[CamaraDas] Diga NÃO à Veja e SIM à cultura da paz!

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  • Date: Tue, 11 Oct 2005 14:05:03 -0300

'Não' ao desarmamento, 'sim' ao facciosismo

Alberto Dines*

A matéria de capa da última Veja (nº 1925, 5/10/2005, págs.78-86), sob o
título geral "7 razões para votar não", é um clássico do jornalismo
panfletário, capaz de convencer alguns indecisos por algum tempo e confundir
outros para sempre.

Para começar: a matéria é prepotente e precipitada. Deliberadamente
facciosa, sequer tenta uma isenção formal. Neste início da temporada de
debates sobre o referendo das armas, com ainda três edições antes do 23 de
outubro, ao invés de ensaiar uma progressiva troca de idéias capaz de
suscitar o contraditório e algum esclarecimento antes de se acionar a urna,
a revista berra para o leitor - "Cala boca, você não sabe nada".

Nas edições seguintes será obrigada a subir de tom, esgoelar-se, pisotear a
razão, apelar para emoções ainda mais fortes. Em algum momento desta cruzada
o leitor perceberá que foi ludibriado, não lhe deram tempo para pensar nem
lhe ofereceram alternativas para exercer o seu discernimento.

É evidente que a questão preparada pelo TSE foi mal escolhida e mal
formulada. Também é evidente que a omissão do governo em matéria de
segurança - como em outras questões cruciais dominadas por palavras de
ordem - só favorece o "não" ao desarmamento.

Com a exceção do prefeito paulista José Serra e desde segunda-feira (3/10)
da governadora fluminense Rosinha Mateus, ambos favoráveis ao "sim", nenhuma
autoridade dispôs-se a discutir a questão com as respectivas comunidades.

O poder público retraiu-se, o Estado lava as mãos, esquecido de que na
verdade ele é que está sendo julgado. Entregou a discussão às duas frentes
parlamentares, multipartidárias (que, por isso, não conseguem formular uma
estratégia argumentativa comum) e às ONGs dos dois campos.

Sob o pretexto de não influir, o governo eclipsou-se. Abriu mão de ser
governo. Aos adeptos do "sim" oferece a perspectiva de um milagre, aos
militantes do "não" presenteia com a certeza de que ao cidadão só resta a
opção de defender-se sozinho.

Papel mediador

O vácuo não é só do governo, também é dos partidos. Nenhum deles conseguiu a
unanimidade, todos divididos - o que explica as frentes multipartidárias. O
vácuo está sendo preenchido inicialmente por um bonapartismo do tipo Veja,
em seguida o será pelo cesarismo de algum demagogo tipo Severino escondido
num partido-arapuca.

Veja abdicou da sua capacidade de persuadir. Não confia nela ou não confia
no leitor. Prefere o rolo compressor da argumentação curta, frenética e
fartamente ilustrada. Aquele recurso das páginas 78-79 é pura propaganda,
nenhum parentesco com jornalismo. Ao lado de um "inocente" revolver calibre
38 o título proclama: "O referendo pode proibir a venda desta arma..."; e
conclui, na página frontal: "...mas nada pode fazer para tirar este arsenal
das mãos dos bandidos" - e mostra 32 granadas e sacos de munição de grosso
calibre.

A comprovação do facciosismo de Veja foi dada na primeira rodada do horário
do TSE, na segunda-feira, quando a matéria de capa publicada dias antes foi
exibida pelo partido do "não" como argumento definitivo em favor de suas
teses. Parecia jogada ensaiada.

Referendos e plebiscitos em países com partidos inconsistentes - e desde que
ministrados em doses apropriadas - podem aumentar o grau de participação
popular e agilizar a tomada de decisões. Sem uma imprensa lúcida,
responsável, capacitada para o seu papel mediador, tanto o "sim" como o
"não" podem tornar-se exercícios fúteis, espécie de "cara ou coroa" para
decidir o destino de uma nação.

* Alberto Dines é jornalista, editor do Observatório da Imprensa

Publicado no Observatório da imprensa em 4/10/2005



VEJA mente


Josephine Bourgois*



Com qualificativos dignos de um exercício Goebbeliano e indignos de
profissionais de jornalismo, a VEJA, na sua edição de 01/10, afirma: “A
pergunta que será feita no referendo é um disparate. Ela ilude o eleitor. É
uma trapaça”. A verdadeira “trapaça” é a pseudo-cobertura do referendo do
desarmamento pela VEJA, que já começa com um erro crasso na capa da revista,
confundindo a população que deveria informar, trocando os números das opções
de voto na foto da urna eletrônica. A Revista não se deu ao trabalho nem de
estudar o básico que são os números do Sim e do Não no referendo e errou na
capa, assim como errou – para dizer o mínimo – nos argumentos panfletários
com que recheou seu libelo às armas.



Passando por cima do Estatuto do Desarmamento, que em seu artigo 35 já
definiu a pergunta a ser feita no referendo do dia 23, a VEJA propõe uma
reformulação da pergunta: “O Estado brasileiro pode tirar das pessoas o
direito a comprar armas de fogo e munição?”



