Sim, Marchus Achiles, somos todos culpados, inclusive a família do próprio João Hélio, que, assim como eu e você, em algum momento "sonegamos impostos, conduzimos corruptos ao poder..". Só não colocaria nesse balaio Madre Tereza de Calcutá. A maioria de suas sugestões (pena de morte, prisão perpétua, diminuição de maioridade penal...) não diminuíram a criminalidade abaixo e acima do Equador, como você mesmo reconhece. São a ponta do iceberg. A massa invisível permanece potencialmente lá. Concordamos quanto à necessidade de políticas de governo, de educação... Não há saída sem altruísmo, porém. O egoísmo que nos orienta é a raiz de nossos males. E, por fim, Suzane Richtofen foi endeusada no Orkut e ninguém pediu a pena de morte ou diminuição da maioridade penal. Por quê? Porque ela é branca, rica, bem-vestida e bem-educada. ________________________________ De: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx [mailto:analistas2002@xxxxxxxxxxxxx] Enviada em: quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007 19:18 Para: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx Assunto: [CamaraDas] RES: RES: ENC: Reflexões para os que não se divertem com o carnaval Sinceramente, não dá para agüentar mais a máxima "somos todos culpados" pela violência. Isso nos coloca a todos (inclusive famílias como a do João Hélio, afetadas pela barbárie) não no lugar de vítimas, mas de responsáveis indiretos pela violência. Não me considero responsável, assim como não considero responsável a maior parte das pessoas com que convivo ou conheço. Culpado é aquele que sonega seus impostos, conduz demagogos e corruptos ao poder, compra seu pacotinho de coca para agitar o fim de semana se esquecendo de que seu dinheiro vai abastecer arsenais de traficantes, ladrões, assassinos e seqüestradores. Principalmente, responsáveis são os governos, todos, sem distinção de cor ou sigla, que tratam a segurança do cidadão como algo menor, deixando desprotegidas as fronteiras, contingenciando bilhões do orçamento do setor e descumprindo sistematicamente todas as promessas e compromissos de campanha, eleição após eleição. Esses são os verdadeiros culpados. Acho altamente louvável iniciativas como as de ONGs e entidades que tentam trazer um pouco de cidadania a quem não a tem. Violência se combate com educação, inclusão social e emprego. Se combate com ressocialização levada a sério, sem presídios superlotados e com centros de recuperação de menores que não sejam depósitos de adolescentes infratores. Mas também se combate com rigor máximo. Sou a favor da pena de morte (sempre fui) não por achar que ela é uma solução para o crime (até por que nenhuma ação repressiva - seja de que grau for - acabou com o crime). Sou a favor da pena de morte pq acho que monstros como os que mataram João Hélio, incendeiam famílias vivas ou seqüestram crianças e as matam antes de fazer o primeiro contato com os pais pedindo resgate (se lembram do Ives Otta?) são irrecuperáveis e nunca serão dignos de conviver em sociedade. Sou a favor da redução da maioridade penal para 16 anos; Sou a favor da prisão perpétua ou pelo menos endurecimento para TODAS as penas, do mero estelionato ao estupro seguido de morte; Sou a favor de trabalhos forçados para presos, pq o meu, o seu e o nosso dinheiro sustenta essa malta de desocupados Sou contra a construção de presídios em zonas urbanas, pq um muro, seja de que altura for, é muito pouco garantir o isolamento de criminosos Sou contra a progressão de pena para crimes hediondos; Sou contra indulto de Natal, a não ser para criminosos menores como estelionatários e batedores de carteira, pq assassinos deixam os presídios pela porta da frente para praticar barbáries com o beneplácito do governo e do bom velhinho. Marcus Achiles ________________________________ De: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx [mailto:analistas2002@xxxxxxxxxxxxx] Enviada em: quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007 17:40 Para: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx Assunto: [CamaraDas] RES: ENC: Reflexões para os que não se divertem com o carnaval Lúcio Flávio, Concordo com o Santayana: se é pra matar os assassinos do João Hélio, matemos também os causadores da barbárie. Exceto os sociopatas, ninguém nasce criminoso. O assassino é empurrado por nós pro caminho do crime. A paisagem carioca seria outra, se cada um dos ociosos endinheirados tijucanos redirecionasse a mesada da droga para cursinhos comunitários (como o da Associação Debater, da nossa colega Márcia Azevedo). Não quero ouvir que esses almofadinhas sofrem de vazio existencial. Merecem mais nossa compaixão os que padecem de vazio estomacal. Jairo. ________________________________ De: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx [mailto:analistas2002@xxxxxxxxxxxxx] Enviada em: quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007 16:40 Para: CamaraDas Assunto: [CamaraDas] ENC: Reflexões para os que não se divertem com o carnaval Agencia Carta Maior Mauro Santayana 14/02/2007 QUESTÃO DE ORDEM O pacto com a morte Neste momento em que parlamentares e jornalistas incentivam uma reação irracional contra os assassinos do pequeno João Hélio, levantando até idéias como a pena de morte, vale discutir como são construídos os criminosos no Brasil. Data: 13/02/2007 Quando uma jovem da alta classe média paulista - Suzana Richthofen - planejou e participou do assassinato de seus pais, trucidados, enquanto dormiam, a golpes de barras de ferro pelo namorado e o irmão dele, ninguém pediu a pena de morte para a moça. Ao contrário: surgiram comunidades de internautas, dizendo que a amavam. Da mesma forma, quando um índio pataxó foi queimado, enquanto dormia, para o divertimento de rapazes da alta classe média brasiliense, respeitável juíza do Distrito Federal quis desclassificar o crime, a fim de evitar que fossem levados ao tribunal do júri. Algumas das pessoas de bem da capital da República se mobilizaram, a fim de desculpar os assassinos. Eles estavam apenas querendo "brincar" com o índio. Depois se soube que os rapazes estavam sendo privilegiados na prisão: um deles saía para freqüentar o curso universitário e, entre o fim das aulas e o retorno a uma cela especial da penitenciária, tomava cerveja com os amigos. É claro que nos revolta muito mais a morte de uma criança de seis anos, da forma brutal como ela se deu, do que a execução de duas pessoas de meia-idade, e a de um remanescente dos bravos tapuias do litoral da Bahia, membro de pequena tribo que escapou do extermínio secular. A morte por nada O que choca, ainda mais, no caso do menino João Hélio, é a extrema precariedade da vida nas grandes cidades brasileiras. Morre-se sem nenhuma explicação, como se todos nós andássemos com uma pistola carregada, jogando a roleta-russa. Quando menos se espera, a única bala fica diante do percussor, e o dedo invisível das circunstâncias dispara o gatilho. Se a mãe do menino houvesse passado pelo local cinco minutos antes, ou cinco minutos depois, talvez nada houvesse ocorrido. Ao sair do centro espírita naquele exato momento e ao escolher aquele trajeto, a senhora estava, para seu desespero, entregando o filho ao despropositado martírio. Todos nós nos sentimos atingidos pelo crime, mas não temos a mesma carga de sofrimento e de ódio que atinge os pais do garoto. Eles têm todo o direito de exigir punição mais severa para os criminosos - até mesmo a morte - incluída a do menor que participou do assassinato. Se pensarmos no que sentiríamos se isso ocorresse a qualquer um de nós, não há limite para o ódio, não há como conter o desejo de vingança pessoal. Qualquer pai seria capaz de matar o assassino de seu filho, ou de sua filha, como tem ocorrido. A senhora, que matou a facadas o adolescente que violentara seu filho pequeno, fez o que muitos de nós seríamos capazes de fazer. Quando crimes tão bárbaros são cometidos há uma reação coletiva irracional. É o que está ocorrendo agora, quando se pede a pena de morte para os assassinos do pequeno João Hélio. E essa reação é tão mais despropositada quando parte de alguns dos mais poderosos meios de comunicação de massa em nosso país. É o momento da desforra de parte da classe média contra os que defendem os direitos humanos. Jornalistas e parlamentares recorrem aos adjetivos mais fortes, arregalam os olhos, gesticulam, pedindo que o Estado exerça vingança implacável contra os assassinos. Eles se esquecem de que todos nós, criminosos ou não, já estamos condenados à morte. E se esquecem também de que a execução de qualquer criminoso, seja jovem ou velho, não é exatamente um castigo. A agonia de um condenado dura, quando muito, alguns segundos. Depois disso, é o nada. A prisão por bom tempo, nas condições carcerárias do Brasil de hoje, talvez seja punição bem pior do que a morte. A construção de um bandido Como se faz um criminoso? Os criminosos, salvo os casos de psicopatia congênita, são construídos, não nascem feitos. A nova deputada federal Marina Magessi, veterana policial carioca, não pode ser apontada como esquerdista, fanática defensora dos "direitos dos bandidos". Ao contrário: sempre foi vista como "durona" na ação policial. Em recente depoimento à TV Câmara, em companhia do rapper MV Bill, Marina Magessi lembrou que o dia mais difícil da sua vida foi o do assalto ao ônibus da linha 174, em 2000, no Rio, porque teve que prender uma menina de 12 anos, envolvida no incidente. Ela resume o problema, ao dizer que nesses episódios não há algozes: só há vítimas. A menina era tão vítima como Sandro do Nascimento o assaltante, um sobrevivente do massacre da Candelária, que seria assassinado logo em seguida pela polícia, e a jovem Geisa Gonçalves, morta durante a intervenção policial. "Não é a pobreza que leva ao crime, mas, sim, a falta de inclusão" - disse a mesma senhora, em outra oportunidade. "No Rio, essas crianças não pertencem a nada. Não têm família, não têm igreja, não têm Estado". Se quisermos ir mais fundo no problema, devemos deixar os limites das favelas, do Rio de Janeiro e do Brasil. Escolhemos nessa pobre cultura universal contemporânea, induzidos pelos meios de comunicação de massa, sobretudo do cinema e da televisão, modelo de vida que pode ser definido como o de pacto com a morte. Passamos parte de nossa vida vendo as balas penetrarem na testa de bandidos ou não, acostumamo-nos com o jorro de sangue e, em certos casos, experimentamos voluptuosa emoção diante dos corpos que tombam. Mesmo os homens mais velhos se recordam da influência do cinema nos jogos infantis - e a violência daquele tempo era quase inocente, diante da que nos chega, pela televisão, todos os dias. Brincava-se, então, de artista e bandido. Os heróis eram artistas, e os vilões, os bandidos. Era o mito da "violência positiva", que os norte-americanos haviam criado, com suas "short-stories", destinadas a distrair os trabalhadores imigrantes do início do século XX, que depois passaram a ser filmadas por judeus húngaros, em Hollywood. Ainda que houvesse, em contraponto, a arte de Chaplin e outros, o mito da violência acabou prevalecendo. Chaplin era um realizador para quem conseguia pensar. Hoje, crianças de três, quatro anos, treinam para matar nos vídeo-games, em que, do sangue que espirra dos atingidos pelas balas virtuais, só falta o cheiro da morte. Os super-heróis ganharam a força dos elétrons. O Brasil não é pior Há quem debite a violência brasileira ao nosso caráter. É uma conclusão estúpida. O Brasil tem cerca de duzentos milhões de habitantes, e uma exígua parcela dessa população se envolve em episódios violentos, seja no campo ou nas cidades, maiores e menores. Os criminosos não chegam a meio por cento da população. Crimes horripilantes - como os de canibalismo - ocorrem no berço da civilização ocidental, que é a Europa, isso sem falar nos Estados Unidos, onde meninos de dez, onze anos, matam seus colegas de escola a tiro limpo. As penas são pesadíssimas e, em alguns Estados, como o Alabama, o Arizona, e Lousiana, crianças de qualquer idade poderiam ser condenadas à morte até 1º de março de 2005, quando a Suprema Corte proibiu a execução de menores de 18 anos, com base na oitava emenda da Constituição, que proíbe castigos cruéis. Nem por isso a criminalidade juvenil nos Estados Unidos se viu reduzida. A juíza e a policial A presidente do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie, fez a observação certa: os legisladores não podem agir sob a pressão das circunstâncias. É necessário ver todos os ângulos do problema. No caso, com toda a diferença biográfica entre a jurista e a inspetora de Polícia que se elegeu deputada, as duas se encontram do mesmo lado da razão. Para uma é preciso que a lei esteja dentro da lógica do direito; para a outra, que conhece a realidade de perto, é muito difícil distinguir entre algozes e vítimas. E, já que citamos o rapper MV Bill, não podemos desprezar o seu duro libelo, pelo menos no que toca ao tráfico de drogas. É o viciado da classe média (ele também uma vítima de um modo de vida opressivo) que faz o traficante. E podemos levar o tema mais longe: são os viciados norte-americanos e europeus - e os que "lavam" o dinheiro sujo do tráfico - que promovem o cultivo da coca na América do Sul e o da papoula no Afeganistão, crescente mesmo com a invasão militar estrangeira. É bom não esquecer que os ingleses moveram duas guerras contra a China (a segunda delas aliados aos franceses) porque o governo chinês proibira o uso do ópio, e a puritaníssima Inglaterra, da Era Vitoriana, era exportadora do narcótico, cultivado na Índia, para o grande mercado do Império do Meio. O mundo anglo-saxão tem todas as razões para temer uma revanche amarela. Enfim, estas são algumas reflexões para os que não se divertem com o carnaval.