadeia dominial longa, mas que não mostrava a 
origem da titulação. Cadeia dominial são os registros sucessivos que o imóvel 
tem no cartório. A propriedade privada só se caracteriza quando o domínio da 
terra sai do patrimônio público para o particular. O primeiro registro, de 
1923, tinha a seguinte informação: " título hábil", mas sem informar qual era o 
título. Evidentemente que era uma cadeia dominial incompleta. 

Rogério Almeida - Altamira ainda é o maior município em extensão territorial do 
mundo?
Ainda é o maior município. No "chute", uns 150 mil quilômetros quadrados. O 
Iterpa pediu para o juiz Torquato Alencar uma tutela antecipada. O que é isso? 
Autorizar que na margem do registro constasse, com autorização do juiz, que 
essa terra está sub-judice por causa da ação de cancelamento proposta pelo 
Iterpa. Para que isso? Para alertar terceiros de boa fé. Qualquer pessoa que 
quisesse comprar essas terras iria saber que a terra estava sob litígio. Assim, 
qualquer comprador seria de má fé. Sem direito a indenização. O juiz deu a 
tutela antecipada. A empresa recorreu em Belém. O agravo foi para o 
desembargador João Alberto Paiva. Ele decidiu, em liminar, sem examinar o 
mérito da questão, que as terras são "inquestionavelmente de propriedade 
particular". A liminar é dada quando o direito é evidente (sem maior indagação) 
e há iminência de dano irreparável. Como, se o Iterpa entrou com o pedido de 
anulação e cancelamento dos registros imobiliários que havia no cartório de 
Altamira da Incenxil? O desembargador deixou de ouvir o Ministério Público. São 
5 milhões de hectares. São duas vezes e meia a área da Bélgica. Todos os órgãos 
públicos, federais e estaduais, dizem que a terra é pública. Avalio que o juiz 
deveria ter tido cautela na questão. Quatro meses depois da decisão, o 
Ministério Público se manifestou contrariamente.

Nanani Albino - Você fez alguma crítica sobre o desembargador ou somente sobre 
a decisão dele?
A minha crítica é sobre o ato. Ao longo desses 40 anos, nunca entrei num 
assunto se não tenho prova. Nunca fui processado por falta de provas. A questão 
é sintomática. A C. R. Almeida, antes entrar com as ações, tinha o jornalista 
Oliveira Bastos como seu assessor especial. Mandou-me duas cartas 
violentíssimas. A tentativa era me desmoralizar. Não conseguiu. Depois ele saiu 
da empresa. No terreno do debate, não fui vencido. Só escrevo depois de ler, 
verificar, me convencer da questão. Não produzo com base em dossiê. Só escrevo 
quando domino o assunto. 

Guilherme Carvalho - Lúcio, você tem tido dificuldade de conseguir advogado 
aqui?
Quando a Rosângela Maiorana Kzan, em setembro de 1992, entrou com a primeira 
das cinco sucessivas ações, procurei oito advogados. Em geral, de esquerda. 
Todos, sob diferentes pretextos, não aceitaram a minha causa. Uns alegando dor 
de cabeça, amizade... Um amigo, que não era advogado militante, sem escritório, 
topou fazer a defesa. O acordo era que eu freqüentasse o Fórum e ajudasse na 
elaboração das peças. Aí comecei a estudar Direito e freqüentar o Fórum. São 
doze anos. Usei de todos os institutos do Direito Penal. Sempre é a Lei de 
Imprensa. Avalio que não haja alguém que conheça a Lei de Imprensa melhor do 
que eu. 

Nanani Albino - Por que a Lei de Imprensa, criada em pleno regime militar, 
ainda não foi derrubada?
A lei é inconstitucional. Só que alguém tem que entrar com Ação de Declaração 
de Inconstitucionalidade (ADIN). Aí fica o sindicato, a Federação, ficam os 
grandes líderes dos direitos humanos dizendo que a lei é entulho do regime 
autoritário. E ninguém toma uma atitude positiva. A Constituição revogou 
tacitamente a lei. Como a Lei de Imprensa é especial, ela deve ser declarada 
inconstitucional e tem que ter uma outra lei para substituí-la. Por quê? Porque 
os democratas de ontem são os autoritários de hoje. Edmilson Rodrigues, 
prefeito do PT, usou a Lei de Imprensa contra mim. Lula não vive dizendo que a 
imprensa é denuncista? Não interessa ao poder, de direita ou de esquerda, 
abolir a Lei de Imprensa. 

Guilherme Carvalho - Qual avaliação que você faz da relação entre os meios de 
comunicação, governo e esses grupos econômicos que estão controlando mais 
terras, grilando?
Acho que a imprensa deva ser democrática. Se você manda uma carta e o jornal 
não a publica, já deveria ser considerado crime, a recusa da publicação da 
carta. Se você mandou e em 48 horas o jornal não publicou, já seria crime. 
Bastaria entrar na Justiça provando o recebimento da carta pelo jornal e sua 
não foi publicação. A partir desse dia, multa violenta na empresa, em dinheiro. 
Com isso se resguardaria o direito do cidadão de se defender daquilo que foi 
escrito contra ele na imprensa. Por esse lado, se defenderia o cidadão. Outro 
ponto seria que ninguém poderia entrar na Justiça sem antes esgotar a via 
administrativa. Nesses moldes, nenhum dos desembargadores poderia me processar, 
já que não exerceram o direito de resposta. Acho também que com a criação de 
alguns mecanismos seria possível estabelecer uma relação democrática dos meios 
de comunicação. Por exemplo: cada empresa que alcançasse determinada tiragem, 
ou determinado capital, deveria ficar obrigada a abrir o seu capital. E a 
empresa não poderia absorver as ações totais, deveria permitir que 10% fossem 
comprados pelo cidadão. Não acredito no modelo de conselho, como feito no Peru. 
O Estado, quando entra no campo cultural, é totalitário por atavismo. É o 
cidadão que deve ter o controle. Não o Estado. Quando optei pelo Jornal 
Pessoal, nunca aceitei publicidade. 

