[CamaraDas] Há 3 anos...

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  • Date: Thu, 29 Dec 2005 10:38:40 -0200

29/12/2002

CLÓVIS ROSSI

Seduções e compromissos
SÃO PAULO - O velho discurso social do PT ressurgiu finalmente anteontem na
apresentação do futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a seus colegas
de gabinete.
Depois de um período em que tocou só a música que os mercados adoram ouvir,
Palocci constatou: "Temos consciência de que os votos recebidos por V.
Excia. [Lula] vieram para corrigir a excessiva sedução pelos mercados que
marcou a atuação do governo nos últimos anos".
O restante do texto dividiu-se entre considerações de ordem técnica sobre
política econômica responsável, a novidade no discurso do PT, e a antiga
ênfase na necessidade de atacar a obscena desigualdade que é a chaga aberta
no organismo brasileiro.
Já aprendi que discurso é discurso, e nem sempre as palavras correspondem à
prática administrativa. Tome-se, por exemplo, o discurso de Fernando
Henrique Cardoso na sua primeira posse. A ênfase foi a mesma de Palocci
anteontem: combate à pobreza e à desigualdade.
A pobreza até que se reduziu, graças ao Plano Real, uma obra do governo
Itamar Franco, embora assinada pela equipe econômica montada por Fernando
Henrique. Mas a desigualdade não se moveu nem um milímetro sequer.
De todo modo, discursos têm um papel simbólico importante: podem servir para
cravar na agenda pública o que é relevante e o que é secundário na ação do
governo. No caso de FHC, o discurso inicial foi sendo claramente arquivado
em benefício do que Palocci classificou de "excessiva sedução pelos
mercados".
O problema é o limite curto dos discursos se não forem seguidos por ações
ou, ao menos, por outros movimentos simbólicos. Palocci já anunciou que a
prioridade imediata é a taxa de câmbio, seguida de "reduzir ansiedades" e de
"buscar o fluxo normal dos financiamentos e a extrema responsabilidade no
gasto público".
Nada contra. O diabo é se tais prioridades podem tomar tempo suficiente para
que "a sedução pelos mercados" suplante, de muito, o compromisso com o
social.














NickeLeus L.P. Zemborian, também conhecido como CocoLoco,

fã incondicional de rap, heavy metal e música instrumental,

é presidente do Departamento de Geloterapia Cibernética

e Terrorismo Digital do Partido dos Revolucionários Flamenguistas.

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