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  • Date: Fri, 26 May 2006 11:50:42 -0300

        
Quinta-feira, 25 de maio de 2006        Pág.    
Política        
PSDB e PFL brigam pelo mesmo eleitor    
Maria Inês Nassif       



O PFL rompeu nas eleições passadas com o aliado de dois governos consecutivos e 
retoma agora a aliança com pouca convicção e muito incômodo. Setores 
importantes do partido debitam unicamente à verticalização - a obrigação de 
reproduzir a mesma aliança nacional nas eleições estaduais - a decisão de 
caminhar junto com os tucanos nesse pleito. Existem razões para isso, tanto 
políticas como de ordem interna. 

A maior razão é a política. Nas eleições de 2002, primeiro por conveniência 
eleitoral e depois por exigência do mercado financeiro, o PT deu uma forte 
guinada ao centro. Um governo guiado pelos compromissos assumidos com 
investidores acabou consolidando a posição de Lula e de seu partido no espectro 
de centro-esquerda. Isso empurrou o PSDB, por sua vez, mais à direita - e os 
tucanos acabaram invadindo o espaço eleitoral do PFL. 

Hoje, na avaliação interna de setores importantes do partido dirigido pelo 
senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), há uma canibalização eleitoral dos dois 
aliados. Ambos estão correndo na mesma raia, o que ameaça o PFL no que é o seu 
cacife, uma grande bancada no Congresso Nacional. Nas últimas três eleições 
isso já era fato: o PSDB garantiu boa parte de sua bancada federal com o apoio 
do eleitorado conservador do Sudeste e o PFL debita sua grande força na Câmara 
e no Senado ao eleitor do Nordeste com o mesmo perfil ideológico. A caminhada 
do PSDB acirra a disputa dos dois aliados pelo mesmo eleitor. Desse ponto de 
vista, a escolha de Alckmin, segundo avaliação de líderes pefelistas, restringe 
as chances da aliança voltar ao Palácio do Planalto, já que ideologicamente 
ambos estão aprisionados ao apoio dos mesmos eleitores. 

Dirigentes do PFL não estão felizes com Alckmin

Internamente, o processo de escolha de Alckmin criou sérios problemas. Os 
senadores Jorge Bornhausen e Marco Maciel gastaram todas suas capacidades 
ofensivas e paciências, desde que o partido foi criado, para neutralizar o 
poder de pressão do senador Antonio Carlos Magalhães (BA). ACM teve e tem, 
tradicionalmente, a maior bancada individual do Congresso: leva com ele a cada 
eleição um séquito de leais correligionários baianos, que lhe dão um poder 
próprio dentro da agremiação mesmo alijado do poder decisório do partido 
nacional. Nos últimos anos, aproveitando também uma lenta decadência do líder 
baiano em seu quintal político, a direção tem conseguido imprimir uma certa 
organicidade às decisões partidárias, apenas administrando os ímpetos 
individualistas de ACM. O grupo Marco Maciel-Jorge Bornhausen tinha simpatias 
pela candidatura do tucano José Serra à Presidência, convencido de que as 
posições do ex-prefeito paulista, mais afinadas com a esquerda, pudessem 
empurrar novamente o parceiro do centro ideológico para uma posição um pouco 
mais à esquerda. Com isso, estaria se agregando votos à candidatura da aliança 
e, ao mesmo tempo, as legendas deixariam de disputar os mesmos eleitores para 
os outros cargos. 

A escolha de Alckmin não apenas complicou o arranjo ideológico como fortaleceu 
a posição de Antonio Carlos Magalhães internamente. Atribui-se a vitória da 
candidatura Alckmin sobre a de Serra a uma articulação entre o presidente do 
PSDB, Tasso Jereissati, e o senador do PFL baiano. O apoio de ACM ao 
ex-governador teria sido levado à cúpula do tucanato como o trunfo definitivo 
sobre o seu oponente. Vitorioso na manobra, ACM consolidou-se como o principal 
interlocutor de Jereissati. E isso não está sendo bem digerido pela direção do 
PFL. 

Depois de engolir o prato feito, a banda do PFL que não é ACM deu um revide. A 
escolha do candidato a vice apoiado por Bornhausen, José Jorge (PE), contra o 
de Antonio Carlos Magalhães, Agripino Maia (RN), mostrou uma bancada carlista 
isolada na Câmara. A direção conseguiu avalizar junto à maioria da bancada o 
nome do candidato da direção partidária. Ainda assim, depois de um tempo de 
bonança onde as lutas internas pelo poder foram relativamente neutralizadas, a 
disputa mostra que os tucanos conseguiram desequilibrar novamente o ninho do 
partido aliado. A aliança ACM-Jereissati adia os planos de renovação em curso 
no PFL - a idéia dos atuais dirigentes era a de, já no próximo ano, dar cara 
nova à agremiação, tirando dos cargos de direção os antigos quadros, todos eles 
originários do partido da ditadura, a Arena, depois chamado PDS. É difícil 
imaginar que isso possa ocorrer agora. 