Imaginem um referendo assim: “O Estado brasileiro pode tirar das pessoas o
direito de andar a 250 km/hora?” ou “O Estado brasileiro pode tirar das
pessoas o direito de comprar remédios de tarja preta?” Apesar de as pessoas
concordarem plenamente com a proposta subjacente, a formulação deixaria a
entender que está sendo cometido um abuso de autoridade e não implementada
uma política de redução de dano. O discurso direitista ganharia até do
código do transito! O mesmo acontece com as armas de fogo.



Feita essa comparação, talvez apareça mais claramente a linha editorial da
VEJA: é a linha da propaganda eleitoral do “não” com as mesmas palavras e
mesmas mentiras. São inúmeras as informações comprovadamente falaciosas
usadas pela revista. Seria possível rebater cada uma delas. Isso foi feito
durante conversas telefônicas prévias entre jornalistas da revista e
especialistas na questão.



Veja que coisa grave: não se trata de mera ignorância da revista a opção por
publicar dados absolutamente falaciosos, pois eles tiveram acesso aos dados
corretos, com fontes confiáveis, mas preferiram a má fé para enganar seus
leitores.



Com isto em vista, decidimos apresentar ao leitor uma amostra de
manipulações às quais ele foi submetido, para que conclua depois sobre o
conjunto da obra. Muito além do debate sobre o Sim ou Não, está em jogo o
destino de 39 mil brasileiros que perdem suas vidas anualmente para as armas
de fogo e o caminho para a construção de uma sociedade menos violenta.



Armas do bem X Armas do mal



No inicio da matéria, VEJA afirma: “Para funcionar, o referendo da proibição
do comércio de armas no Brasil precisaria da concordância de outros países
(que vendem armas ilegalmente aos bandidos brasileiros)”. Isso seria verdade
se a maior parte do armamento ilegal fosse estrangeira. Na realidade, como
comprovam as pesquisas às quais a VEJA teve acesso mas escolheu não publicar
por irem ao encontro dos interesses de quem defende, é a industria nacional
que abastece a criminalidade.



Pergunte ao Marcelo Yuca de que marca são as balas que se alojaram no seu
corpo durante o assalto que o deixou paraplégico? Como a maioria dos 108
brasileiros mortos e 50 feridos por dia por arma de fogo, ele foi atingido
por munições tupiniquins, oriundas do monopólio da CBC (Companhia Brasileira
de Cartuchos). A alegação de que o problema vem de fora é uma tentativa de
desviar a atenção do problema principal. Pesquisa da Secretaria de Segurança
Pública do Estado do Rio de Janeiro lançada este semana comprova que dois
terços (61%) das armas apreendidas com criminosos no Rio de Janeiro nos
últimos seis anos pertencem ou pertenceram aos chamados “cidadãos de bem’,
sem envolvimento com o crime; 81% delas foram fabricadas no Brasil, contra
apenas 19% de estrangeiras.



A arma usada pelo criminoso é o revolver 38 da Taurus que ele rouba nas
casas, em assaltos e furtos.



Experiência Internacional



Grande parte da argumentação da Veja, com direito a gráficos e ilustrações,
consiste em afirmar que experiências internacionais de desarmamento foram
fracassos e que nada tem a ver a disponibilidade de armas com os níveis de
mortalidade encontrados em vários países.



A revista afirma que “os países que proibiram a venda de armas tiveram
aumento de criminalidade e da crueldade dos bandidos”. É conhecida a feroz
“crueldade” dos bandidos britânicos e australianos, países desarmados, ao
contrário da meiguice dos criminosos brasileiros, países onde armas correm
soltas há décadas...



A procuradoria geral da Austrália já entrou em 2000 com um recurso contra um
e-mail da NRA (Associação Nacional de Rifles, lobby das armas
norte-americano) que divulgava os dados mentirosos hoje reproduzidos pela
VEJA. A experiência da Austrália, aclamada internacionalmente, comprova que
a proibição votada em 1996 trouxe grandes benefícios para a segurança
pública deste pais, conforme informa o governo da Austrália
(http://www.aic.gov.au). Estudo publicado pela Professora J.Ozanne-Smith, da
Monash University (Victoria, Austrália) na revista Injury Prevention
2004;10:280–286[1] chegou à seguinte conclusão : “Reduções dramáticas foram
alcançadas na taxa geral de mortes por arma de fogo no contexto da
implementação da reforma da regulação sobre armas de fogo”. De fato, desde a
aprovação da nova lei, em 1996, o número total de mortes diminuiu 43% e a
taxa de homicídios por arma de fogo caiu 50%. Um habitante da Austrália
corre 90 vezes menos risco de morrer num homicídio com arma de fogo do que
um brasileiro.



No carnaval de dados apresentados pela Veja, oriundos de fontes tão sérias
quanto o “Movimento Viva Brasil” – ONG recém criada para defender os
interesses da indústria de armas no referendo e que nunca realizou uma
pesquisa da sua curta existência -, é importante destacar os erros mais
graves.



