[CamaraDas] RES: Re: Homem de bem

  • From: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • To: <analistas2002@xxxxxxxxxxxxx>
  • Date: Tue, 18 Oct 2005 14:13:23 -0200

            Grupo de Analistas Legislativos da CD - T.L.
            Nefelibatas, CamaraDas, Analistas 2002,3,4,5
            Comunidade no Orkut: "Nefelibatas"
            analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
            Viva o Fredo!!! hahahahaha


Pessoa de bem, pessoa do mal, parece meio simplista.
Meus pais têm uma chácara onde, vez ou outra, passam dias. Eu me sinto muito 
mais tranqüilo sabendo que o caseiro e meu pai têm como se defender. Acredito 
que qualquer pessoa desse grupo, seja partidário do sim ou do não, vai 
concordar comigo. Eu sou a favor da paz, mas vivemos em mundo de contradições. 
Um homem pode, por exemplo, a fim de buscar a paz para consigo mesmo, roubar e 
até matar para dar o que comer a seus filhos. Existem pessoas essencialmente 
más e essencialmente boas em todas os níveis sociais, e todas elas são capazes 
de atos contrários à sua natureza, incluindo vc e eu.



-----Mensagem original-----
De: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx [mailto:analistas2002@xxxxxxxxxxxxx] 
Enviada em: terça-feira, 18 de outubro de 2005 10:22
Para: Jules Rodrigues Pereira; analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
Assunto: [CamaraDas] Re: Homem de bem

            Grupo de Analistas Legislativos da CD - T.L.
            Nefelibatas, CamaraDas, Analistas 2002,3,4,5
            Comunidade no Orkut: "Nefelibatas"
            analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
            Viva o Fredo!!! hahahahaha


Touché! Irretocável; irretorquível.


