[CamaraDas] aRTIGO: eLIO gASPARI

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  • Date: Wed, 2 Apr 2014 18:56:03 -0300

 André Vargas e o PT 2.0

Quem não se lembra do deputado André Vargas (PT-PR)? Quando o ex-governador
gaúcho Olívio Dutra sugeriu que o deputado José Genoino renunciasse ao
mandato, o companheiro foi-lhe à jugular: "Quando ele passou pelos
problemas da CPI do Jogo do Bicho, teve a compreensão de todo mundo. (...)
Ele está sendo pouco compreensivo. Ele já passou por muitos problemas, né?"

Falso. Olívio Dutra nunca assinou empréstimos fraudulentos, nunca foi
acusado de envolvimento no caso do bicho e jamais foi condenado pela
Justiça. Ao contrário, é uma das poucas lembranças da moralidade petista.

Quem não se lembra desse episódio talvez se recorde da cena em que o
comissário Vargas, vice-presidente da Câmara, saudou seus companheiros com
o punho cerrado, estando ao lado do presidente do Supremo Tribunal Federal.
Parecia um Pantera Negra dos anos 60.

Vargas é um representante do PT 2.0. A repórter Andréia Sadi apanhou-o
voando para as férias nas asas do doleiro Alberto Youssef, figurinha fácil
de inquéritos policiais e poderoso intermediário na Petrobras.

Desde que os jatinhos tornaram-se símbolo de poder e conforto, hierarcas de
todos os partidos recorrem a amigos para não voar com a patuleia.

Vargas, contudo, inovou na justificativa. Disse que cometeu uma
"imprudência". Teria sido imprudência se tivesse entrado por engano no
avião fretado pelo doleiro, depois de ter sido chamado para embarcar num
voo comercial. Não foi imprudência, mas onipotência.

Novo argumento: pediu o jatinho a Youssef porque os voos comerciais estão
muito caros. Certo. A escumalha que vai para a rodoviária por esse mesmo
motivo merece o desconforto porque não tem doleiro amigo.

O melhor momento do companheiro deu-se quando revelou que conhece Youssef
há mais de 20 anos, mas não sabia com quem estava se relacionando. Seria
então a única pessoa que não sabe a atividade de um amigo com quem se
relaciona há mais de 20 anos. Youssef fornece jatinhos para amigos
poderosos desde 2001. Anos depois, frequentou o noticiário do escândalo do
Banestado, passou pela cadeia, refrescou-se colaborando com o Ministério
Público, mas não se livrou de uma condenação.

Numa troca de mensagens com Youssef (cuja atividade comercial Vargas
desconhecia), o companheiro tratou de um interesse da empresa Labogen junto
ao comissário Carlos Gadelha, do Ministério da Saúde. Por coincidência,
essa pequena empresa teria sido usada pelo doleiro para remeter US$ 37
milhões ao exterior.

O amigo de André Vargas não é um doleiro petista, mas um operador
suprapartidário. Já cedeu jatinhos para gente do PFL e tem relações no PP,
pelo menos com o ex-deputado José Janene, um dos ases do mensalão. A
presença de Youssef em negócios da Petrobras, cobrando pedágios a
fornecedores, é um sinal de que mudou de patamar. Ele tratava com o diretor
de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto da Costa, a quem presenteou
com uma Range Rover. Há um enorme cheiro de outro velho escândalo no ar.
Quando por nada, pelas coincidências. Em 2005 descobriu-se que outro
fornecedor da Petrobras presenteara Silvio Pereira, secretário-geral do PT,
com uma Land Rover. André Vargas nunca diria uma palavra contra Silvinho,
pois sabe quão compreensivo ele foi.
[image: elio gaspari]

*Elio Gaspari*, nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde
fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em
2003 por 'As Ilusões Armadas'. Escreve às quartas-feiras e domingos.

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