Até terrorismo dá poesia boa. A autora é Nobel de Literatura de 1996. Tradução de Nelson Ascher. * O terrorista, ele observa * A bomba explodirá no bar às treze e vinte. Agora são apenas treze e dezesseis. Alguns terão ainda tempo para entrar. Alguns, para sair. O terrorista já está do outro lado da rua. A distância o protege de qualquer perigo. É bom, é como assistir a um filme. Uma mulher de casaco amarelo, ela entra. Um homem de óculos escuros, ele sai. Jovens de jeans, eles conversam Treze e dezessete e quatro segundos. Aquele mais baixo, ele se salvou, sai de lambreta. E aquele mais alto, ele entra. Treze e dezessete e quarenta segundos. A moça ali, ela tem uma fita verde no cabelo. Mas o ônibus a encobre de repente. Treze e dezoito. A moça sumiu. Era tola o bastante para entrar, ou não? Saberemos quando retirarem os corpos. Treze e dezenove. Ninguém mais parece entrar. Um careca obeso, no entanto, está saindo. Procura algo nos bolsos e às treze e dezenove e cinqüenta segundos ele volta para pegar suas malditas luvas. São treze e vinte. O tempo, ele se arrasta. É agora. Ainda não. Sim, agora. A bomba, ela explode. * Wislawa Szymborska *