[CamaraDas] RES: RES: RES: ENC: Reflexões para os que não se divertem com o carnaval

  • From: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • To: <analistas2002@xxxxxxxxxxxxx>
  • Date: Wed, 14 Feb 2007 18:27:26 -0200

Concordo. O país tem milhões de pobres e miseráveis e a esmagadora maioria não 
parte pra criminalidade para satisfazer seus desejos de consumo. 
A maioria se resigna a trabalhar pelo salário mínimo com toda a dificuldade que 
isso representa. 
Essa de não se querer fazer leis sob comoção é furada. Quando não estaremos sob 
comoção, se a violência é diária, mudando apenas detalhes de como os crimes são 
cometidos? 
Quando, então, procuraremos fazer as alterações necessárias na lei? 
Depois não adianta ficarmos reclamando que no Brasil não se toma atitude, que a 
justiça é fraca, que as penas não são cumpridas, etc, etc,... 
 
Raimundo. 
 


________________________________

De: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx [mailto:analistas2002@xxxxxxxxxxxxx] 
Enviada em: quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007 18:08
Para: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
Assunto: [CamaraDas] RES: RES: ENC: Reflexões para os que não se divertem com o 
carnaval


Alguém ainda acredita nessa sociologia de Woodstock? Eu não empurro ninguém, 
nem para a criminalidade nem pra santidade. Cada um, por favor, que fale por 
si. Ser um facínora assassino é uma escolha, não uma imposição social. 
Desculpem o trocadilho, mas essa de "barriga vazia", ninguém engole mais.

________________________________

De: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx [mailto:analistas2002@xxxxxxxxxxxxx] 
Enviada em: quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007 17:51
Para: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
Assunto: [CamaraDas] RES: ENC: Reflexões para os que não se divertem com o 
carnaval


Matemos todos então, o que esperamos?
Paredão neles!
Ou talvez uma execução nos mesmos moldes dos respectivos assassinatos. Taí, 
seria educador ver uns e outros sendo arrastados pela cidade, queimados, 
executados sumariamente, presos em portamalas e queimados, etc.

________________________________

De: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx [mailto:analistas2002@xxxxxxxxxxxxx] 
Enviada em: quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007 17:40
Para: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
Assunto: [CamaraDas] RES: ENC: Reflexões para os que não se divertem com o 
carnaval


        Lúcio Flávio,
 
        Concordo com o Santayana: se é pra matar os assassinos do João Hélio, 
matemos também os causadores da barbárie. 
        Exceto os sociopatas, ninguém nasce criminoso.
        O assassino é empurrado por nós pro caminho do crime.
        A paisagem carioca seria outra, se cada um dos ociosos endinheirados 
tijucanos redirecionasse a mesada da droga para cursinhos comunitários (como o 
da Associação Debater, da nossa colega Márcia Azevedo).
        Não quero ouvir que esses almofadinhas sofrem de vazio existencial. 
Merecem mais nossa compaixão os que padecem de vazio estomacal.
 
        Jairo.

________________________________

De: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx [mailto:analistas2002@xxxxxxxxxxxxx] 
Enviada em: quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007 16:40
Para: CamaraDas
Assunto: [CamaraDas] ENC: Reflexões para os que não se divertem com o carnaval


Agencia Carta Maior
Mauro Santayana

14/02/2007 

QUESTÃO DE ORDEM
O pacto com a morte
Neste momento em que parlamentares e jornalistas incentivam uma reação 
irracional contra os assassinos do pequeno João Hélio, levantando até idéias 
como a pena de morte, vale discutir como são construídos os criminosos no 
Brasil.
Data: 13/02/2007 
Quando uma jovem da alta classe média paulista - Suzana Richthofen - planejou e 
participou do assassinato de seus pais, trucidados, enquanto dormiam, a golpes 
de barras de ferro pelo namorado e o irmão dele, ninguém pediu a pena de morte 
para a moça. Ao contrário: surgiram comunidades de internautas, dizendo que a 
amavam. Da mesma forma, quando um índio pataxó foi queimado, enquanto dormia, 
para o divertimento de rapazes da alta classe média brasiliense, respeitável 
juíza do Distrito Federal quis desclassificar o crime, a fim de evitar que 
fossem levados ao tribunal do júri. Algumas das pessoas de bem da capital da 
República se mobilizaram, a fim de desculpar os assassinos. Eles estavam apenas 
querendo "brincar" com o índio. Depois se soube que os rapazes estavam sendo 
privilegiados na prisão: um deles saía para freqüentar o curso universitário e, 
entre o fim das aulas e o retorno a uma cela especial da penitenciária, tomava 
cerveja com os amigos.

