Gostei do livro do Narloch, mas nesse artigo ele foi mal mesmo, Jair. Teria prazer em explicitar minhas discordâncias, mas o desgramado do Chesterton já fez isso antes de mim. *Este é o primeiro princípio da democracia: as coisas essenciais nos homens são as coisas que eles têm em comum, não as que eles têm em separado. O segundo princípio é simplesmente este: o instinto ou desejo político é uma dessas coisas que eles têm em comum. Apaixonar-se por alguém é mais poético do que se apaixonar pela poesia. A crença democrática é de que o governo (ajudando a governar a tribo) é algo como apaixonar-se por alguém, e não algo como apaixonar-se pela poesia. Não se trata de algo semelhante a tocar órgão na igreja, pintar sobre velino, descobrir o Pólo Norte (esse hábito insidioso), fazer acrobacias no ar, ser Astrônomo Real e assim por diante. Pois essas coisas desejamos que o cidadão nem sequer as pratique se não as fizer bem feitas. Trata-se, pelo contrário, de algo semelhante a escrever as próprias cartas de amor ou assoar o próprio nariz. Essas coisas queremos que alguém as pratique para si mesmo, ainda que as faça mal feitas. Não estou discutindo a verdade de nenhum desses conceitos. Sei que alguns modernos estão pedindo que suas esposas sejam escolhidas por cientistas, e é possível que logo peçam, por tudo o que sei, que seus narizes sejam assoados por babás. Simplesmente digo que a humanidade reconhece essas funções humanas universais; que a democracia inclui o governo entre elas. Em resumo, a fé democrática é esta: as coisas mais tremendamente importantes devem ser deixadas para os próprios homens ordinários — a união dos sexos, a criação dos filhos, as leis do estado. Isso é democracia; e nisso eu sempre acreditei. *G. K. Chesterton: *Ortodoxia*, p. 79.* * >