[CamaraDas] RES: ENC: Reflexões para os que não se divertem com o carnaval

  • From: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • To: <analistas2002@xxxxxxxxxxxxx>
  • Date: Wed, 14 Feb 2007 18:49:51 -0200

Putz, Auschwitz!! Foi longe, heim camarada? 
Realmente é igualzinho... um pataxó ser queimado por "brincadeira" e Hitler... 
como não percebi que estávamos no nazismo??

________________________________

De: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx [mailto:analistas2002@xxxxxxxxxxxxx] 
Enviada em: quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007 18:40
Para: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
Assunto: [CamaraDas] RES: RES: RES: ENC: Reflexões para os que não se divertem 
com o carnaval


Neste caso, ainda prefiro a sociologia de Woodstock à filosofia de Auschwitz.
Osmar 

________________________________

De: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx [mailto:analistas2002@xxxxxxxxxxxxx] 
Enviada em: quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007 18:08
Para: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
Assunto: [CamaraDas] RES: RES: ENC: Reflexões para os que não se divertem com o 
carnaval


Alguém ainda acredita nessa sociologia de Woodstock? Eu não empurro ninguém, 
nem para a criminalidade nem pra santidade. Cada um, por favor, que fale por 
si. Ser um facínora assassino é uma escolha, não uma imposição social. 
Desculpem o trocadilho, mas essa de "barriga vazia", ninguém engole mais.

________________________________

De: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx [mailto:analistas2002@xxxxxxxxxxxxx] 
Enviada em: quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007 17:51
Para: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
Assunto: [CamaraDas] RES: ENC: Reflexões para os que não se divertem com o 
carnaval


Matemos todos então, o que esperamos?
Paredão neles!
Ou talvez uma execução nos mesmos moldes dos respectivos assassinatos. Taí, 
seria educador ver uns e outros sendo arrastados pela cidade, queimados, 
executados sumariamente, presos em portamalas e queimados, etc.

________________________________

De: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx [mailto:analistas2002@xxxxxxxxxxxxx] 
Enviada em: quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007 17:40
Para: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
Assunto: [CamaraDas] RES: ENC: Reflexões para os que não se divertem com o 
carnaval


        Lúcio Flávio,
 
        Concordo com o Santayana: se é pra matar os assassinos do João Hélio, 
matemos também os causadores da barbárie. 
        Exceto os sociopatas, ninguém nasce criminoso.
        O assassino é empurrado por nós pro caminho do crime.
        A paisagem carioca seria outra, se cada um dos ociosos endinheirados 
tijucanos redirecionasse a mesada da droga para cursinhos comunitários (como o 
da Associação Debater, da nossa colega Márcia Azevedo).
        Não quero ouvir que esses almofadinhas sofrem de vazio existencial. 
Merecem mais nossa compaixão os que padecem de vazio estomacal.
 
        Jairo.

________________________________

De: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx [mailto:analistas2002@xxxxxxxxxxxxx] 
Enviada em: quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007 16:40
Para: CamaraDas
Assunto: [CamaraDas] ENC: Reflexões para os que não se divertem com o carnaval


Agencia Carta Maior
Mauro Santayana

14/02/2007 

QUESTÃO DE ORDEM
O pacto com a morte
Neste momento em que parlamentares e jornalistas incentivam uma reação 
irracional contra os assassinos do pequeno João Hélio, levantando até idéias 
como a pena de morte, vale discutir como são construídos os criminosos no 
Brasil.
Data: 13/02/2007 
Quando uma jovem da alta classe média paulista - Suzana Richthofen - planejou e 
participou do assassinato de seus pais, trucidados, enquanto dormiam, a golpes 
de barras de ferro pelo namorado e o irmão dele, ninguém pediu a pena de morte 
para a moça. Ao contrário: surgiram comunidades de internautas, dizendo que a 
amavam. Da mesma forma, quando um índio pataxó foi queimado, enquanto dormia, 
para o divertimento de rapazes da alta classe média brasiliense, respeitável 
juíza do Distrito Federal quis desclassificar o crime, a fim de evitar que 
fossem levados ao tribunal do júri. Algumas das pessoas de bem da capital da 
República se mobilizaram, a fim de desculpar os assassinos. Eles estavam apenas 
querendo "brincar" com o índio. Depois se soube que os rapazes estavam sendo 
privilegiados na prisão: um deles saía para freqüentar o curso universitário e, 
entre o fim das aulas e o retorno a uma cela especial da penitenciária, tomava 
cerveja com os amigos.