É claro que nos revolta muito mais a morte de uma criança de seis anos, da 
forma brutal como ela se deu, do que a execução de duas pessoas de meia-idade, 
e a de um remanescente dos bravos tapuias do litoral da Bahia, membro de 
pequena tribo que escapou do extermínio secular. 

A morte por nada
O que choca, ainda mais, no caso do menino João Hélio, é a extrema precariedade 
da vida nas grandes cidades brasileiras. Morre-se sem nenhuma explicação, como 
se todos nós andássemos com uma pistola carregada, jogando a roleta-russa. 
Quando menos se espera, a única bala fica diante do percussor, e o dedo 
invisível das circunstâncias dispara o gatilho. Se a mãe do menino houvesse 
passado pelo local cinco minutos antes, ou cinco minutos depois, talvez nada 
houvesse ocorrido. Ao sair do centro espírita naquele exato momento e ao 
escolher aquele trajeto, a senhora estava, para seu desespero, entregando o 
filho ao despropositado martírio.

Todos nós nos sentimos atingidos pelo crime, mas não temos a mesma carga de 
sofrimento e de ódio que atinge os pais do garoto. Eles têm todo o direito de 
exigir punição mais severa para os criminosos - até mesmo a morte - incluída a 
do menor que participou do assassinato. Se pensarmos no que sentiríamos se isso 
ocorresse a qualquer um de nós, não há limite para o ódio, não há como conter o 
desejo de vingança pessoal. Qualquer pai seria capaz de matar o assassino de 
seu filho, ou de sua filha, como tem ocorrido. A senhora, que matou a facadas o 
adolescente que violentara seu filho pequeno, fez o que muitos de nós seríamos 
capazes de fazer.

Quando crimes tão bárbaros são cometidos há uma reação coletiva irracional. É o 
que está ocorrendo agora, quando se pede a pena de morte para os assassinos do 
pequeno João Hélio. E essa reação é tão mais despropositada quando parte de 
alguns dos mais poderosos meios de comunicação de massa em nosso país. É o 
momento da desforra de parte da classe média contra os que defendem os direitos 
humanos. Jornalistas e parlamentares recorrem aos adjetivos mais fortes, 
arregalam os olhos, gesticulam, pedindo que o Estado exerça vingança implacável 
contra os assassinos. Eles se esquecem de que todos nós, criminosos ou não, já 
estamos condenados à morte. E se esquecem também de que a execução de qualquer 
criminoso, seja jovem ou velho, não é exatamente um castigo. A agonia de um 
condenado dura, quando muito, alguns segundos. Depois disso, é o nada. A prisão 
por bom tempo, nas condições carcerárias do Brasil de hoje, talvez seja punição 
bem pior do que a morte.

A construção de um bandido
Como se faz um criminoso? Os criminosos, salvo os casos de psicopatia 
congênita, são construídos, não nascem feitos. A nova deputada federal Marina 
Magessi, veterana policial carioca, não pode ser apontada como esquerdista, 
fanática defensora dos "direitos dos bandidos". Ao contrário: sempre foi vista 
como "durona" na ação policial. Em recente depoimento à TV Câmara, em companhia 
do rapper MV Bill, Marina Magessi lembrou que o dia mais difícil da sua vida 
foi o do assalto ao ônibus da linha 174, em 2000, no Rio, porque teve que 
prender uma menina de 12 anos, envolvida no incidente. Ela resume o problema, 
ao dizer que nesses episódios não há algozes: só há vítimas. A menina era tão 
vítima como Sandro do Nascimento o assaltante, um sobrevivente do massacre da 
Candelária, que seria assassinado logo em seguida pela polícia, e a jovem Geisa 
Gonçalves, morta durante a intervenção policial.

