[CamaraDas] Re: [CamaraDas] Artigo: José Paulo Lanyi

  • From: Leandro Neves Cariello <leandro.cariello@xxxxxxxxx>
  • To: Niquele Moura Siqueira <niquele@xxxxxxxxx>
  • Date: Thu, 5 Feb 2015 16:05:34 -0200

É, esse "paraíso" até que durou bastante, mas está acabando...

Em 5 de fevereiro de 2015 15:22, Niquele <niquele@xxxxxxxxx> escreveu:

> *O apartheid econômico na ilha de Fidel*
>
> Com o pulso socialista e as pernas amparadas em um capitalismo de muletas,
> Cuba vive a sua transição. O povo está esperançoso, diante do acordo com os
> EUA e da perspectiva da chegada de mais turistas. Mas ele sabe que há muito
> mais a ser feito para que possa, enfim, viver com dignidade. Deve-se
> levantar o bloqueio de fora. E o "apartheid" de dentro.
>
> Voltamos, minha namorada e eu, de uma jornada de três semanas pelo
> Eldorado que só a ideologia e a ficção são capazes de fundar.
>
> Viagem independente. Nada de pacotes e excursões. Ficamos em casas de
> famílias que alugam quartos para estrangeiros. Foi assim na caótica Havana,
> nos "mogotes" de Viñales e na aristocrática Varadero.
>
> No decorrer dos dias, as férias foram minguando para dar lugar ao espanto.
> Canais de televisão celebravam a chegada do 56º ano da revolução.
> Descobrimos que, tanto quanto lá, em países como China, Rússia, Brasil e
> Venezuela, só acontecem coisas boas.
>
> Em Cuba, poucos são os escolhidos. Donos de lojas, restaurantes, hotéis e
> casas particulares convertidas em hospedaria são autorizados a cobrar em
> moeda turística (CUC, peso convertível), cujo valor é pouco menor do que o
> do euro. Esses vivem melhor, reinvestem e fazem o dinheiro circular.
>
> O grosso da população que tem emprego recebe em uma moeda que vale 25
> vezes menos. E, como ganha uma espécie de cesta básica que também não cobre
> o mês, faz de sua rotina uma jornada pela selva. Vale tudo pelo dinheiro
> dos turistas.
>
> Muitos moradores mendigam, enganam, colocam, literalmente, camundongo em
> cima de cachorro para conseguir aquele trocado que para os gringos não é
> nada. Mas, para os excluídos, é uma fortuna em pesos nacionais. E a ciranda
> do desespero recomeça no dia seguinte.
>
> Turista pode tudo. Cubano não pode nada, a menos que receba a chancela
> para trabalhar com estrangeiros. Nas praias de Varadero, se um forasteiro
> se senta em uma "cadeira proibida" de um resort, ouve de um segurança que
> terá de pagar 1 ou 2 CUCs para ficar (embora, provavelmente, o hotel não
> saiba disso). Se um residente se abanca ali, é escorraçado pelo mesmo homem.
>
> Cubanos só podem entrar em restaurantes para nacionais e, de modo similar,
> em casas de hospedagem com um selo vermelho na porta. As de selo azul,
> melhores e mais refinadas, são frequentadas pelos estrangeiros. A corrupção
> é a marca da desigualdade. Em uma farmácia para nativos, a balconista
> exigiu 40 pesos nacionais em uma compra que deveria custar 15. Uma propina
> de, digamos, R$ 3.
>
> Tudo para vender duas pomadas anti-inflamatórias que, dizia a atendente,
> exigiam receita médica –o que não era verdade. E turistas, diga-se, também
> podem comprar nesses locais. No câmbio, a operadora "se enganou" e,
> confrontada com o seu "erro", devolveu, sem reclamar, o equivalente a R$ 9.
>
> O contraste entre o que se pode ter e o que se vê nas mãos dos
> estrangeiros e da minoria habilitada gera grande insatisfação popular.
>
> Muitos falam mal do governo e dizem que, enquanto a massa se sacrifica,
> Fidel Castro, integrantes de seu regime, artistas e esportistas famosos
> vivem em mansões em uma região rica a oeste de Havana.
>
> Voltamos para o Brasil com uma imagem que sintetiza o sentimento desse
> povo. Em Varadero, um brasileiro deu o seu mergulho, pegou a toalha na
> cadeira e rumou para um hotel da rede Meliá. Ostentava, no braço bronzeado,
> uma tatuagem de Che Guevara.
>
> JOSÉ PAULO LANYI, 44, é escritor, produtor de cinema e consultor de
> comunicação
>
>
> :::
> Niquele
>

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