Nanani Albino - Como ele sobrevive?
Há horas em que ele se paga. Há horas em que não se paga. Isso hoje é o que 
menos importa. Numa época ele só era vendido através de assinaturas. Cheguei a 
ter 1.200 assinantes. Mais que o Jornal Liberal, que tinha 800. Mas para manter 
as assinaturas, teria que virar empresa. 

Nanani Albino - Qual é a tiragem?
2 mil exemplares. 

Nanani Albino - E a distribuição?
Só em banca.

Guilherme Carvalho- Voltando naquela relação dos meios de comunicação. Poder 
Judiciário e os grupos econômicos...
A C. R. Almeida criou uma pendência judicial. Enquanto tiver a pendência 
judicial, ela domina a terra. É uma forma mais sofisticada de grilagem do que 
as formas anteriores. A forma antiga era falsificação de título, corromper o 
cartório. Agora eles fazem questão de manter a questão sub-judice. A justiça 
pode tomar uma decisão. No próximo número do Jornal Pessoal farei um comentário 
sobre uma resolução baixada pela corregedora geral de Justiça do interior, 
Carmencin Cavalcante. Ela usou seu poder de arbítrio numa questão. O poder 
arbitrário do Estado deve ser em defesa do interesse público. Se há dúvida de 
registro de uma terra imensa, cancela-se e o particular que vá para a justiça. 

Guilherme Carvalho - A Justiça no Pará não decide por quê?
Porque não quer. Há esse exemplo da doutora Carmencin Cavalcante. Ela baixou 
uma resolução em que ela cancela. No caso da Jarí, ela cancelou a unificação de 
terras em 940 mil hectares. Exerceu o poder de arbítrio. Tem de usar. Falta 
vontade ao judiciário. Agora mesmo estão com recurso de plotagem, GPS. Sim, de 
que adianta ter tudo isso sem vontade política? 

Nanani Albino - Você ainda é réu primário?
Sou. Porque a questão está suspensa. Tentaram armar uma trama quando fui 
condenado pela primeira vez. Eles queriam me colocar na cadeia e fotografar, 
para pôr a minha foto no jornal. Mesmo que eu saísse no primeiro minuto. A 
justiça é terrível. É um poder triturador -lento, mas inelutável. Por isso há o 
ditado: quem tem juízo, não vai a juízo. Quando li a decisão do Tribunal, 
passei o fim de semana questionando onde havia errado. Não posso errar. Não 
posso deixar o inimigo se alimentar de falhas. Sobretudo das pequenas, que 
desviam da apreciação do mérito e se restringem a uma preliminar formal.

Nanani Albino- Como você consegue com tanta pressão ser um repórter 
investigativo? O que significa ser um repórter investigativo?
As pessoas pensam que repórter investigativo é aquele presenteado por dossiê. 
Investigar significa ir atrás do fio da meada e questionar sempre. Se você não 
tem dossiê, vai atrás dos fatos. A escola de repórter de polícia continua sendo 
a grande escola. Morto não manda release. Não tem assessor de imprensa. O 
problema é que consigo desagradar todo mundo. O PT não me considera um aliado. 
O PSDB não me considera aliado. O PFL, idem. Azar deles. E azar o meu. 

Guilherme Carvalho - Você falou do governo Edmilson e falou do Jader. E quanto 
ao governo do Estado, os governos de Almir Gabriel e Simão Jatene (atual 
governador do Pará/PSDB). O Ministério Público faz o que o Executivo quer?
Infelizmente. Quando ele passou a se tornar muito forte, os procuradores 
passaram a ter carreira política. Marília Crespo, Manoel Santino saíram do MP 
diretamente para a política. Acho isso uma promiscuidade. Acho que não se 
deveria mandar lista tríplice para o governador. O colegiado do Ministério 
Público deveria escolher seus novos integrantes. Não tem porque representante 
do Ministério Público ser desembargador. Nem gente da OAB. A promoção deveria 
se restringir aos integrantes da carreira. O governador não deveria nomear 
ninguém. Todos acabam dependendo do poder executivo.

