[CamaraDas] Re: [CamaraDas] Artigo: Clóvis Rossi

  • From: Leandro <leandro.cariello@xxxxxxxxx>
  • To: "analistas2002@xxxxxxxxxxxxx" <analistas2002@xxxxxxxxxxxxx>
  • Date: Tue, 14 Apr 2015 11:16:05 -0300

P-e-r-f-e-i-t-o !!!

Em 14/04/2015, às 11:08, Niquele <niquele@xxxxxxxxx> escreveu:

Classe média à la carte

É má-fé ou ignorância (ou ambas as coisas juntas) satanizar a classe média
pelas manifestações contra o governo.

Má-fé porque a classe média, como qualquer outro segmento, tem todo o direito
de se manifestar, contra ou a favor do governo. É uma obviedade, eu sei, mas
ter que escrever tão tremenda obviedade é um sinal da indigência do debate
público brasileiro.

Ignorância porque a classe média foi o motor de TODAS as manifestações que a
esquerda considerou épicas. Foi o tal de povo, por acaso, que esteve presente
em massa nos atos pela anistia? Foi o tal de povo, por acaso, que se
mobilizou pelas "diretas-já", o maior movimento de massas da história recente
(e não tão recente)?

Foi o tal de povo que pintou a cara de verde-e-amarelo para pedir o
impeachment de Fernando Collor de Mello? As cores e o pedido valiam então,
mas não valem agora só porque os que se acham de esquerda estavam na época do
outro lado?

Em todos esses casos, foi a classe média que se manifestou. A satanização de
agora demonstra que, para certo tipo de mentalidade cretina, há uma classe
média "boa" (quando ela está do lado desse tipo de cabecinha) e uma classe
média "podre" quando está do outro lado.

Revela acentuada dificuldade de conviver com opiniões contrárias.

É estúpido tratar a classe média como um ente homogêneo. Segmentos da classe
média se mobilizaram contra o governo João Goulart e ajudaram a derrubá-lo.
Péssimo exemplo, para o meu gosto, assim como é péssimo exemplo tratar agora
de repetir a história, aproveitando-se do disseminado desconforto com o
governo (desconforto, diga-se, que é também do tal de "povo", a menos que se
acredite que a classe média abrange 87% dos brasileiros, os que desaprovam o
governo Dilma).

Mas foram também segmentos da classe média que, primeiro, tomaram as armas
para tentar derrubar o regime e, depois, foram às ruas para protestar contra
ele e ajudar a encerrá-lo.

Não é muito diferente fora do Brasil. Na Argentina, por exemplo, foi a classe
média que constituiu o grosso do grupo de esquerda armada Montoneros, que se
opôs primeiro ao governo de Isabelita Perón e depois à ditadura militar.

Foram de classe média ou até alta alguns dos grandes líderes revolucionários
do século passado. Ou alguém acha que Vladimir Ilitch Lênin era "povão"? Ou
Leon Trótski?

A rigor, apenas Emiliano Zapata, o treinador de cavalos que liderou a
primeira revolução social do século 20, a mexicana, era filho do povo. Até
Mao Tsé-tung, filho de camponeses, logo ascendeu à classe média, pela via de
seus estudos.

Voltemos ao Brasil. É de supina ingenuidade imaginar, como fazem alguns, que
o povo pobre vai se sublevar, movido pelo desemprego, baixos salários e/ou
fome.

Nunca o fez, apesar das condições desumanas em que vive faz séculos. Menos
ainda o fará agora quando as condições melhoraram, um tiquinho de nada, mas
melhoraram. Você pode amar ou odiar a classe média, mas pegar dela apenas o
pedaço que lhe agrada é desonesto

:::
Niquele

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