O PFL que não queria Alckmin tentava também um consenso interno em torno de um 
programa econômico que fugisse ao padrão ortodoxo dos governos de FHC e de 
Lula. O partido tem renovado os seus conselheiros econômicos, atrás de um 
modelo que não seja o ultra-liberal. Internamente, alguns mitos tem sido 
derrubados: embora o partido não pense em jogar fora o discurso de austeridade 
fiscal, discute-se intensamente a validade de uma política tão prolongada de 
altos superávits fiscais. Políticas de indução do crescimento são vistas com 
simpatia hoje, mesmo se forem necessárias concessões à ideologia liberal. Da 
mesma forma, admite-se assumir como programa partidário posições sociais mais 
flexíveis - como, por exemplo, o fim da contribuição do aposentado para a 
Previdência Social. Esse debate foge à esfera meramente ideológica: é uma 
tentativa de estabelecer alguma diferenciação conceitual em relação à política 
econômica do governo Lula. Líderes envolvidos nesse debate programático temem, 
ironicamente, que essa discussão esteja mais à esquerda do que suportaria o 
candidato tucano. Mais do que isso, teme-se que um candidato com pouca formação 
na área econômica possa não conseguir coordenar um programa consistente que 
fuja ao padrão dos últimos governos. Há pressões para que Alckmin antecipe seu 
programa.

 
 
 
        
Sexta-feira, 26 de maio de 2006         Pág. B4         
Dinheiro        
LUÍS NASSIF - O PSDB e a centro-esquerda        
        



Está na hora de trazer propostas inovadoras, antes que o partido se transforme 
em um PFL requentado 

O PROBLEMA do PSDB não são as eleições de 2006. É o que será do partido depois 
delas. Aparentemente, os tucanos caíram na armadilha que ajudaram a montar, de 
ataques ao governo Lula. Tomou-se a nuvem por Juno. Houve uma leitura 
equivocada, de confundir o antilulismo de parte da opinião pública com um 
neoconservadorismo radical, grosseiro, sem credibilidade que grassou em parte 
da opinião pública midiática. Ora, o eleitorado tucano nunca foi conservador, 
sempre manteve um diálogo amistoso com entidades de direitos humanos, condenava 
acerbamente o modelo de segurança pública de Paulo Maluf, adotava um discurso 
não-dogmático em relação à economia, defendia a profissionalização do setor 
público, a inclusão social sem paternalismo. Principalmente exercitava um 
discurso não-radical, respeitoso, em torno de idéias. Ou seja, ocupava 
inconteste o campo centro-esquerda progressivo e não-dogmático, modernizante e 
fora dos parâmetros de agressividade da política tradicional. O problema da 
candidatura Geraldo Alckmin não foi apenas o da falta de idéias e de peso 
específico do candidato, mas como conseqüência de uma pefelização perigosa do 
PSDB -muito bem apontada pela colunista do "Valor" Maria Inês Nassif na edição 
de ontem. O PSDB está gradativamente abandonando sua base histórica e 
disputando o eleitorado do PFL -se situam aí, segundo a analista, os conflitos 
entre ambos os partidos. O PFL cumpre adequadamente seu papel de representar o 
eleitorado mais conservador. No entanto, quem fala hoje pelo PSDB? Em lugar da 
visão de Brasil de José Serra, a truculência de Tasso Jereissati, de Arthur 
Virgílio; em lugar das formulações do Instituto Sérgio Motta, a política de 
segurança de Saulo de Castro Abreu/Geraldo Alckmin, com toda sua dose de 
ineficiência. A própria falta de atuação dos caciques do partido nos conflitos 
do PCC mostra essa perda de rumo. Está certo que períodos eleitorais não são 
dos mais adequados para demonstrações de autocrítica. Mas, ao menos, devia-se 
sinalizar a seus simpatizantes que o partido mantém uma visão mais sofisticada 
e menos troglodita de segurança. Com esses impasses, ocorre um processo 
curioso. Os quadros radicais saíram do PT e fundaram suas próprias agremiações. 
As denúncias afastaram da linha de frente as lideranças petistas mais marcadas 
pelas denúncias. Esse afastamento abre espaço para o crescimento de novas 
lideranças, não maculadas pelas denúncias do mensalão, como o governador do 
Acre, Jorge Viana, o prefeito de Recife, João Paulo, o de Belo Horizonte, 
Fernando Pimentel, todos com perfil moderado, de centro-esquerda. E o PSDB que 
tem as idéias e a liderança de José Serra, os estudos de Nakano e Bresser, o 
Instituto Sérgio Motta, os irmãos Mendonça de Barros, a visão de inovação de um 
Pacheco, de saúde de um Barjas, fala po meio de um Tasso e sua truculência 
explícita ou de um FHC e sua tropa de choque refinada. Está na hora de reavivar 
idéias, de trazer propostas inovadoras, antes que o partido se transforme em um 
PFL requentado. 

@ - Luisnassif uol.com.br

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