Nanani Albino - Você falou que a melhor escola para investigar os fatos é estar 
diante dos fatos e perguntar. No que tange à Amazônia, o que te inquieta? Quais 
os fatos que deveriam estar na pauta e não estão?
Sempre lembro, como metáfora, o exemplo de Isaac Newton. Estavam os dois irmãos 
debaixo da macieira. Felizmente a maçã caiu na cabeça de Newton. Fosse na 
cabeça do irmão, teria gerado no máximo um palavrão. O jornalista é aquele que 
faz a pergunta certa, na hora certa. O jornalista é aquele que incomoda o 
poder. Seja qual for. Ideológico, econômico, institucional. Uma vez, em 
Tucuruí, o presidente da Eletronorte afirmava que a água do lago era boa. A TV 
filmando. Então pedi: "beba essa água". Ele não tomou. Ninguém estava 
esperando. Liquidou-se. Um outro episódio foi com o pistoleiro que executou o 
deputado João Batista, de nome Péricles. Numa pequena sala da Assembléia 
Legislativa, ele dava entrevista. Só entrava uma equipe de TV de cada vez. A 
que estava naquele momento era a equipe da Cultura. O pistoleiro afirmava que 
nunca tinha pegado numa arma. Pedi para o soldado tirar as balas do revólver 
que usava e passá-lo para mim. O capitão, que estava ao lado, autorizou. Peguei 
o revólver e disse para o Péricles: "pega". Ele tomou a arma de minha mão na 
hora. Era um profissional. A equipe da TV Cultura, que filmou tudo, saiu 
correndo para exibir o filme. Jornalismo é isso. Em cima do lance. E às vezes 
não. Até porque as sociedades que mais se desenvolvem são aquelas que dão tempo 
para as pessoas ficarem no ócio, refletindo. Não existe verdade sem ócio. Outra 
coisa foi Sossego. Dezenas de matérias.

Rogério Almeida - Você poderia explicar o que é Sossego?
É a primeira mina de cobre a entrar em produção, que vai tornar o Brasil 
auto-suficiente. É a primeira das cinco minas da região de Carajás, no Sudeste 
do Pará. Em 1977, estava lá quando começou a pesquisa no Salobo 3 Alfa, em 
Carajás e comecei a estudar cobre. O principal são as boas fontes. Acompanhei a 
história da Caraíba, do Geisel, dos estudos do Estado-Maior das Forças Armadas 
para abastecer de cobre o Brasil. O cobre é o segundo item na balança de 
importações minerais. Concluí que ocorreria um paradoxo. Vamos ser 
auto-suficientes e vamos continuar importando cobre. Vamos exportar concentrado 
e importar cobre metálico. Porque há uma incompatibilidade entre a Caraíba 
Metais e a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Com os calos de 20 anos tentando 
estudar a questão, você faz a pergunta certa. Escreve uma matéria que, talvez, 
ninguém vá escrever, ao menos naquele momento, em cima do fato. 
Em Marabá, em 1995, na Escola Mendonça Virgolino, houve um debate sobre o 
projeto de cobre do Salobo. Valor do projeto: 1,6 bilhão de dólares. Não se 
sabia onde ia ficar. Se em Marabá ou Parauapebas, ambas no Pará, ou Rosário do 
Oeste, no Maranhão. Aí o Haroldo Bezerra, então prefeito de Marabá, informa no 
meio do debate que o pessoal da Salobo Metais tinha visitado a cidade no dia 
anterior. Interroguei se ele havia perguntado se a quantidade de minério daria 
para produzir, durante 20 anos, 140 mil toneladas de concentrado ao ano. 
Bezerra retruca o por que da pergunta. Expliquei que se não fosse assim a mina 
não sairia. Não teria viabilidade econômica, fosse lá onde ficasse instalada. 

Nanani Albino - Você avalia que as pessoas que estão no planejamento das 
políticas públicas para a Amazônia estão fazendo as perguntas certas?
Alguns são honestos e competentes e possuem a resposta. Outros, não. As pessoas 
que fizeram os contratos de minério de ferro, bauxita (matéria prima para a 
produção do alumínio), os contratos da Albrás (maior empresa de alumínio do 
Brasil, instalada no município de Barcarena, a 40 Km de Belém), sabiam que 
estavam cometendo um crime contra o Brasil. 

Rogério Almeida - Todos esses projetos se deram no regime militar?
Todos. Todas as pessoas que assinaram contratos dos grandes projetos na 
Amazônia deveriam estar respondendo a processos. A base do meu diálogo são os 
fatos. Eliezer Batista (ex-executivo da CVRD - Companhia Vale do Rio Doce), um 
dos homens mais importantes da história contemporânea, que concebeu todo o 
Grande Carajás, disse que, caso não tivesse havido corrupção na construção de 
Tucuruí, nós não teríamos precisado subsidiar o alumínio. E a CVRD é uma 
empresa do alumínio. O subsídio custou dois bilhões de dólares. Fui apurar e 
escrevi matérias sobre o assunto no Jornal Pessoal. Em contato com o 
ex-deputado federal do PT, Geraldo Pastana, sugeri que ele convocasse o 
Eliezer. Não foi aprovado o pedido. Então, pedimos informações no TCU - 
Tribunal de Contas da União, depois de dois anos tivemos a reposta deles, de 
que se tratava de águas passadas. 

Rogério Almeida- Dois bilhões em subsídio?
De subsídio no alumínio e de corrupção na construção de Tucuruí. 

