[CamaraDas] A gripe dos porcos e a mentira dos homens

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  • Date: Thu, 21 May 2009 10:22:39 -0300

Fonte:
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/a-gripe-dos-porcos-e-a-mentira-dos-homens/

A gripe dos porcos e a mentira dos homens

Atualizado e Publicado em 04 de maio de 2009 às 18:12

*A gripe dos porcos e a mentira dos homens
*

*Por **Mauro Santayana*

O governo do México e a agroindústria procuram desmentir o óbvio: a gripe
que assusta o mundo se iniciou em LaGlória, distrito de Perote, a 10
quilômetros da criação de porcos das Granjas Carroll, subsidiária de
poderosa multinacional do ramo, a Smithfield Foods. LaGlória é uma das mais
pobres povoações do país. O primeiro a contrair a enfermidade (o paciente
zero, de acordo com a linguagem médica) foi o menino Edgar Hernández, de 4
anos, que conseguiu sobreviver depois de medicado. Provavelmente seu
organismo tenha servido de plataforma para a combinação genética que
tornaria o vírus mais poderoso. Uma gripe estranha já havia sido constatada
em LaGlória, em dezembro do ano passado e, em março, passou a disseminar-se
rapidamente.

Os moradores de LaGlória – alguns deles trabalhadores da Carroll – não têm
dúvida: a fonte da enfermidade é o criatório de porcos, que produz quase 1
milhão de animais por ano. Segundo as informações, as fezes e a urina dos
animais são depositadas em tanques de oxidação, a céu aberto, sobre cuja
superfície densas nuvens de moscas se reproduzem. A indústria tornou
infernal a vida dos moradores de LaGlória, que, situados em nível inferior
na encosta da serra, recebem as águas poluídas nos riachos e lençóis
freáticos.

A contaminação do subsolo pelos tanques já foi denunciada às autoridades,
por uma agente municipal de saúde, BerthaCrisóstomo, ainda em fevereiro,
quando começaram a surgir casos de gripe e diarreiana comunidade, mas de
nada adiantou. Segundo o deputado Atanásio Duran, as Granjas Carroll haviam
sido expulsas da Virgínia e da Carolina do Norte por danos ambientais.
Dentro das normas do Nafta, puderam transferir-se, em 1994, para Perote, com
o apoio do governo mexicano. Pelo tratado, a empresa norte-americana não
está sujeita ao controle das autoridades do país, nem às suas leis - somente
às leis do país de origem.

O episódio conduz a algumas reflexões sobre o sistema agroindustrial
moderno. Como a finalidade das empresas é o lucro, todas as suas operações,
incluídas as de natureza política, se subordinam a essa razão. A
concentração da indústria de alimentos, com a criação e o abate de animais
em grande escala, mesmo quando acompanhada de todos os cuidados, é ameaça
permanente aos trabalhadores e aos vizinhos. A criação em pequena escala –
no nível da exploração familiar – tem, entre outras vantagens, a de limitar
os possíveis casos de enfermidade, com a eliminação imediata do foco.

Os animais são alimentados com rações que levam 17% de farinha de peixe,
conforme a OrganicConsumersAssociation, dos Estados Unidos, embora os porcos
não comam peixe na natureza. De acordo com outras fontes, os animais são
vacinados, tratados preventivamente com antibióticos e antivirais,
submetidos a hormônios e mutações genéticas, o que também explica sua
resistência a alguns agentes infecciosos. Assim sendo, tornam-se hospedeiros
que podem transmitir os vírus aos seres humanos, como ocorreu no México,
segundo supõem as autoridades sanitárias.

As Granjas Carroll – como ocorre em outras latitudes e com empresas de todos
os tipos – mantêm uma fundação social na região, em que aplicam parcela
ínfima de seus lucros. É o imposto da hipocrisia. Assim, esses capitalistas
engambelam a opinião pública e neutralizam a oposição da comunidade. A ação
social deve ser do Estado, custeada com os recursos tributários justos. O
que tem ocorrido é o contrário disso: os estados subsidiam grandes empresas,
e estas atribuem migalhas à mal chamada "ação social". Quando acusadas de
violar as leis, as empresas se justificam – como ocorre, no Brasil, com a
Daslu– argumentando que custeiam os estudos de uma dezena de crianças,
distribuem uma centena de cestas básicas e mantêm uma quadra de vôlei nas
vizinhanças.

O governo mexicano pressionou, e a Organização Mundial de Saúde concordou em
mudar o nome da gripe suína para Gripe-A. Ao retirar o adjetivo que
identificava sua etiologia, ocultou a informação a que os povos têm direito.
A doença foi diagnosticada em um menino de LaGlória, ao lado das águas
infectadas pelas Granjas Carroll, empresa norte-americana criadora de
porcos, e no exame se encontrou a cepa da gripe suína. O resto, pelo que se
sabe até agora, é o conluio entre o governo conservador do México e as
Granjas Carroll – com a cumplicidade da OMS.

*Data: 01/05/09 06:10*

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