Por exemplo, desmentir a idéia de que na Suíça, armas não matam. Na Suíça,
quase todos os cidadãos adultos de sexo masculino são membros permanentes do
exército e possuem armas de uso militar em casa. Resultado: a Suíça
apresenta a segunda maior taxa de mortes por arma de fogo entre os paises de
alta renda e vem em terceiro lugar no mundo depois dos Estados Unidos e
Finlândia no que diz respeito a suicídios por arma de fogo (OMS, 2002).
Entre 16 outros paises europeus, a Suiça apresentou a maior taxa de
violência contra a mulher com arma de fogo (Prof. Martin Killias,
http://www.construire.ch/SOMMAIRE/0031/31entre.htm).



De fato, o Rio Grande do Sul é um pouco a Suíça do Brasil: lá tem muitas
armas e poucos homicídios. Porem, é o estado brasileiro com maior taxa de
suicídio e taxa de suicídio por arma de fogo (Datasus, 2002). Nesses
contextos, onde o controle social e o desenvolvimento permitiram conter a
criminalidade, o fácil acesso às armas se traduz em taxas elevadas de
homicídios inter-pessoais, acidentes e suicídios.




Desarmamento e ditaduras



Por ultimo, a VEJA comete um crime intelectual quando afirma: “A historia
mostra que restringir o acesso da população às armas é uma das primeiras
medidas de qualquer regime totalitário. Hitler (...) está entre os que
proibiram o povo de possuir armas”. Manipulando a Historia mundial, os
defensores das armas querem vender a idéia de que o desarmamento é uma
medida ditatorial, preâmbulo dos maiores genocídios! Se tivesse aberto um
livro qualquer de historia ao invés de confiar em emails apócrifos que
circulam na internet, a VEJA não teria publicado esse absurdo. Ou será que
decidiu deliberadamente publicar um fato desmascarado como sendo uma das
mais perniciosas mentiras usadas pelos amantes das armas?



Dizer que Hitler desarmou a Alemanha para instaurar uma ditadura responsável
pelo maior genocídio de todos os tempos é proferir mentira.  Na Alemanha, a
lei de controle de armas  (Waffengesetz) entrou em vigor em 1928 sob o
regime da jovem e vulnerável República de Weimar. A lei visava
especificamente desarmar as recém-formadas milícias privadas, isto é, os
exércitos Nazistas conhecidos como “camisas pardas”. O controle de armas na
Alemanha não foi implementado pelos Nazistas, bem pelo contrario, foi
concebido contra eles, a fim de preservar o estado de direito.



Pode-se dizer que a lei foi bem sucedida: em 1933, os nazistas chegaram ao
poder pelas urnas e não pelas armas. Em 11 de novembro de 1938, o III Reich
promulgou outra lei, desta vez para servir aos interesses do Hitler,
proibindo que judeus alemães comprassem armas. Como explica o jornalista
Marcos Rolim em artigo sobre o tema: “Esta lei surgiu dentro de uma política
amplamente favorável ao uso de armas pelos "cidadãos alemães de bem". (...)
Qual foi, então, a política nazista para as armas de fogo? A de que elas
deveriam ser consideradas um direito dos ‘cidadãos alemães, ordeiros e
cumpridores da lei’. Já os ‘bandidos comunistas e os capitalistas judeus’
não poderiam ter armas. Então, ironicamente, a posição de Hitler quanto às
armas de fogo era, na verdade, muito mais próxima daquela sustentada hoje
pelo lobby das armas.” E a partir desta semana, pela revista Veja.



Aqui foram expostas algumas das inverdades veiculadas pela revista.
Ameaçando o direito à informação de todos os cidadãos brasileiros que vão
participar do primeiro referendo da história do Brasil, a VEJA deu um tiro
no espírito democrático encarnado por essa eleição.



Todos os pesquisadores e especialistas em segurança pública no Brasil estão
do lado do SIM; os Comandantes das Polícias mais importantes do País também.
Assim como estão do lado do desarmamento os prinicipais sindicatos,
movimentos sociais, ongs contra a violência e representantes de todas as
religiões. Estas pessoas optam pelo SIM pois reduzir o número de armas em
circulação reduzirá as mortes em nosso país.



Aliás, segundo o SUS e a UNESCO, em pesquisas recém publicadas, só o
Estatuto do Desarmamento, em seu primeiro ano (2004), já ajudou a reduzir em
8,2% o número de mortes por armas de fogo em nosso país. Foram 3.234 vidas
salvas apenas em um ano, revertendo uma tendência de 13 anos consecutivos de
aumento das mortes com armas em nosso país. Veja também considerou esta
informação pouco importante.



Não é por interesse financeiro nem por aversão irracional às armas que quem
trabalha contra a violência vota SIM. É porque são pessoas bem informadas.
Faça o mesmo.




[1] http://ip.bmjjournals.com/cgi/content/abstract/10/5/280



*Josephine Bourgois é pesquisadora do Viva Rio.









___VOTE 2! VOTE SIM!___

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