Rogério Almeida - A empresa no caso era a Camargo Corrêa?
A Camargo Corrêa teve um lucro líquido de 500 milhões de dólares na construção 
da hidrelétrica de Tucuruí. Sempre que posso, toco no assunto. As pessoas não 
se indignam. Fico estupefato com a questão. No regime militar, descobri que 
balanço de empresa é uma fonte preciosa de informação. Principalmente pelo que 
não está dito. O Banco do Estado Pará (Banpará) foi eleito o banco do ano em 
1983, quando eu havia escrito que o banco era uma porcaria e que todas as suas 
operações estavam erradas. E a revista Exame, uma publicação aparentemente de 
conceito, afirmava se tratar do banco com o melhor desempenho no Brasil. Passei 
a estudar balanço, consultar gente que sabia. Fui estudar o balanço da Albrás 
de 1987 e conclui que só a variação cambial entre a moeda japonesa e o dólar 
relativos à moeda nacional, que proporcionou a maior aplicação de capital de 
risco estrangeiro na história do Brasil representava três vezes o orçamento do 
Estado do Pará. Perdemos três vezes o orçamento do Estado. Consultei o cidadão 
que fazia o orçamento no Rio de Janeiro e ele confirmou a conta. Escrevi 
matéria em O Liberal. Imaginava um escândalo nacional e nada houve. 

Nanani Albino - Por que a opinião pública parece não se aliar a você?
Há um descompasso entre a agenda da opinião pública e a agenda da história. 
Estamos numa situação colonial. Caso a gente soubesse o que está acontecendo de 
verdade, não seríamos coloniais. 

Rogério Almeida - Existe saída para essa condição colonial?
Tem. Ciência e tecnologia, o modelo de colonização que defendo é a ocupação 
através da ciência e tecnologia. Deveríamos ter aqui não colono de soja e não 
colono de arroz. 

Nanani Albino - O que é isso?
Em vez de colonos, cientistas. Ele não vai só produzir ciência, se ele estuda 
arroz, vai plantar arroz. Vai ensinar como é que faz, fazendo. Vamos pegar o 
cara e colocar no campo, e não no campus, com bolsa de pesquisa, uma estrutura 
mínima. Se a gente não colocar a formação antes da transformação está liquidada 
a Amazônia. Sei que serão necessários muitos milhões no começo. Quando comecei 
a visitar o Araguaia, a densidade de mogno era o dobro do que existe no Xingu, 
eram 10 árvores por hectare. Não tem mais nada lá. Diziam que a gente ia 
aprender com a experiência do Araguaia. Estamos fazendo pior no Xingu. Aí só 
vai restar o Acre. Uma árvore por hectare. Araguaia era a maior reserva de 
mogno do mundo. 

Nanani Albino - Você fala em mudança substancial em investimento em pesquisa?
Devemos conceber investimento em pesquisa não como retaguarda, mas como 
vanguarda. Vamos pegar a meninada da USP, UFRJ e outras com uma boa bolsa e 
vamos para o campo aprender. Os orientadores também devem ir ao campo, com 
condições de trabalho bons salários.

Nanani Albino - E as universidades federais locais?
Todo mundo iria para o campo. É como se estivesse em Israel. A nossa guerra é a 
guerra da ciência. Guerra da ciência não é ficar fazendo o seu trabalhozinho 
acadêmico. É fazer a difusão da ciência no campo.

Nanani Albino - Agora é a hora?
Tem que começar já senão nunca vai começar.

Nanani Albino - E os colonos não científicos?
Ele vai aprender e ensinar. Você coloca o doutor em genética na Transamazônica 
para fazer melhoramento no campo com uso do conhecimento tradicional e 
empírico. Considero que o pessoal tem que ir a campo. O doutor tem que deixar 
de lado essa postura arrogante. 

Nanani Albino - Como você avalia a ciência produzida na Amazônia?
Quando comecei a fazer palestras, vinham perguntar sobre a minha formação e eu 
dizia malandramente que era jornalista. Era um constrangimento. Jornalista não 
tem valor científico. Aí eu dizia: sou sociólogo - e tinha o carimbo da 
academia. Depois dizia: "vamos para o debate!" O critério da verdade é o 
debate. Se vocês são os cientistas, os doutores, vocês vão me vencer no debate. 
Caso eu vença, não adianta ser doutor. 

Nanani Albino - No Brasil, existe a tradição do debate?
Aqui o debate costuma ser improdutivo, assistemático e acientífico. O que grita 
mais alto, as pessoas aplaudem, vence o debate. Todos sabem do rigor que tenho 
com os dados. Caso esteja errado, corrijo. Num determinado debate, soube da 
proibição por decreto pelo presidente José Sarney do uso do alumínio nos 
garimpos. Disse que seria pior. Que os garimpos iriam usar cianeto. A pessoa 
que conversava iria palestrar pela tarde. Cheguei na hora em que ela falava de 
uma importante denúncia que a Amazônia iria ser inundada por "cianureto". 
Mandei um bilhete informando que não era cianureto e sim cianeto. 