>From: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
>Reply-To: jules.pereira@xxxxxxxxxxxxx
>To: <analistas2002@xxxxxxxxxxxxx>
>Subject: [CamaraDas] Homem de bem
>Date: Tue, 18 Oct 2005 09:41:53 -0200
>
>IDÉIAS
>
>MARCO AURÉLIO WEISSHEIMER
>
>17/10/2005
>
>
>
>Cuidado, aqui mora um homem de bem!
>
>O debate sobre o referendo trouxe à tona, com força, a figura do homem 
>de bem. Como saber se você é um homem de bem? O jornal Zero Hora 
>oferece ensinamentos preciosos sobre como deve se portar um homem de 
>bem diante do referendo sobre o comércio de armas e na vida em geral.
>
>
>
>Um dos méritos do referendo sobre a proibição do comércio de armas de 
>fogo e munição é o striptease ideológico que vem propiciando, um 
>processo que ajuda a ver com maior nitidez um perfil médio de 
>pensamento que, aparentemente, vem ganhando força e espaço na sociedade 
>brasileira. Esse perfil revela, ao menos no plano discursivo, o 
>surgimento de uma nova categoria social: o homem de bem. Adotado à 
>exaustão pelos defensores da continuidade do comércio de armas de fogo 
>e munição, esse discurso consegue concentrar em uma só expressão todos 
>os preconceitos enraizados em nossa
>cultura: preconceitos de gênero, de classe, étnicos e culturais.
>
>Pode parecer uma bobagem, mas é interessante notar a aparente 
>inexistência de "mulheres de bem" na sociedade. São os "homens de bem" 
>que têm seus direitos ameaçados pela proposta de proibição desse 
>comércio. Esses "deslizes lingüísticos" talvez revelem mais do que 
>aparentam. Mas os preconceitos revelam apenas a ponta do iceberg. Um 
>iceberg que indica claramente a existência de um caldo de cultura 
>radicalmente conservador, que faz do direito à propriedade a mãe de 
>todos os direitos, e que não vem sendo adequadamente tratado pelos defensores 
>do "sim".
>
>É interessante notar que o discurso dos defensores do "não" vem 
>conquistando adeptos mesmo entre uma parcela da sociedade que se 
>considera de esquerda. Parte dela assimila sem maiores dificuldades o 
>argumento dos "homens de bem" que, diante da ineficácia do Estado em 
>garantir a segurança pública, teriam o direito de se defender por conta 
>própria. Uma outra parte adota argumentos mais curiosos, como o do 
>"direito de auto-defesa dos trabalhadores" e da "origem elitista do 
>referendo". Além disso, há também um certo caráter plebiscitário em 
>torno do governo Lula que atravessa, com diferentes inflexões, todas 
>essas posições. Mas a força principal da campanha do "não" parece estar mesmo 
>em torno da figura do "homem de bem".
>
>Para entender o que é exatamente essa figura, algumas perguntas são
>pertinentes: Quantos "homens de bem" existem entre a população brasileira? 
>E quantos "homens do mal"? Quantos "homens de bem" têm armas em suas 
>casas ou pensam em comprar uma? O que define, afinal de contas, um 
>"homem de bem"? Como ele deve se portar?
>
>"Um não responsável"
>A edição desta segunda-feira (17 de outubro) do jornal Zero Hora, de 
>Porto Alegre, ajuda a entender melhor o que pensam os "homens de bem". 
>A publicação do Grupo RBS decidiu, finalmente, sair do armário e 
>assumiu, em editorial, a defesa do "não" no referendo. Um "não 
>responsável", como diz o título do editorial, o que sugere a existência de um 
>"não irresponsável".
>Na mesma edição, o jornal publica uma pesquisa do Centro de Estudos e 
>Pesquisas em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
>(Cepa/UFRGS) indicando que dois terços dos gaúchos apóiam o comércio de 
>armas.
>
>O editorial de ZH comemora o resultado e ajuda a entender também 
>algumas questões de fundo que não vêm sendo explicitadas no debate do 
>referendo.
>Uma delas diz respeito ao próprio recurso ao instrumento do referendo. 
>"Tudo é equivocado nesta consulta popular que lança sobre o cidadão a 
>responsabilidade de decidir sobre um tema extremamente complexo, como 
>se o gravíssimo problema da segurança pública no país pudesse ser 
>resolvido apenas com uma lei respaldada pelo resultado de um referendo 
>popular".
>
>Pobre cidadão brasileiro, chamado a opinar sobre "temas extremamente 
>complexos". O que isso quer dizer? Em primeiro lugar, com a licença do 
>Conselheiro Acácio, quer dizer exatamente o que diz: os cidadãos não 
>devem ser chamados a opinar sobre temas complexos, só sobre temas 
>simples. Que outros temas podem ser considerados "extremamente 
>complexos", pela lógica desse argumento? Vejamos alguns possíveis: Qual 
>deve ser a política de educação do Estado brasileiro? E a política de saúde? E 
>a de comunicação?
>Quais devem ser as prioridades de investimento do Estado? Sobre o que 
>os cidadãos devem opinar?
>
>Segundo o editorial de ZH, os cidadãos devem ser poupados destes temas 
>"extremamente complexos", deixando-os a cargo dos especialistas que 
>realmente entendem do assunto. Sobre o que os cidadãos poderiam opinar, 
>então? Quais seriam os temas simples, sobre os quais suas mentes 
>simples poderiam dar conta? O editorial não avança sobre isso, mas, em 
>um caderno de educação, publicado na mesma edição, trata de um tema que 
>diz respeito ao cotidiano de todos os cidadãos e homens de bem: como educar 
>seu filho?
>Mais uma vez, repete-se o "deslize lingüístico" de gênero. O título do 
>caderno é "Meu filho". Um detalhe menor, certamente. Um descuido. 
>Coerente com a linha do editorial, o caderno ensina a população como 
>tratar de um "tema extremamente complexo", como a educação das crianças.
>
>Como educar seu filho: mercado financeiro, facas e garfos E dá dicas 
>preciosas. "Ensine seu filho a lidar com dinheiro desde cedo. É na 
>infância que ele deve fazer suas primeiras experiências na área 