"Não é a pobreza que leva ao crime, mas, sim, a falta de inclusão" - disse a 
mesma senhora, em outra oportunidade. "No Rio, essas crianças não pertencem a 
nada. Não têm família, não têm igreja, não têm Estado". Se quisermos ir mais 
fundo no problema, devemos deixar os limites das favelas, do Rio de Janeiro e 
do Brasil. Escolhemos nessa pobre cultura universal contemporânea, induzidos 
pelos meios de comunicação de massa, sobretudo do cinema e da televisão, modelo 
de vida que pode ser definido como o de pacto com a morte. Passamos parte de 
nossa vida vendo as balas penetrarem na testa de bandidos ou não, 
acostumamo-nos com o jorro de sangue e, em certos casos, experimentamos 
voluptuosa emoção diante dos corpos que tombam. Mesmo os homens mais velhos se 
recordam da influência do cinema nos jogos infantis - e a violência daquele 
tempo era quase inocente, diante da que nos chega, pela televisão, todos os 
dias. Brincava-se, então, de artista e bandido. Os heróis eram artistas, e os 
vilões, os bandidos. Era o mito da "violência positiva", que os 
norte-americanos haviam criado, com suas "short-stories", destinadas a distrair 
os trabalhadores imigrantes do início do século XX, que depois passaram a ser 
filmadas por judeus húngaros, em Hollywood. Ainda que houvesse, em contraponto, 
a arte de Chaplin e outros, o mito da violência acabou prevalecendo. Chaplin 
era um realizador para quem conseguia pensar. 

Hoje, crianças de três, quatro anos, treinam para matar nos vídeo-games, em 
que, do sangue que espirra dos atingidos pelas balas virtuais, só falta o 
cheiro da morte. Os super-heróis ganharam a força dos elétrons.

O Brasil não é pior
Há quem debite a violência brasileira ao nosso caráter. É uma conclusão 
estúpida. O Brasil tem cerca de duzentos milhões de habitantes, e uma exígua 
parcela dessa população se envolve em episódios violentos, seja no campo ou nas 
cidades, maiores e menores. Os criminosos não chegam a meio por cento da 
população. Crimes horripilantes - como os de canibalismo - ocorrem no berço da 
civilização ocidental, que é a Europa, isso sem falar nos Estados Unidos, onde 
meninos de dez, onze anos, matam seus colegas de escola a tiro limpo. As penas 
são pesadíssimas e, em alguns Estados, como o Alabama, o Arizona, e Lousiana, 
crianças de qualquer idade poderiam ser condenadas à morte até 1º de março de 
2005, quando a Suprema Corte proibiu a execução de menores de 18 anos, com base 
na oitava emenda da Constituição, que proíbe castigos cruéis. Nem por isso a 
criminalidade juvenil nos Estados Unidos se viu reduzida. 

A juíza e a policial
A presidente do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie, fez a observação certa: 
os legisladores não podem agir sob a pressão das circunstâncias. É necessário 
ver todos os ângulos do problema. No caso, com toda a diferença biográfica 
entre a jurista e a inspetora de Polícia que se elegeu deputada, as duas se 
encontram do mesmo lado da razão. Para uma é preciso que a lei esteja dentro da 
lógica do direito; para a outra, que conhece a realidade de perto, é muito 
difícil distinguir entre algozes e vítimas. E, já que citamos o rapper MV Bill, 
não podemos desprezar o seu duro libelo, pelo menos no que toca ao tráfico de 
drogas. É o viciado da classe média (ele também uma vítima de um modo de vida 
opressivo) que faz o traficante. E podemos levar o tema mais longe: são os 
viciados norte-americanos e europeus - e os que "lavam" o dinheiro sujo do 
tráfico - que promovem o cultivo da coca na América do Sul e o da papoula no 
Afeganistão, crescente mesmo com a invasão militar estrangeira. É bom não 
esquecer que os ingleses moveram duas guerras contra a China (a segunda delas 
aliados aos franceses) porque o governo chinês proibira o uso do ópio, e a 
puritaníssima Inglaterra, da Era Vitoriana, era exportadora do narcótico, 
cultivado na Índia, para o grande mercado do Império do Meio. O mundo 
anglo-saxão tem todas as razões para temer uma revanche amarela.

Enfim, estas são algumas reflexões para os que não se divertem com o carnaval. 

Other related posts: