> MAURO SANTAYANA <mailto:maurosantayana@xxxxxxx> > > A CPMI dos Correios ultrapassou ontem o Rubicão, ao aprovar a abertura dos > discos rígidos dos computadores apreendidos nos escritórios do banqueiro > Daniel Dantas. Recolhidos à Polícia Federal, estavam protegidos pela Justiça, > em nome do sigilo bancário. Como a CPI tem poder para isso, sua decisão terá > que ser imediatamente cumprida. > No momento da votação do requerimento, houve nervosa reação dos > oposicionistas, alguns de notórias ligações com Dantas. Eles sabem que foi > transposto o ponto de não retorno. Se tais discos não se encontram vazios, > como vazio estava o famoso cofre de Marcos Valério, deles surgirão provas > importantes para explicar por que Dantas pôde crescer tanto sob o consulado > do PSDB e do PFL. Os registros poderão explicar suas relações privilegiadas > com o governo chefiado pelo Fernando Henrique Cardoso. Não ficaram nisso os > êxitos da Comissão ontem. Com a abertura do sigilo bancário de 11 corretoras, > será possível rastrear as atividades dos grandes doleiros. Foi também > aprovado o pedido da lista de investidores no Opportunity Fund às autoridades > das Ilhas Cayman. De acordo com a lei, as pessoas físicas brasileiras não > podem investir nessa modalidade de fundos no exterior - mas há suspeitas de > que Dantas tenha violado a proibição. > Todos esses arquivos poderão abrir caminho aos grandes segredos do Banco > Central. A provável reabertura da CPI do Banestado, os registros dos grandes > doleiros, mais as atividades do Opportunity, mostrarão até que ponto houve a > cumplicidade da instituição em todas essas atividades danosas ao Brasil. > O Banco Central tem sido acusado de negligência no acompanhamento das > atividades bancárias no país. Não têm sido poucos os bancos que vão à > falência fraudulenta, dando imensos prejuízos ao povo, uma vez que o Banco > Central neles intervém para garantir os créditos de terceiros. Como foram > possíveis as operações do Banco Rural com Marcos Valério, sem que delas > tivesse conhecimento o Banco Central? E o que dizer das contas fantasmas do > Banco Nacional? > No caso da evasão de divisas pela fronteira de Foz de Iguaçu, ficou claro que > o Banco Central fora o principal responsável, ao autorizar aquele tipo de > operações, mediante simples portaria. Talvez pressentindo que as > investigações chegarão ao edifício negro da Quadra das Autarquias, Paulo > Bernardo, com o apoio declarado do ministro Palocci, quer ajudar o PSDB e o > PFL a aprovar a imediata autonomia do Banco Central. No momento em que essa > autonomia for obtida, se o governo Lula arriscar-se a tanto, a caixa preta do > Banco Central estará selada para sempre. Jamais o Brasil conhecerá, em suas > devidas dimensões, o que tem sido o conluio das autoridades econômicas com os > grandes bancos nacionais e estrangeiros. > Os segredos de Daniel Dantas são os segredos dos seus sócios e amigos, Pérsio > Arida, André Lara Resende, Luís Carlos Mendonça de Barros, e tantos outros > "magos" do mercado de capitais. E todos esses segredos poderão ser > desvendados no momento em que a caixa preta do Banco Central for aberta. > Conforme os achados nos registros de Dantas, provavelmente o Congresso irá, > como o mais alto poder da República, exigir investigação exaustiva nos > arquivos da instituição. > É sempre bom relembrar o passado, como nesse diálogo em favor de Daniel > Dantas, gravado durante a privatização das teles: > Luís Carlos Mendonça de Barros a André de Lara Resende: "Temos que fazer os > italianos na marra, que estão com o Opportunity. Combina uma reunião para > fechar o esquema. Eu vou praí as seis e trinta e às sete horas a gente faz a > reunião. Fala para o Pio que vamos fechar, daquele jeito que só nós sabemos > fazer". Luís Carlos Mendonça de Barros a Ricardo Sérgio, diretor do Banco do > Brasil: "Está tudo acertado, mas o Opportunity está com um problema de fian> > ça. Não dá para o Banco do Brasil dar?" Ricardo Sérgio a Mendonça de Barros: > "Acabei de dar. Dei para a Embratel e 874 milhões para o Telemar. Nós estamos > no limite da nossa irresponsabilidade". > Mendonça de Barros ao presidente Fernando Henrique: "A imprensa está muito > favorável com os editoriais". FHC a Mendonça de Barros: "Está demais, né? > Estão exagerando, até". >