Guilherme Carvalho - Qual a perspectiva da Amazônia diante de mais um Plano 
Plurianual aprovado?
Quando Lula foi eleito, elogiou a tecnocracia do regime militar. Escrevi um 
artigo dizendo que ele tinha certa razão. Acho que nunca se fez tanto plano 
quanto na época do regime militar. Alguns tão bem feitos que não poderiam nem 
ser executados. Uma vez, em Brasília, fui ao Instituto de Pesquisa de Econômica 
Aplicada (IPEA), cujo chefe era o ministro João Paulo dos Reis Veloso, do 
Planejamento, que sempre se preocupava com a história, por isso apadrinhou 
intelectuais marxistas. Não queria passar como o tecnocrata dos ditadores. Em 
1972, andando pelo IPEA, entrei inadvertidamente numa sala onde estava sendo 
dada uma aula sobre Marx. Aquilo era uma heresia privatizada. Nessa época, o 
IPEA publicou um livro crítico sobre a colonização dirigida na Amazônia. 
Critica o INCRA, os incentivos fiscais que motivaram a formação dos latifúndios 
com metodologia marxista. Caso for analisar a história pela fonte secundária, 
você vai dizer que esse era um déspota esclarecido. Agora a bíblia sobre a 
Amazônia é um o II Plano de Desenvolvimento da Amazônia - PDA (1975/1979). Esse 
documento diz o que da Amazônia? Diz que o papel da Amazônia é fornecer insumos 
para o Brasil moderno e matérias-primas para o mundo. Com isso, ela vai 
aumentar o ritmo do desenvolvimento brasileiro, pois o Brasil não tem poupança 
suficiente para isso, e também manter a roda do processo produtivo do mundo. É 
isso que interessa. Tudo dito claramente sem filigranas ou cosméticos. É um 
futuro colonial. Como mudar isso? Tornar o povo participante. 

Rogério Almeida - Qual é orçamento para a ciência na Amazônia?
Zero, dois ou meio por cento do orçamento em ciência e tecnologia. 

Rogério Almeida - Estamos condenados ao colonialismo?
Se tirassem as verbas estrangeiras seriam zero vírgula qualquer coisa. 

Nanani Albino - Qual é o investimento em pesquisa vindo do exterior?
Dois terços dos investimentos da pesquisa são em moeda estrangeira. A Amazônia 
não é prioridade nem para o Brasil. 

Nanani Albino - E o resultado? 
É o modelo colonial. O projeto MADAM( Programa Manejo e Dinâmica nas Áreas de 
Manguezais), por exemplo , é interesse alemão. Há documentos que são produzidos 
em alemão, e que nunca foram traduzidos. O que o mundo desenvolvido quer da 
Amazônia? Preservar uma parte da Amazônia e estudá-la antes que acabe. Ninguém 
no mundo sério tem dúvida de que a gente vai acabar com a Amazônia. Somos 
destruidores como eles também foram e são. A história da humanidade é a 
história da destruição da floresta. Na Amazônia, é a primeira vez que a gente 
tem a possibilidade de uma civilização florestal. É o único lugar que tem 
floresta expressiva hoje. Temos a consciência e os meios, se a gente não usar a 
consciência e os meios, vamos seguir a tradição do homo agrícola. Vamos 
destruir a floresta. A Amazônia só tem futuro no mundo. Onde Marx escreveu 
OCapital? No Museu Britânico. O Marx nunca entrou numa fábrica. Em quais dados 
primários se baseia O Capital? Nos relatórios dos fiscais de fábrica da 
Inglaterra.

Rogério Almeida- Então não era um bom jornalista
Era ótimo jornalista.

Rogério Almeida - Mesmo distante do campo?
Mesmo não indo para o campo. Quando ele ia para o campo, ele era o editor da 
Nova Gazeta Renana. Ele escreveu sobre o monopólio da lenha e a liberdade de 
imprensa. A luta dele contra o censor. O censor esperando ele na redação e ele 
dormindo. Até o momento que ele se tornou profeta tinha muito bom humor. 

Rogério Almeida - A gente estava falando em ciência, e o SIVAM - Serviço de 
Vigilância da Amazônia?
São 20 anos de verba de ciência e tecnologia na Amazônia que estão sendo 
distorcido pela visão geopolítica. Hoje nós temos o SIVAM pronto. Isso 
significa maior segurança para a Amazônia? O prisma da geopolítica é o que mais 
distorce a visão da Amazônia. Desde Arthur Cezar Ferreira Reis, que é a matriz 
desse pensamento. A nossa relação com o mundo tem que ser diferente. Quanto 
mais a gente se desenvolve, mais a gente fica subdesenvolvido. Continua aquela 
visão de Euclides da Cunha do seringueiro. Aquele que quanto mais trabalha, 
mais se escraviza. Aquele que compra produtos caros no barracão, e vende 
produtos baratos. Uma relação de troca desfavorável. 

Rogério Almeida - Essa questão da regulação fundiária, gostaria que a gente 
retomasse. É uma questão séria na Amazônia.
Está em vigor o Estatuto da Terra. Foi baixado pelos militares em novembro de 
1964, o Estatuto é melhor que a Constituição. O Estatuto diz o seguinte: 
ninguém pode ser dono de mais de 600 vezes o modulo rural. 