>financeira. A partir dos 10 anos, apresente seu filho ao gerente de um 
>banco, abra uma conta e explique o funcionamento da agência", ensina 
>Cássia D'Aquino Filocre, consultora em Educação Financeira. Mas, nem 
>tudo é dinheiro na vida e ZH ensina também como as crianças devem se 
>portar à mesa. O ensinamento começa com uma advertência que deve ser 
>dirigida às
>crianças: cuidado, você está sendo observado! E a consultora de 
>etiqueta Célia Ribeiro avisa: garfo na esquerda, faca na direita! "Se a 
>criança ainda não consegue manusear os dois talheres juntos, deve 
>deixar a faca em diagonal depois de cortar a carne, à direita do prato, 
>passando o garfo para a mão direita. Uma etiqueta mais rígida não 
>permite isso, mas os americanos, práticos, adotaram o sistema".
>
>Ufa! Se esses temas já são complexos, imagine só o absurdo de exigir 
>dos cidadãos que opinem sobre temas relacionados à segurança pública. 
>Sempre haverá um consultor para ensiná-los didaticamente a como agir em 
>relação a esses temas.
>
>E o editorial de ZH se propõe a executar essa tarefa. "Diante de 
>tamanha deformação (exigir que os cidadãos opinem sobre temas 
>complexos), a melhor alternativa para os brasileiros já parecer ter 
>sido identificada pela maioria dos rio-grandenses: rejeitar o 
>autoritarismo que retira dos cidadãos o direito básico de providenciar 
>a própria defesa, quando se sabe que o poder público tem sido 
>incompetente para fazê-lo". Ou seja, diante da falência do Estado (de 
>sua ineficácia crônica como não se cansam de repetir os editoriais do 
>mesmo jornal), cada cidadão que providencie sua própria defesa.
>
>"A vida real não deixa dúvidas: os delinqüentes não vão entregar suas 
>armas, nem o Estado tem mostrado capacidade para desarmá-los", 
>acrescenta o texto. "Defendemos que os cidadãos tenham liberdade para 
>exercer todos os direitos assegurados pela Constituição, entre os quais 
>o de decidir a melhor forma de se defender da violência que os ameaça 
>cotidianamente. Por isso, o voto no "não" nos parece ser o que melhor 
>atende aos interesses dos cidadãos", emenda.
>
>Em defesa do risoto de rúcula e do Möet Chandon Afinal de contas, como 
>um pai (para manter a lógica do deslize lingüístico) vai levar seu 
>filho de 10 anos, com segurança, ao banco para ensinar-lhe as primeiras 
>experiências na área financeira? No lado de fora da agência, há uma 
>legião de "homens do mal", prontos para tentar cercear esse direito.
>Como um "homem de bem" vai ensinar ao seu filho que ele "deve deixar a 
>faca em diagonal depois de cortar a carne, à direita do prato, passando 
>o garfo para a mão direita", se a sua casa pode ser invadida a qualquer 
>momento por um "homem do mal" e ele não tem o direito de estourar os 
>miolos deste sujeito na frente do seu filho?
>
>Como um "homem de bem" vai garantir uma noite de princesa para sua 
>filha, na sua festa de 15 anos, com uma recepção para 600 convidados, 
>como revela a coluna social "RSVip", de ZH, se ele não pode cuidar por 
>si próprio da segurança do evento? Como proteger um jantar à base de 
>'risoto de rúcula e mostarda dijon, camarões orientais e espaguete 
>pupunha", tudo regado a Möet Chandon, da invasão de algum "homem do mal"?
>
>Então, como diz o colunista Paulo Sant'Ana, na mesma edição de ZH, só 
>escritores, intelectuais, sociólogos e jornalistas são favoráveis ao 
>desarmamento. "A elite gaúcha é a favor do desarmamento, o povo está 
>contra", afirma. O povo quer garantir seu direito a comer risoto de 
>rúcula com camarões orientais, com um 38 ao lado do prato para qualquer 
>emergência. O povo quer ter o direito de iniciar seus filhos no mundo 
>do mercado financeiro com um cartão de crédito na mão e uma pistola na outra.
>Só mesmo intelectuais elitistas podem defender o desarmamento, diz 
>Paulo Sant'Ana.
>
>O direito de ter uma arma e um carro estrangeiro Intelectuais como Luís 
>Fernando Veríssimo que, na mesma edição de ZH, abre seu voto pelo 
>"sim", dizendo, entre outras coisas, que "dizer que o desarmamento da 
>população a deixaria vulnerável ao crime equivale a dizer que, até 
>agora, a população armada fez um bom trabalho de se defender, o que não 
>é o que mostram as estatísticas". Jornalistas como Rosane de Oliveira, 
>também de ZH, que acredita que "reduzindo o número de armas em 
>circulação pouparemos vidas tiradas em brigas de trânsito, crimes 
>passionais ou acidentes com crianças e adolescentes".
>
>Conversa de elitistas, diz Sant'Ana, que conclui: "Devemos votar não 
>para incrivelmente manter o direito que temos de um dia, quem sabe, é 
>um sonho, podermos ter uma arma ou um carro estrangeiro em casa".
>
>Aí está o sonho dos "homens de bem" que os intelectuais elitistas
>desprezam: uma arma em casa, um carro estrangeiro na garagem (sem pagar 
>muito imposto, de preferência), camarões orientais e Möet Chandon na 
>geladeira, o filho bem informado sobre o funcionamento do mercado 
>financeiro e sobre o correto uso de garfos e facas. O Estado é uma 
>ameaça a esses direitos sagrados. Cabe aos homens de bem resistir a 
>ele, à bala se for preciso. Assim, chegará finalmente um dia em que 
>poderemos ver, na frente da casa de todo cidadão, uma placa advertindo 
>a legião dos "homens de mal" que anda ameaçadoramente pelas ruas: 
>"cuidado, aqui mora um homem de bem"!
>
>
>
>
>Marco Aurélio Weissheimer é jornalista da Agência Carta Maior (correio
>eletrônico: gamarra@xxxxxxxxxxx)


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                                                   Edward De Bono

       
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