É claro que nos revolta muito mais a morte de uma criança de seis anos, da 
forma brutal como ela se deu, do que a execução de duas pessoas de meia-idade, 
e a de um remanescente dos bravos tapuias do litoral da Bahia, membro de 
pequena tribo que escapou do extermínio secular. 

A morte por nada
O que choca, ainda mais, no caso do menino João Hélio, é a extrema precariedade 
da vida nas grandes cidades brasileiras. Morre-se sem nenhuma explicação, como 
se todos nós andássemos com uma pistola carregada, jogando a roleta-russa. 
Quando menos se espera, a única bala fica diante do percussor, e o dedo 
invisível das circunstâncias dispara o gatilho. Se a mãe do menino houvesse 
passado pelo local cinco minutos antes, ou cinco minutos depois, talvez nada 
houvesse ocorrido. Ao sair do centro espírita naquele exato momento e ao 
escolher aquele trajeto, a senhora estava, para seu desespero, entregando o 
filho ao despropositado martírio.

Todos nós nos sentimos atingidos pelo crime, mas não temos a mesma carga de 
sofrimento e de ódio que atinge os pais do garoto. Eles têm todo o direito de 
exigir punição mais severa para os criminosos - até mesmo a morte - incluída a 
do menor que participou do assassinato. Se pensarmos no que sentiríamos se isso 
ocorresse a qualquer um de nós, não há limite para o ódio, não há como conter o 
desejo de vingança pessoal. Qualquer pai seria capaz de matar o assassino de 
seu filho, ou de sua filha, como tem ocorrido. A senhora, que matou a facadas o 
adolescente que violentara seu filho pequeno, fez o que muitos de nós seríamos 
capazes de fazer.

Quando crimes tão bárbaros são cometidos há uma reação coletiva irracional. É o 
que está ocorrendo agora, quando se pede a pena de morte para os assassinos do 
pequeno João Hélio. E essa reação é tão mais despropositada quando parte de 
alguns dos mais poderosos meios de comunicação de massa em nosso país. É o 
momento da desforra de parte da classe média contra os que defendem os direitos 
humanos. Jornalistas e parlamentares recorrem aos adjetivos mais fortes, 
arregalam os olhos, gesticulam, pedindo que o Estado exerça vingança implacável 
contra os assassinos. Eles se esquecem de que todos nós, criminosos ou não, já 
estamos condenados à morte. E se esquecem também de que a execução de qualquer 
criminoso, seja jovem ou velho, não é exatamente um castigo. A agonia de um 
condenado dura, quando muito, alguns segundos. Depois disso, é o nada. A prisão 
por bom tempo, nas condições carcerárias do Brasil de hoje, talvez seja punição 
bem pior do que a morte.

A construção de um bandido
Como se faz um criminoso? Os criminosos, salvo os casos de psicopatia 
congênita, são construídos, não nascem feitos. A nova deputada federal Marina 
Magessi, veterana policial carioca, não pode ser apontada como esquerdista, 
fanática defensora dos "direitos dos bandidos". Ao contrário: sempre foi vista 
como "durona" na ação policial. Em recente depoimento à TV Câmara, em companhia 
do rapper MV Bill, Marina Magessi lembrou que o dia mais difícil da sua vida 
foi o do assalto ao ônibus da linha 174, em 2000, no Rio, porque teve que 
prender uma menina de 12 anos, envolvida no incidente. Ela resume o problema, 
ao dizer que nesses episódios não há algozes: só há vítimas. A menina era tão 
vítima como Sandro do Nascimento o assaltante, um sobrevivente do massacre da 
Candelária, que seria assassinado logo em seguida pela polícia, e a jovem Geisa 
Gonçalves, morta durante a intervenção policial.

"Não é a pobreza que leva ao crime, mas, sim, a falta de inclusão" - disse a 
mesma senhora, em outra oportunidade. "No Rio, essas crianças não pertencem a 
nada. Não têm família, não têm igreja, não têm Estado". Se quisermos ir mais 
fundo no problema, devemos deixar os limites das favelas, do Rio de Janeiro e 
do Brasil. Escolhemos nessa pobre cultura universal contemporânea, induzidos 
pelos meios de comunicação de massa, sobretudo do cinema e da televisão, modelo 
de vida que pode ser definido como o de pacto com a morte. Passamos parte de 
nossa vida vendo as balas penetrarem na testa de bandidos ou não, 
acostumamo-nos com o jorro de sangue e, em certos casos, experimentamos 
voluptuosa emoção diante dos corpos que tombam. Mesmo os homens mais velhos se 
recordam da influência do cinema nos jogos infantis - e a violência daquele 
tempo era quase inocente, diante da que nos chega, pela televisão, todos os 
dias. Brincava-se, então, de artista e bandido. Os heróis eram artistas, e os 
vilões, os bandidos. Era o mito da "violência positiva", que os 
norte-americanos haviam criado, com suas "short-stories", destinadas a distrair 
os trabalhadores imigrantes do início do século XX, que depois passaram a ser 
filmadas por judeus húngaros, em Hollywood. Ainda que houvesse, em contraponto, 
a arte de Chaplin e outros, o mito da violência acabou prevalecendo. Chaplin 
era um realizador para quem conseguia pensar. 

Hoje, crianças de três, quatro anos, treinam para matar nos vídeo-games, em 
que, do sangue que espirra dos atingidos pelas balas virtuais, só falta o 
cheiro da morte. Os super-heróis ganharam a força dos elétrons.

O Brasil não é pior
Há quem debite a violência brasileira ao nosso caráter. É uma conclusão 
estúpida. O Brasil tem cerca de duzentos milhões de habitantes, e uma exígua 
parcela dessa população se envolve em episódios violentos, seja no campo ou nas 
cidades, maiores e menores. Os criminosos não chegam a meio por cento da 
população. Crimes horripilantes - como os de canibalismo - ocorrem no berço da 
civilização ocidental, que é a Europa, isso sem falar nos Estados Unidos, onde 
meninos de dez, onze anos, matam seus colegas de escola a tiro limpo. As penas 
são pesadíssimas e, em alguns Estados, como o Alabama, o Arizona, e Lousiana, 
crianças de qualquer idade poderiam ser condenadas à morte até 1º de março de 
2005, quando a Suprema Corte proibiu a execução de menores de 18 anos, com base 
na oitava emenda da Constituição, que proíbe castigos cruéis. Nem por isso a 
criminalidade juvenil nos Estados Unidos se viu reduzida. 

A juíza e a policial
A presidente do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie, fez a observação certa: 
os legisladores não podem agir sob a pressão das circunstâncias. É necessário 
ver todos os ângulos do problema. No caso, com toda a diferença biográfica 
entre a jurista e a inspetora de Polícia que se elegeu deputada, as duas se 
encontram do mesmo lado da razão. Para uma é preciso que a lei esteja dentro da 
lógica do direito; para a outra, que conhece a realidade de perto, é muito 
difícil distinguir entre algozes e vítimas. E, já que citamos o rapper MV Bill, 
não podemos desprezar o seu duro libelo, pelo menos no que toca ao tráfico de 
drogas. É o viciado da classe média (ele também uma vítima de um modo de vida 
opressivo) que faz o traficante. E podemos levar o tema mais longe: são os 
viciados norte-americanos e europeus - e os que "lavam" o dinheiro sujo do 
tráfico - que promovem o cultivo da coca na América do Sul e o da papoula no 
Afeganistão, crescente mesmo com a invasão militar estrangeira. É bom não 
esquecer que os ingleses moveram duas guerras contra a China (a segunda delas 
aliados aos franceses) porque o governo chinês proibira o uso do ópio, e a 
puritaníssima Inglaterra, da Era Vitoriana, era exportadora do narcótico, 
cultivado na Índia, para o grande mercado do Império do Meio. O mundo 
anglo-saxão tem todas as razões para temer uma revanche amarela.

Enfim, estas são algumas reflexões para os que não se divertem com o carnaval. 

Other related posts: