[CamaraDas] Janio

  • From: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • To: "CamaraDas" <analistas2002@xxxxxxxxxxxxx>
  • Date: Thu, 29 Dec 2005 10:21:59 -0200

JANIO DE FREITAS

Votar para quê?
Enquanto a campanha contra o voto para deputado carrega as baterias, é tempo
ainda de pensar em uma pergunta: não seria melhor, em vez de recusar o voto,
aceitar o trabalho de escolher criteriosamente um candidato? Sob certas
condições, a recusa do voto é atitude política e democrática, e já foi assim
na ditadura. Mas, em situações como a atual, pode ser o oposto, pode
traduzir-se, na prática, em recusa a colaborar na construção da
democracia -tarefa pra lá de cansativa, mas sem alternativa.
É certo que a possibilidade de escolha criteriosa está limitada a uma parte
do eleitorado. As camadas desprovidas de condições culturais e materiais de
acesso à informação cotidiana, na qual garimpar as razões da sua opinião,
ficam indefesas diante da vigarice com nome de política. É injusta e
inverdadeira a idéia de que o Congresso é ruim porque essas camadas votam
mal, seduzidas com facilidade por promessas de benefícios e por recompensas
chinfrins. Seus votos decorrem do nível de instrução e de informação, mas
sobretudo são reflexos de necessidades e de objetivos completamente
diferentes dos comuns às camadas favorecidas. E de modo geral mais
justificados e mais respeitavelmente humanos.
Também é certo que o cuidado antes do voto não é garantia de conduta
satisfatória do votado, se eleito. O que estamos vendo nesses dias é a
mistura, no mesmo cofre sórdido, de eleitos pelo eleitorado desfavorecido e
de eleitos também pela elite cultural e social paulista, além de outras
menos cotadas. Qual desses eleitores "vota mal", "não sabe votar"?
Nenhum voto deixa de ser um risco. Aí não está, porém, motivo para
menosprezar a possibilidade de votar. É motivo, isso sim, para reduzir o
risco ao mínimo possível, como faz quem dirige direito, atravessa ruas com
atenção, enfim, "não marca bobeira", no dizer dos nossos atuais orientadores
culturais. Quem está indignado, a ponto de não querer votar, é quem mais
deve votar -para que haja, talvez, a oportunidade de reduzir as tão variadas
motivações de indignação. O que falta na política brasileira, e causa a sua
deterioração crescente, não é a repulsa de fora, é a maior mobilização
exigente sobre e em torno dos políticos de todos os níveis e quadrantes.
Como um cerco, mesmo.
Se o Congresso melhora ou piora, a política e os governos melhoram ou
pioram, e tudo o mais melhora ou piora. Ainda ontem os deputados receberam
R$ 12.847 de "ajuda de custo". Essa é a denominação. Na realidade, é o 15º
salário. Pois é, são 15 salários por ano. Uma "ajuda" em dezembro porque se
encerra o ano legislativo, outra no começo do ano porque se inicia o ano
legislativo, o 13º e os 12 mensais. Sem contar os salários dobrados pela
convocação extraordinária, que está em curso neste mês de plenas férias e
assim continuará até 16 de janeiro.
Deputado deve ganhar bem, mas para trabalhar. Não para beneficiar-se de um
sistema em que só nas quartas-feiras sua ausência infringirá as normas,
ainda assim, em termos. E desde que a quarta-feira não esteja em semana com
algum feriado, caso em que a semana mesma vira feriado. Mudar o atual
sistema com recusa de votar? Com voto criterioso é difícil, sem ele é
impossível. Pior: sem ele, menos ou mais tarde a coisa vai estourar, de
algum modo vai estourar.




Other related posts:

  • » [CamaraDas] Janio