Como Silvinho falou ao Globo Leia o relato da repórter do Globo Soraya Aggege sobre os bastidores da entrevista com o ex-secretário-geral do PT, Silvio Pereira. O texto abaixo foi publicado nesta terça-feira no jornal O Globo: "Como Silvinho andava sumido, procurei petistas que pudessem me contar um pouco mais sobre ele. Muitos desconversaram, outros falaram mal de Silvio. Era como se ele fosse uma doença que foi extirpada do partido, que agora só quer esquecê-lo. Na quarta-feira passada fui ao seu apartamento e fiquei surpresa ao ser autorizada a subir. Silvio me recebeu muito bem e, depois de pensar um pouco, aceitou conversar. Após uma hora, disse que esperava uma visita e pediu que eu saísse. Deixei o número de meu celular e argumentei que seria importante uma matéria com a versão dele sobre o mensalão. Dez minutos depois ele me telefonou e disse que seu compromisso fora adiado e que iria falar. Eu fazia perguntas pontuais sobre a crise e ele respondia. Quando não queria falar, fazia silêncio e mudava de assunto. Após longa conversa, recebeu uma ligação e me disse que voltaria a me procurar. Silvio me telefonou pela segunda vez na quinta-feira. Levei uma cópia do material que tinha reproduzido. 'Você captou tudo bem, está muito preciso. Essa é a mais absoluta verdade. Vai ser um escândalo.' Mas pensou um pouco, ponderou que a crise estava quase resolvida e que não era um bom momento para publicação da entrevista. E me propôs fazermos um livro. Eu concordei, mas disse que, como repórter, não poderia omitir aquelas informações (a maior parte já estava na Redação). Telefonei para o chefe da Sucursal, Germano Oliveira. Avaliamos que era inegociável. Então, Silvio começou a passar mal: ficou pálido, implorou para que a entrevista não fosse publicada, disse que prometera à família não falar mais com a imprensa, que temia enlouquecer, porque a CPI e a PF voltariam $abordá-lo e que ele não suportaria novas pressões. Disse que havia gente muito poderosa envolvida em tudo e que poderiam matá-lo. Não sei se para me impressionar, mas disse em seguida que o melhor era se matar. E ficou descontrolado. Jogou a mesa no chão, quebrou objetos e pediu várias vezes que eu o desculpasse, que não era nada comigo, que entendia muito bem o papel da imprensa. Pediu que eu buscasse ajuda, que estava passando muito mal. Saí atrás do porteiro e, no caminho, encontrei uma moradora que me ajudou a chamar uma ambulância. Voltei com o porteiro: mais uma vez o Silvio me pediu desculpas e disse que tudo ficaria bem. O porteiro me ajudou a pegar minha bolsa e pediu que fosse embora. Mais tarde, ele telefonou para que não me preocupasse, pois Silvio estava com amigos e se sentia melhor. Devolveria meu material no dia seguinte. Só devolveu os cigarros e o aparelho celular. Documentos que ele mesmo havia me dado e um caderno de anotações ficaram por lá."