[CamaraDas] PT: contraponto de um (ex-) petista histórico

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  • Date: Tue, 11 Oct 2005 12:12:20 -0300

Especial, essa última frase. Quiçá, profética...
 
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 "O PT é um partido igual aos outros"
 
Líder histórico do Partido dos Trabalhadores, Hélio Bicudo deixa a sigla e se 
diz frustrado com as atitudes do partido

GRAZIELA SALOMÃO 



Reprodução
        
Após as diversas denúncias de corrupção que abalaram sua credibilidade, o 
Partido dos Trabalhadores sofreu mais uma baixa significante essa semana. 
Importantes líderes históricos do partido, como o deputado federal Plínio de 
Arruda Sampaio e o advogado e jornalista Hélio Bicudo, saíram do PT após as 
eleições do primeiro turno para a presidência. Para eles, não há como se manter 
no partido uma vez que as eleições demonstraram que o Campo Majoritário ainda 
se manterá no comando. 

Um dos principais dissidentes é Hélio Bicudo. Ativista dos direitos humanos - 
ele preside a Fundação Interamericana de Direitos Humanos -, foi deputado e 
vice-presidente de São Paulo na gestão de Marta Suplicy pelo PT, Bicudo se diz 
frustrado com o rumo que o partido que ajudou a construir tomou. Para ele, não 
há mais forma de o partido mudar, mesmo com as novas eleições internas.

Em entrevista a ÉPOCA Online, Bicudo explicou sua decisão, falou sobre seu 
descontentamento com as atitudes do governo Lula e os projetos sociais do qual 
faz parte.

ÉPOCA - O senhor é um militante histórico do Partido dos Trabalhadores. Quando 
e por que tomou a decisão de se desfiliar do partido?
Hélio Bicudo - Venho amadurecendo essa decisão há algum tempo. Na verdade, 
pensei que essa crise desse ao presidente da República e ao governo um momento 
de reflexão para sair da armadilha do loteamento de cargos com o intuito de 
obter governabilidade. Sempre entendi que é possível governar sem maioria. 
Lembro quando fui secretário de Negócios Jurídicos na prefeitura de Luiza 
Erundina, que se governou com a minoria e com absoluta obediência aos 
princípios éticos e morais que então o partido pregava. A medida que, nessa 
terceira reforma do ministério se manteve o mesmo critério de loteamento de 
cargos, chegamos a um ponto em que o partido que eu ajudei a crescer durante 
esses quase 25 anos não é mais o partido no qual eu militei, do qual eu fui 
deputado federal por dois mandatos e vice-prefeito em São Paulo. Nesse pleito 
eleitoral para a mesa diretora do PT vimos a adoção dos métodos que sempre 
repudiamos: o clientelismo, a compra de pessoas e de votos. E isso se agrava em 
um segundo turno em que havia uma expectativa de que Raul Pont chegasse à 
presidência do partido. A adesão, por último, da Marta Suplicy que tem em suas 
mãos o diretório regional e municipal torna clara a vitória de Ricardo Berzoini 
em uma negociação evidentemente feita para que ela seja candidata do partido ao 
governo do Estado. Essa troca de favores, essa maneira de atuar que não é a 
maneira que pensávamos que devia ser de um partido político de esquerda, nos 
deixou frustrados. Para que essa frustração não seja entendida como a 
conivência com esse estado de coisas, eu e alguns companheiros resolvemos 
abandonar a sigla.

ÉPOCA - O senhor não acha que o resultado das eleições internas do partido e o 
Campo Majoritário diminuindo poderiam sugerir alguma mudança?
Hélio - Mas não vai diminuir. A Marta compreende o Campo Majoritário. Então, 
estamos somando o que ela representa ao Campo Majoritário representado pelo 
Berzoini.

ÉPOCA - A decisão foi tomada junto com seu amigo e colega de partido Plínio de 
Arruda Sampaio?
Hélio - Não, nós nem chegamos a conversar sobre essa questão de sair do 
partido. Eu tenho uma amizade grande com o Plínio, mas isso não teve a menor 
influência com relação a ele. E acredito que da parte dele também não.

''Acho que o PT foi para a presidência sem um projeto de governo''

ÉPOCA - Na opinião do senhor, quais foram os maiores erros do PT? De que ideais 
o partido se afastou?
Hélio - Eu acho que o PT foi para a presidência sem um projeto de governo. A 
partir da vitória do Lula, loteou os cargos mais importantes da administração 
pública. Adotou, do ponto de vista econômico, uma política neoliberal que é 
muita satisfatória para os banqueiros, para os especuladores internacionais, 
mas não traz para o Brasil o que ele realmente deveria ter, não apenas na área 
econômica, mas na área social e cultural também. Quando vejo a atuação do 
ministro da Fazenda elogiada pelo Fundo Monetário Internacional, acho que não 
estamos no caminho certo. Porque se adotou um 'cala boca' das classes mais 
humildes através de um assistencialismo que não permite o aperfeiçoamento das 
pessoas para participarem de um país democrático, onde os direitos humanos 
sejam o fundamento. Hoje, os direitos humanos sequer são prioridades do governo 
federal. 

ÉPOCA - Na sua análise, qual a participação de Lula nesse processo?
Hélio - O Lula como presidente da República e presidente de honra do PT é o 
grande responsável. Em um regime presidencialista, não tem como o presidente 
não ser responsável por aquilo que acontece na administração pública. As coisas 
não se fizeram sem o conhecimento do Lula. Quer como candidato ou como 
presidente da República, se ele não conhecia, então ele se omitiu. E omissão 
também é pecado. 
''Em um regime presidencialista, não tem como o presidente não ser responsável 
por aquilo que acontece na administração pública''



ÉPOCA - Como o senhor viu a decisão de Lula e do ministro Antonio Palocci em 
não votar nesse primeiro turno nas eleições internas?
Hélio - Esse é um problema que cada um deve avaliar segundo suas próprias 
convicções. Eu não posso dizer que eles deveriam ou não ter votado. Eu ateio 
apenas àquilo que eles fizeram ou deixaram de fazer. 

ÉPOCA - Como o senhor avalia o futuro da esquerda brasileira? E do PT?
Hélio - O futuro do PT está demarcado, é um partido igual aos outros. Quanto à 
esquerda, eu acho que esse é o momento de todos os militantes que compõem 
vários partidos fazerem uma reflexão e tomarem uma decisão de união para que o 
socialismo moderno, onde haja solidariedade e companheirismo, e os direitos 
humanos prevaleçam como fundamento do Estado.

ÉPOCA - O senhor já decidiu se vai se filiar a algum outro partido? Qual é o 
seu projeto político?
Hélio - Ainda não estou pensando em filiação a outro partido. Meu projeto 
político agora é o que venho mantendo a muitos anos: o de defesa das pessoas 
mais humildes, das minorias raciais, contra a violência do Estado. Quero fazer 
prevalecer os direitos humanos.

''O futuro do PT está demarcado, é um partido igual aos outros''

ÉPOCA - Com essa mudança de perfil, o PT não perde o apoio da Igreja e dos 
movimentos sociais?
Hélio - Eu acho que já perdeu. O PT nasceu da atuação dos núcleos de base, 
apoiados nas entidades da Igreja Católica, que ofereciam uma base política para 
a transformação do Estado no sentido de implementar os direitos das pessoas e 
fazer com que elas pudessem participar do processo político. Agora, o PT passou 
a ser um partido como outro qualquer. 

ÉPOCA - E como eleitor, o senhor votaria no Lula nas próximas eleições?
Hélio - Não votaria. 

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