[CamaraDas] Um Juiz Confinado

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  • Date: Tue, 15 Aug 2006 09:30:03 -0300

repassando.
 
 Um Juiz Confinado
 
O jornal O Estado de S. Paulo publicou matéria sobre o juiz Federal de Ponta 
Porã/MS, Odilon de Oliveira, que está morando no fórum da cidade. Em um ano, o 
juiz condenou 114 traficantes e hoje está jurado de morte pelo crime 
organizado. 
  
Odilon de Oliveira, de 56 anos, estende o colchonete no piso frio da sala, puxa 
o edredom e prepara-se para dormir ali mesmo, no chão, sob a vigilância de sete 
agentes federais fortemente armados. Oliveira é juiz federal em Ponta Porã, 
cidade de Mato Grosso do Sul na fronteira com o Paraguai e, jurado de morte 
pelo crime organizado, está morando no fórum da cidade. Só sai quando 
extremamente necessário, sob forte escolta.

Em um ano, o juiz condenou 114 traficantes a penas, somadas, de 919 anos e 6 
meses de cadeia, e ainda confiscou seus bens. Como os que pôs atrás das grades, 
ele perdeu a liberdade. "A única diferença é que tenho a chave da 
minha prisão." Traficantes brasileiros que agem no Paraguai se dispõem a pagar 
US$ 300 mil para vê-lo morto. Desde junho do ano passado, quando o juiz assumiu 
a vara de Ponta Porã, porta de entrada da cocaína e da maconha distribuídas em 
grande parte do País, as organizações criminosas tiveram muitas baixas. 

Nos últimos 12 meses, sua vara foi a que mais condenou traficantes no País. 
Oliveira confiscou ainda 12 fazendas, num total de 12.832 hectares, 3 mansões - 
uma, em Ponta Porã, avaliada em R$ 5,8 milhões - 3 apartamentos, 3 casas, 
dezenas de veículos e 3 aviões, tudo comprado com dinheiro das 
drogas. Por meio de telefonemas, cartas anônimas e avisos mandados por presos, 
Oliveira soube que estavam dispostos a comprar sua morte. "Os agentes 
descobriram planos para me matar, inicialmente com oferta de 
US$100mil."

No dia 26 de junho, o jornal paraguaio La Nación informou que a cotação do juiz 
no mercado do crime encomendado havia subido para US$ 300 mil. "Estou 
valorizado", brincou. Ele recebeu um carro com blindagem para tiros de fuzil 
AR-15 e passou a andar escoltado. Para preservar a família, mudou-se para o 
quartel do Exército e em seguida para um hotel. Há duas semanas, decidiu 
transformar o prédio do Fórum Federal em casa. "No hotel, a escolta chamava 
muito a atenção e dava despesa para a PF."

É o único caso de juiz que vive confinado no Brasil. A sala de despachos de 
Oliveira virou quarto de dormir.       No armário de madeira, antes abarrotado 
de processos, estão colchonete, roupas de cama e objetos de uso pessoal. O 
banheiro privativo ganhou chuveiro. A família - mulher, filho e duas filhas, 
que ia mudar para Ponta Porã, teve de continuar em Campo Grande. O juiz só vai 
para casa a cada 15 dias, com seguranças. 
Oliveira teve de abrir mão dos restaurantes e almoça um marmitex, comprado em 
locais estratégicos, porque o juiz já foi ameaçado de envenenamento. O jantar é 
feito ali mesmo. Entre um processo e outro, toma um suco ou come uma fruta. 
"Sozinho, não me arrisco a sair nem na calçada." 

Uma sala de audiências virou dormitório, com três beliches e televisão. Quando 
o juiz precisa cortar o cabelo, veste colete à prova de bala e sai com a 
escolta. "Estou aqui há um ano e nem conheço a cidade."                       
Na última ida a um shopping, foi abordado por um traficante. Os agentes tiveram 
de intervir. 

Azar do tráfico que o juiz tenha de ficar recluso. Acostumado a deitar cedo e 
levantar de madrugada, ele preenche o tempo com trabalho. De seu "bunker", 
auxiliado por funcionários que trabalham até alta noite, vai disparando 
sentenças. Como a que condenou o mega traficante Erineu Domingos Soligo, o 
Pingo, a 26 anos e 4 meses de reclusão, mais multa de R$ 285 mil e o confisco 
de R$ 2,4 milhões resultantes de lavagem de dinheiro, além da 
perda de duas fazendas, dois terrenos e todo o gado. 
Carlos Pavão Espíndola foi condenado a 10 anos de prisão e multa de R$ 28,6 
mil. Os irmãos Leon e Laércio Araújo de Oliveira, condenados respectivamente a 
21 anos de reclusão e multa de R$78,5 mil e 16 anos de reclusão, mais multa de 
R$56 mil, perderam três fazendas . 
O mega traficante Carlos Alberto da Silva Duro pegou 11 anos, multa de R$ 82,3 
mil e perdeu R$ 733 mil, três terrenos e uma caminhonete. Aldo José Marques 
Brandão pegou 27 anos, mais multa de R$ 272 mil, e teve confiscados R$ 875 mil 
e uma fazenda. 

Doze réus foram extraditados do Paraguai a pedido do juiz, inclusive o "rei da 
soja" no país vizinho, Odacir Antonio Dametto, e Sandro Mendonça do Nascimento, 
braço direito do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. 
"As autoridades paraguaias passaram a colaborar porque estão vendo os 
criminosos serem condenados." O juiz não se intimida com as ameaças e não se 
rende a apelos da família, 
que quer vê-lo longe desse barril de pólvora. Ele é titular de uma vara em 
Campo Grande e poderia ser transferido, mas acha "dever de ofício" enfrentar o 
narcotráfico. "Quem traz mais danos à sociedade é mega traficante. Não posso 
ignorar isso e prender só mulas (pequenos traficantes) em troca de dormir 
tranqüilo e andar sem segurança." 

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