Rogério Almeida - O módulo rural hoje é de 25 hectares?
Há vários tipos de módulos. Há de um hectare, para a horticultura, ao maior, 
que é o silvicultural, que é de 120 hectares. Pela letra da lei, ninguém pode 
ser dono de mais de 72 mil hectares. Vamos pegar os Estados Unidos, onde há 
cadastros fundiários desde o século XVIII. São amarrações por posições 
astronômicas. Como a gente não tinha isso, a nossa amarração foi através de 
acidentes naturais. Só que a gente não conhecia o interior. No início da 
República expedimos 40 mil títulos de posse. Isso só existe no Pará e na Bahia. 
Era uma carta do poder público autorizando a ocupação do interior por quem 
estivesse disposto a ocupar. O limite máximo era uma légua quadrada, que 
corresponde a 4.356 hectares. Com base nisso, ninguém poderia aparecer com 
título de posse com 5 milhões de hectares. Desses 40 mil títulos, apenas 3 mil 
buscaram a regularização depois. O resto deu origem a essas grilagens. É 
fraude. Caso o senhor Cecílio Rego Almeida aparecesse com um título desses nos 
Estados Unidos, poderia ser preso.

Rogério Almeida - Vamos falar um pouco sobre a CVRD -Companhia Vale do Rio do 
Doce. A Vale é maior que o Pará?
É maior. A CVRD tem uma verba de investimento maior que a do Estado. O 
faturamento da CVRD é maior que a receita do Estado. Caso o modelo de enclave 
prospere, a CVRD vai ser três vezes maior que o Pará. É um modelo baseado em 
matéria-prima, quantidade crescente de minério de ferro. Vinte milhões de 
toneladas era o ponto de viabilidade da mina de Carajás. Hoje está em 55 
milhões de toneladas. Por quê? O primeiro trem saiu de Carajás com a tonelada 
de minério a 26 dólares, hoje são 15 dólares. Ocorre que tem de produzir cada 
vez mais. O Pará é o 2º Estado em território, 9º em população, 16º em Índice de 
Desenvolvimento Humano (IDH), 19º em Índice de Desenvolvimento Juvenil (IDJ). É 
o modelo da África do Sul. Nós somos a África do Sul da Amazônia. 

Rogério Almeida - A privatização foi um crime de lesa pátria?
A melhor análise que saiu foi da Euromoney, uma revista de negócios da Europa, 
foram 16 páginas. Eles mostraram o absurdo que foi o preço de avaliação de 
arremate da CVRD. O absurdo é tanto que hoje os japoneses estão na CVRD. Uma 
das regras da privatização era que comprador não poderia ser acionista da CVRD. 
O modelador da privatização, que é o Bradesco, é o principal controlador fora 
dos fundos federais. Que privatização é essa? Foi um dos maiores escândalos do 
Brasil. As ações propostas na Justiça não foram decididas até hoje.

Nanani Albino - Há 12 anos você vem sendo processado. Qual a postura das 
entidades de classe, federação, sindicato de jornalistas em relação a isso?
Bem, fui do sindicato do tempo em que o Lula tentava implantar as delegacias 
sindicais no ABC, no fim da década de 70. Fomos o primeiro sindicato a ter 
salário profissional e delegacia sindical. Depois perdemos no Tribunal Superior 
do Trabalho. Mas fizemos isso primeiro. No primeiro processo, o presidente do 
sindicato escreveu uma nota de solidariedade tão sórdida, que pedi o meu 
desligamento do sindicato. A solidariedade era pior do que se tivesse feito um 
ataque a mim. Ele dizia que a Rosangela Maiorana tinha razão, mas que tinha de 
ser solidário comigo pelo espírito de corpo. Nesse recente episódio (do 
desembargador João Paiva) a nota de solidariedade foi comandada pelas ONGs: 
Instituto Sócio Ambiental (ISA), Amigos da Terra, Greenpeace. FENAJ e sindicato 
aderiram. A iniciativa não foi deles. O episódio mais triste que ocorreu nesses 
quase 40 anos de profissão foi quando denunciei a infiltração do narcotráfico 
na Amazônia, em 1991, ano em que ocorreu o assassinato de uma figura da 
sociedade, que era lavador do dinheiro do narcotráfico internacional. Durante 
meses, o Jornal Pessoal foi o único que publicou os fatos. Era a história de 
Bruno Matos. Quatro meses depois, saiu uma única matéria nos três jornais da 
cidade, dizendo que ele tinha se suicidado. Ele morreu na BR 316, a 90 
quilômetros por hora, recebeu um tiro na distância mínima de três metros, de 
cima para baixo, da esquerda e ele era destro. Foi um único tiro, preciso. Esse 
é o suicídio mais inverossímil da história da humanidade. Um tiro a três metros 
de distância, dirigindo o carro a 90Km/h. Após o Jornal Pessoal encadear os 
fatos, a PF apreendeu uma tonelada de cocaína no Marajó e no rio??? Amazonas. 
Toda a imprensa foi para a sede da PF para a coletiva. Fui e não fiz qualquer 
pergunta. Os colegas interrogaram sobre o meu silêncio. Falei que tinha ido 
para conversar em off com o delegado José Salles, hoje superintendente aqui no 
Pará. O colega declarou, então, que iria ficar. Que agora é que ia começar o 
bom. Retruquei que não existe off coletivo. Que se tratava de uma conversa 
particular, estabelecida através da confiança mútua. Concordei em que todos 
participassem, com o compromisso de que todos publicassem o que ia ser dito 
ali. Todos foram embora. O Salles, delegado, interrogou: são esses seus 
colegas? 

