[CamaraDas] Carta Maior 11/10/2005

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  • Date: Tue, 11 Oct 2005 11:59:47 -0300

ANÁLISE         
Militância do PT mostra força e desafia partido a buscar novos rumos    
Em um intervalo de três semanas, mais de 500 mil votos. Um número expressivo 
que parece desautorizar os necrológios prematuros sobre a morte do PT. Disputa 
acirrada no 2° turno fortalece esquerda petista que está desafiada, agora, a 
transformar seu crescimento em um projeto que vá além da próxima eleição.      
Marco Aurélio Weissheimer - Carta Maior    11/10/2005   



Porto Alegre - No epicentro da maior crise de seus 25 anos de história, mais de 
500 mil votos foram depositados nas urnas petistas, nos dois turnos do Processo 
de Eleições Diretas (PED), para escolher os novos dirigentes do partido em 
todas as suas instâncias. Um número que, se por um lado, não é suficiente por 
si só para superar a crise política que atingiu o partido, por outro, parece 
desautorizar os necrológios prematuros sobre a sua morte. No primeiro turno, 
foram 293.955 votos válidos (ou seja, excluindo brancos e nulos). No segundo 
turno, a estimativa é de que cerca de 220 mil filiados tenham comparecido às 
urnas, com uma projeção de mais de 216 mil votos válidos, superando as 
expectativas iniciais que estavam na casa dos 150 mil votantes. E esse número 
poderá ser ainda maior. Os votos totalizados até o final da tarde de segunda 
apontam para um comparecimento de 29,3% dos filiados. Na avaliação do 
coordenador do PED, Francisco Campos, a eleição "foi um sucesso absoluto, com 
uma participação expressiva da militância". Segundo o comentarista Franklin 
Martins, da Rede Globo, a militância petista mostrou que é melhor que sua 
direção.

A expressiva participação de filiados no processo eleitoral interno representa 
também uma notícia incômoda para aqueles que deixaram o PT após o primeiro 
turno, argumentando, entre outras coisas, que o partido havia perdido sua 
vitalidade política e encerrado uma etapa histórica. Tanto o número de votantes 
no segundo turno quanto à expressiva votação dada ao candidato da esquerda 
partidária, Raul Pont, independentemente do resultado final da disputa, mostram 
que a imensa maioria da base social ligada à esquerda ainda tem no PT seu 
principal referencial.

Outro aspecto incômodo para esse grupo (particularmente aquele organizado em 
torno de Plínio de Arruda Sampaio) é que, caso se confirme a pequena diferença 
entre os dois candidatos no final da apuração e caso Berzoini permaneça na 
frente, o discurso à esquerda que justificou a saída e a decisão de sair antes 
do segundo turno, terão, na prática, beneficiado o grupo político com maior 
responsabilidade pela crise que atinge não só o PT mas o conjunto da esquerda 
brasileira, para não falar de suas implicações na geopolítica continental. 
Nunca é demais lembrar que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, vê com 
justificada preocupação os reflexos de um fracasso do PT e do governo Lula no 
Brasil.

Outra conclusão que já pode ser extraída é que mudou a configuração de forças 
dentro do PT. Apurados mais de 190 mil votos, a esquerda partidária disputa 
voto a voto com o Campo Majoritário, um quadro impensável há alguns meses. Para 
além da matemática interna em torno da composição do Diretório Nacional e da 
Executiva do partido, o resultado que sai das urnas deixa claro que o Campo 
Majoritário perdeu força, quantitativa e qualitativamente. Não há mais uma 
maioria automática constituída, o que obrigará negociação e debate dentro do 
partido. Não foi à toa que o candidato Ricardo Berzoini, mesmo antes de ser 
iniciada a apuração, fez um "convite" a Raul Pont para integrar a Executiva e 
ajudá-lo na direção do partido. Com cerca de metade dos votos dos filiados nas 
mãos, a esquerda petista não poderá ser mais tratada como um adereço incômodo 
dentro da legenda. Se vencer a disputa, menos ainda.

Com cerca de 40% do Diretório Nacional, o Campo Majoritário ainda é a principal 
força do partido, mas é preciso ver quê Campo Majoritário sairá das urnas. A 
evolução da crise política e das investigações de dirigentes envolvidos em 
denúncias divide opiniões no grupo, como, por exemplo, na questão da concessão 
da legenda para deputados que venham a renunciar aos seus mandatos. O senador 
Aloísio Mercadante é um dos integrantes do Campo Majoritário que defende que a 
legenda deve ser negada a quem renunciar, posição também defendida por Raul 
Pont e por Tarso Genro, que ocupa atualmente a presidência do partido. Os temas 
da política de alianças e do programa para as eleições de 2006 também são 
motivo de polêmica e divergência no partido. O fim de uma maioria automática 
não significa necessariamente a perda do controle político do partido pelo 
Campo Majoritário, mas pode representar um maior nível de debate e de 
negociação.

A transformação dessa possibilidade em realidade será testada nas próximas 
semanas quando algumas questões-chave deverão ser decididas: a composição da 
nova direção, o destino das investigações dos envolvidos em denúncias, a 
convocação de um congresso extraordinário do partido e a definição do programa 
e da política de alianças para 2006. O mapa político interno do PT sofreu um 
deslocamento no PED graças, entre outras coisas, à expressiva participação da 
militância. A direção do encaminhamento de tais questões mostrará a dimensão e 
a natureza desse deslocamento.

Para além do enfrentamento com o Campo Majoritário, a esquerda petista está 
desafiada a transformar o apoio que recebeu das urnas e da maioria da 
intelectualidade brasileira de esquerda, em uma estratégia capaz de mudar os 
rumos do partido, de ampliar sua relação com a sociedade e de construir um 
projeto para o país e não apenas para a próxima eleição.


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