[CamaraDas] Artigo: Elio Gaspari

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  • Date: Sun, 22 May 2016 16:57:50 -0300

Caravana do atraso

Conservador é uma coisa, direita é outra, mas os males de Pindorama nunca
vieram de uma nem da outra. Vieram do atraso que sustenta um pedaço do
andar de cima.

Michel Temer entrou no Planalto com a bandeira da reforma da Previdência.
Ela gira em torno da elevação da idade com que os brasileiros podem se
aposentar. Faz sentido que ninguém vá para a conta da Viúva antes dos 65
anos. Falta explicar como ficarão as pessoas do andar de baixo que estão há
décadas no sistema do INSS. Não foram eles quem quebraram a Previdência.

Foi o atraso. Michel Temer, procurador do Estado de São Paulo, requereu sua
aposentadoria em 1996, aos 55 anos. Desde então, passou a receber R$ 9.300
mensais. Naqueles dias, o cardiologista Adib Jatene, ícone da medicina
brasileira comentava: "Tenho 66 anos de idade e 38 de serviço público. Não
me aposentei". À época, o deputado Temer relatava a reforma da Previdência
dos outros.

O deputado Ricardo Barros, ministro da Saúde de Temer, diz que o SUS deve
restringir suas atividades e aplaude a proliferação de planos privados. Ele
não é freguês do SUS, mas sua campanha recebeu uma doação de R$ 100 mil do
presidente da operadora de saúde privada Aliança. Já o ministro do
Desenvolvimento Social, doutor Osmar Terra, ponderou que é preciso
"oportunizar" a saída de gente do Bolsa Família e que esse cheque não pode
virar "coleira política". Tem toda razão, mas nem todo mundo é capaz de
"oportunizar" um acesso à "coleira" da Odebrecht, que injetou R$ 190 mil na
sua campanha eleitoral.

Como disse Temer ao justificar seu pedido de aposentadoria, tudo foi feito
dentro da legalidade, pois do contrário pareceria que era um "safardana".
Nem ele, nem Barros ou Terra são safardanas. São apenas parte de um enorme
e histórico processo de predominância do atraso.

Os doutores nem novidade são. O patrono do ensino de economia no Brasil é
José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu (1756-1835). Ele foi o primeiro
professor de "ciência econômica" e propagava as ideias do escocês Adam
Smith, o da "mão invisível" do mercado. Quando foi transferido de escola,
Smith ofereceu-se para devolver aos alunos o dinheiro do curso. Cairu
aposentou-se aos 50 anos e nunca deu uma aula.

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*Niquele*

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