Nanani Albino - Você tem 38 anos de jornalismo. O Jornal Pessoal muitas vezes 
não cobre nem sequer os custos. Você hoje consegue viver da profissão?
Dou palestras, escrevo artigos para fora, escrevo livros. Do Jornal Pessoal, 
não. O Jornal Pessoal é a pedra no sapato.

Guilherme Carvalho - A mosca na sopa?
O Roger Agnelli, presidente da CVRD, um dos homens mais poderosos do Brasil, 
num vôo leu um clipping do Jornal Pessoal. A CVRD mantém o Jornal Pessoal no 
seu clipping. Ele ficou furioso. Contatou o chefe de comunicação, que estava 
indo para o Maranhão, para antes parar no Pará. Queria que me dissesse que ele 
não era banqueiro, que faz filantropia e que destina todo o dinheiro das suas 
participações em conselhos a obras de caridade. Estava furioso com o Jornal 
Pessoal. Agora, nesse episódio (da condenação), recebi uma carta do Jarbas 
Passarinho em solidariedade. Ele fez o que nenhum colega meu fez. "Use essa 
carta, se quiser", disse ele. Fomos adversários. Nunca me processou. Mesmo 
quando ele era o homem mais poderoso do Pará. 

Nanani Albino - Que preço você paga?
No Jornal Pessoal, quem quiser entrar, tem que me convencer. Não interessa se é 
poderoso. O Hélio Gueiros (ex-governador do Pará e ex-prefeito de Belém, 
candidato nesse pleito de 2004 à prefeitura de Belém), mandou uma carta para 
mim que começava assim: "Lúcio Flávio, porque tu não vais chupar o cu da puta 
que te pariu?" Publiquei a carta. Ele não imaginava que publicaria e nunca mais 
quis falar sobre isso.

Rogério Almeida - São quantos livros?
Dez livros e participação em muitas obras coletivas. 

Rogério Almeida - A produção dos livros obedece à mesma lógica do Jornal 
Pessoal, bancados por ti mesmo?
Agora, sim. Antes, não. O melhor que fiz foi bancado por uma bolsa de pesquisa 
americana, da Universidade da Flórida, que me permitiu falar mal de um dos 
símbolos americanos, o Daniel Ludwig, do projeto Jari. Recebi uma boa bolsa de 
seis meses. Passei seis meses pesquisando e estudando nos Estados Unidos, 
escrevendo um livro contra um símbolo do capitalismo americano. Esse foi o 
livro que mais me agradou. Quanto aos outros, não tive essa retaguarda. Foi um 
dos melhores períodos da minha vida.

Guilherme Carvalho - Você é um homem cético ou esperançoso?
Se fosse cético, já teria entregado as armas. Tenho esperança. Agora, a minha 
consciência diz que estou numa luta perdida. Vou continuar a luta até o último 
dia. 

Nanani Albino - Você acha que vai pagar atrás das grades por expor fatos que 
mais ninguém publica?
Cipriano Barata foi muito mais jornalista do que eu. Toda vez que ia para as 
grades, escrevia um jornal. Escrevia na guarita da fortaleza maranhense. É um 
exemplo. O meu algoz, a Rosângela Maiorana, que já foi minha amiga, disse que 
iria me mandar para a prisão. Retruquei que o risco era que eu iria ter tempo 
para escrever um Jornal Pessoal por dia. Iria imitar o Cipriano Barata. Como 
diz o Gramsci, pessimismo na inteligência, otimismo na vontade. Tenho clareza 
que a máquina está me triturando. Vou capitular? Não sei?

 Nanani Albino - Você falou que a salvação da Amazônia está no mundo. Você acha 
que a salvação para Lúcio Flávio Pinto está fora da Amazônia?
Na Itália, tem um grande jornalista chama Maurizio Chiericci. É um dos 
principais enviados especiais da imprensa italiana. Cobre todos os conflitos 
internacionais. Ele escreveu um artigo no L'Unità, na primeira página, sobre o 
meu caso, edição do dia 19 de julho. Ele pediu para não calar a voz da 
Amazônia. Além do artigo, mandou uma carta para o embaixador brasileiro, o 
Itamar Franco. Não interessa o que vai acontecer. Interessa que eu não pedi. 
Foi ele quem me indicou para o maior prêmio de jornalismo da Itália, em 1997. 
Fui o primeiro não europeu que recebeu esse prêmio. No ano que recebi, o 
deputado federal da Irlanda do Norte, John Humme, também ganhou. No ano 
seguinte, ele foi Prêmio Nobel da Paz. Recebeu o prêmio também um jornalista, 
poeta e escritor albanês, Fatos Lubonja, que passou 19 anos preso, no regime de 
Enver Hoxxa. O governo brasileiro mandou um funcionário da embaixada numa 
ocasião em que estavam lado a lado, pela primeira vez na Europa, os 
embaixadores da Inglaterra e da Irlanda. Ao registrarem o fato, o auditório os 
aplaudiu. Depois vim a saber que o Itamaraty, consultado pelo embaixador, havia 
dito que eu não era "confiável". Por isso o embaixador não foi. Fiquei contente 
em saber que eu não era confiável para o poder. Mas triste como brasileiro.

