A lógica da dissidência Por: Sidnei Liberal <mailto:redacao@xxxxxxxxxxxxxxxxxxx> A situação mundial após a queda do muro de Berlim torna imperiosa a necessidade de resistência contra as ações neoliberais de interesse do grande capital internacional e, ao mesmo tempo, de reconstrução da ideologia da justiça social. Nesse sentido, é hora de aprender com os erros do passado e de acumular forças com vistas a renovar os legítimos instrumentos de condução do movimento social no rumo da liberdade e da paz. E um desses instrumentos é justamente o PT que, ao lado das diferentes forças democráticas e de esquerda, notadamente na América Latina, tem conseguido avanços inestimáveis em contraposição à sistemática agressão do imperialismo estadunidense. E na luta por um mundo mais justo. Com esse entendimento, considero equivocada e extemporânea a debandada de alguns expoentes do Partido dos Trabalhadores, que deixam o partido justamente no momento em que mais se exige a reafirmação dos princípios ideológicos da sua história. Que é a história mesma do movimento social e dos trabalhadores brasileiros nas últimas décadas. Não fossem algumas dessas personalidades figuras de reconhecida contribuição à democracia brasileira e à luta do seu povo, poderíamos falar em traição. Em respeito, prefiro chamar equívoco. Suas atitudes revelam-se antidemocráticas por serem decorrentes e condicionadas a resultado de processo interno partidário. E resultam irresponsáveis, pois reforçam a posição da direita reacionária e golpista que busca retomar o poder e, dessa forma, inviabilizar um governo de caráter popular e democrático. Ou não é verdade que os atores institucionais de sempre, tucanos e corvos do PFL, apoiados na grande mídia subserviente - secundados por oportunistas travestidos de puritanos, como Freires, Gabeiras, Heloisas - conquistam cada vez mais os holofotes da ação desagregadora e deletéria? Não podemos deixar de reconhecer que, embora ainda de forma débil, o governo Lula avança, com firmeza, em posições que notoriamente contrariam os interesses da elite. Bom lembrar que foram interrompidas as ações políticas de caráter neoliberal, de dilapidação do patrimônio nacional, implementadas pelo governo anterior e que este governo posicionou-se claramente em atitude de independência em relação à política expansionista do imperialismo estadunidense. Independentemente da análise do governo Lula, a debandada petista é irresponsável e inconseqüente, pois agride toda a história recente da organização e da luta dos trabalhadores e do movimento social brasileiro. Prioriza os interesses imediatos referentes aos mandatos parlamentares e, por isso mesmo, é contemplada, em curtíssimo prazo, pela claridade dos focos midiáticos - instrumentos consagrados da elite nacional interessados no sangramento do governo Lula e na desagregação do seu principal instrumento de representação popular, o Partido dos Trabalhadores. Esses companheiros vêm reforçar a atitude de muitos outros que - por inconsistência ideológica e, por isso mesmo, desinteressados em resistir ao pensamento único do grande capital - aventuram-se, irresponsavelmente, em busca de ganhos pessoais, igualando-se, dessa forma aos ACMs, Bornhausens, Maias, Goldmans e outras estrelas maiores e menores da consagrada constelação hipócrita e reacionária. Essa gente - todos sabemos - está interessada em enlamear o PT e o governo Lula não por desprezo à corrupção ou apego a princípios éticos. Isso não é o forte deles. Eles querem é tão somente a retomada do poder para recuperar o governo do compadrio impatriótico e submisso. E, nesse desidério, recebem - com muito prazer e com farta recompensa de mídia - o inestimável reforço dos aventureiros, embalados pela doença infantil esquerdista dos falsos revolucionários. Agora - para ampliar a força dessa gente - surge o grande equívoco. Com base num falso moralismo, figuras históricas admiráveis, da densidade de um Plínio ou de um Bicudo, jogam as respectivas toalhas e, deliberadamente, numa atitude antidemocrática, arriscam esfacelar o partido que lhes permitiu, por muito tempo, praticar a sua luta com base em ideário justo. Não percebem que o PT - por sua história de luta - tem sido o principal instrumento de transformação da nossa sociedade em busca da igualdade de oportunidade, da justiça social e que, por isso mesmo, é muito maior do que Delúbios e Silvinhos. O Partido dos Trabalhadores é muito mais importante que milhares de Heloisas ou de Babás. E, seus militantes, com os instrumentos democráticos internos de atualização política e de renovação ideológica, saberão resgatar uma compreensão privilegiada da nossa realidade. E, apoiados no conjunto das forças democráticas e populares, farão o PT retomar seu grande papel na construção das condições objetivas que permitirão o grande avanço da sociedade brasileira. É esse o perfil ideológico que justificou a fundação do Partido dos Trabalhadores e que queremos no caminhar da luta. Sidnei Liberal é presidente do Conselho Regional de Medicina do DF e ex-membro da Executiva Nacional do Comitê Central do PCB. Hoje é filiado ao PCdoB. Essa publicação é de responsabilidade de Publisher Brasil Editora e Publicidade Ltda. Todos os direitos reservados. Os textos contidos neste sítio podem ser reproduzidos, desde que citada a fonte. Publisher Brasil 2003