*Setor de informática disputa a TV digital * Claudia Facchini O lançamento da TV digital, que deve ser inaugurada em grande estilo pelo presidente Lula em um evento na Sala São Paulo, em São Paulo, no dia 2 de dezembro, abrirá um mercado gigantesco para algumas indústrias. Não são só os fabricantes de televisores que vão lançar linhas de produtos digitais. Empresas de informática que nunca atuaram antes no segmento de televisores, como a Tectoy e a Positivo, desenvolveram novos equipamentos e vão concorrer com as marcas tradicionais de eletroeletrônicos como Philips, Sony, Semp Toshiba, Samsung e LG. O consumidor passará a ver nas lojas a partir da semana que vem aparelhos como conversores, receptores, antenas, além dos próprios televisores digitais com a nova tecnologia embutida. O conversor faz tanto a recepção do sinal digital como a conversão do sinal analógico para o digital. A conversão permite que os televisores analógicos - que são quase 100% dos 90 milhões de aparelhos instalados no país - exibam uma imagem bem mais nítida. Os receptores servem só para as TVs digitais de LCD e plasma porque fazem só a recepção e não a conversão do sinal. Por fim, empresas como Samsung, Philips e LG já vão colocar no varejo, antes do Natal, televisores digitais com o padrão digital já instalado, o que dispensará o receptor. Mas ainda não se sabe quanto vão custar essas TVs. A Tectoy colocará nos próximos dias no mercado um receptor para notebooks que permitirá ao usuário assistir aos programas de TV na tela do seu computador, esteja ele nas salas de espera de um aeroporto ou no carro, em trânsito. "Este é o primeiro produto de TV digital da Tectoy, mas outros virão", afirma André Faure, gerente de marketing da Tectoy, que reposicionou seu modelo de negócio e deixou de ser uma fabricante de jogos para se transformar em uma empresa de entretenimento. A Philips pretende lançar um receptor semelhante ao da Tectoy no início de 2008. Esse tipo de receptor de TV para computadores não é uma novidade em países onde já existe a transmissão digital, como o Japão, de onde o Brasil importou o padrão tecnológico que será adotado pelas emissoras abertas nacionais. Segundo Faure, a Tectoy importa os aparelhos da China, mas eles precisaram ser adaptados às especificações que o Brasil fez no padrão japonês. Os receptores de TV digital podem ser conectados em qualquer equipamento com entrada USB, diz Faure. O aparelho da Tectoy, batizado de MobTV, utiliza o padrão "one-seg", lançado em 2006 no Japão para captação de sinais de TV em aparelhos móveis, como notebooks e celulares. No entanto, a imagem que será exibida não será em alta definição e terá uma resolução mais baixa. O produto custará R$ 369. Segundo o diretor de tecnologia da Philips, Walter Duran, o receptor "one-seg" pode ser arriscado neste primeiro momento porque pode deixar o consumidor decepcionado com as imagens. "É preciso cuidado para não frustrar as expectativas e isto vai acontecer com muitos dos produtos que vão aparecer no mercado, principalmente os mais baratos", diz Duran. A Philips lançou um conversor sofisticado que custará R$ 1,1 mil. No futuro, diz Duran, o mercado passará por uma segmentação, com lançamento de conversores de vários preços. Mas, por enquanto, os fabricantes de televisores dirigiram o foco para conversores e receptores mais caros - entre R$ 700 e R$ 800 -, o que deixou o governo irritado por tirar o caráter popular da TV digital. O presidente Lula, segundo publicou a "Folha de S. Paulo" ontem, autorizou o ministro das Comunicações, Hélio Costa, a tomar medidas para estimular importações de conversores com objetivo de reduzir os preços. "Essa é uma ameaça vazia", disse ontem Manoel Corrêa, diretor de relações externas da Philips. "Os conversores já estão sendo importados pelas indústrias, que não tiveram tempo de produzi-los neste momento". As empresas não ousam estimar qual será o tamanho da demanda pelos produtos digitais, como os kits de conversores ou receptores neste momento de estréia da TV digital. A TecToy colocará no mercado 50 mil unidades do MobTV. A Positivo irá colocar no varejo um primeiro lote de 10 mil conversores. "Mas o mercado potencial é imenso ", afirma Hélio Rotenberg, presidente da Positivo, maior fabricantes de PCs do país. Rotenberg diz que o seu público-alvo são os 47 milhões de lares que não possuem TV a cabo, bem como as pessoas que só assinam a TV paga para assistir aos canais da TV aberta, pagando uma assinatura mais em conta. "Do total de assinantes da TV paga, 26% estão nesta situação", afirma Rotenberg. "O maior concorrente da Positivo é o Bombril (a palha de aço que é colocada na antena para melhorar a recepção do sinal analógico)", diz o executivo, que venderá os conversores na Casas Bahia, Wal-Mart e Americanas.