Rogério Almeida - Como você avalia a presença dos Estados Unidos na Amazônia?
Os Estados Unidos não conseguem entender a América do Sul. São incapazes. 
Clinton esteve para lançar o Plano Colômbia em Nova Granada. Ele não conseguia 
perceber que estava diante da sede de um poder imperial que foi maior do que os 
Estados Unidos, que foi o da Espanha. No século XVI, metade das universidades 
da Europa estava na península ibérica. Nós levamos quatro séculos para fazer a 
nossa universidade. A rigor, a nossa universidade foi criada em 1950, a 
Universidade do Brasil. Ele esqueceu que existe uma história hispânica anterior 
aos Estados Unidos. Fomos maiores que os Estados Unidos até D. Pedro II. Ele 
era uma pessoa brilhante, mas infelizmente travou a nossa história por 50 anos. 
Quando a biblioteca de Washington sofreu um incêndio, a Biblioteca Nacional do 
Rio de Janeiro era muito mais rica e importante. Perdemos o rumo da história 
nesse período. Entre 1822 e 1850, não tinha Lei de Terras no Brasil, a lei, não 
escrita, era a da ocupação, o princípio da posse, que fez a grandeza dos 
Estados Unidos. Quando criaram a Lei 601, de 1850, a ocupação física foi 
substituída pelo papel. E só pode ter papel, quem tem dinheiro. Liquidaram com 
um projeto do Brasil, que estava na cabeça do patriarca José Bonifácio. Ninguém 
fala desse período. A diplomacia americana se baseia na falta de conhecimento. 
Qualquer que seja o conteúdo do Plano Colômbia, ele é trágico. Um equívoco para 
o continente e para os Estados Unidos. Hoje o cidadão médio americano bem 
informado não tem dúvida de que Bush deve ser colocado para fora. Podem vir a 
fazer um novo Vietnã na América do Sul se insistirem em mais presença física 
americana. Temos que contrapor a ela uma integração econômica continental. Tem 
que acabar com esse negócio de ALCA, Mercosul, por algo mais amplo na América 
do Sul. Onde a gente possa se unir para nos tornarmos mais fortes? Se você 
inverter a direção da água no canal do Cassiquiare, vai abrir o caminho pelo 
centro da América do Sul, vai entrar pelo Caribe e vai sair na Bacia do Prata. 
Você vai acabar com o esquema de comércio no mundo inteiro. Com uma inversão de 
águas, você já começa a revolução. Aí tem lógica fazer hidrelétrica no Madeira. 
Enquanto isso não vem, não tem lógica. Nós estamos trazendo 70 megawatts por 
dia do sistema Guri da Venezuela para Boa Vista usar 32 megawatts. Estamos 
jogando fora o restante. Guri é atualmente a maior hidrelétrica do mundo. A 
estrutura do domínio do Estado é poderosa no sistema de gestão do 
desenvolvimento venezuelano. A Venezuela pode quebrar essa estrutura 
burocrática, que gera, de um lado, americanofilismo, e de outro lado esse 
fidelismo do Chávez. Temos que resolver as coisas passo a passo. Temos que 
mudar a matriz de energia e o modal de transporte do continente. Não é fazendo 
retórica contra plano Colômbia, fazendo SIVAM. Isso é perfumaria.

Rogério Almeida-- Esse modelo de integração econômica para o continente que 
você fala é via ALCA? 
Não. Acaba com isso de ALCA, Mercosul, ALADE. Vamos trabalhar as nossas 
potencialidades. 

Rogério Almeida - Quando você fala a gente, fala América Latina?
América Latina. Só vamos pensar lá fora depois que a gente fizer uma hidrovia 
do Caribe à Bacia do Prata. Não podemos integrar para sermos esmagados. Carajás 
não tem carvão, vamos trazer o carvão da Colômbia. 

Guilherme Carvalho - Lúcio, construir uma hidrovia desse jeito não significa 
destruir boa parte do pantanal?
Não vai passar no Pantanal. Passa ao largo. Sempre defendemos que o caminho 
natural é o rio. Sempre brigamos contra as rodovias. Por que agora achamos que 
todas as hidrovias vão destruir? Podemos fazer hidrovias perfeitamente válidas. 
Não podemos é fazer como foram feitas as rodovias e as ferrovias. A hidrovia é 
para desenvolver o interior, o núcleo das regiões conforme as suas aptidões. 
Devemos optar por ciência e projetos que agregam valor. 

Guilherme Carvalho - Isso é um problema. As hidrovias não são pensadas nesse 
modelo. São pensadas para soja.
A própria lei dá os antídotos para esse problema. Só vamos aprovar hidrovias se 
tiver comitê de bacia. Dos 103 comitês de bacia, nenhum é da Amazônia. Não 
podemos aprovar um projeto de hidrovia sem um plano de desenvolvimento, 
transformado em lei e aprovado pela Assembléia Legislativa e referendado pelo 
Congresso Nacional. Terminou a fase da esquerda dizer, sou contra, diagnostico 
certo, mas não sei fazer. Tem que saber fazer.

Rogério Almeida - Você ainda está dando aula?
Faz sete anos que não dou aula. Estou aprendendo de novo. 


Sobre os entrevistadores: Todos cursam o mestrado em planejamento no Núcleo de 
Altos Amazônicos (NAEA), na Universidade Federal do Pará (UFPA). Rogério é 
jornalista e colabora no setor de comunicação do MST no Pará. Nanani é 
jornalista. Guilherme é historiador e técnico da FASE Pará. 

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