[CamaraDas] RE: negar a origem é babaquice

  • From: Mauro Sampaio <mauroadrianosampaio@xxxxxxxxxxx>
  • To: <jairfrancelino@xxxxxxxxxxx>, analistas <analistas2002@xxxxxxxxxxxxx>
  • Date: Fri, 12 Nov 2010 17:59:53 +0000

Não é preciso negar a origen para aceitar vulnerabilidades sociais, culturais e 
econômicas. Quem nega a origem não pode nem elogiar nem mesmo criticar. Negar é 
dizer que veio do nada. Como eu venho do Nordeste, especialmente do Piauí, 
reconheço que minha origem está longe de ser um sertão de rosas, mas sabe votar 
tanto quanto qualquer sulista. Negar a origem não é preconceito, é babaquice. 
Mauro Sampaio

From: jairfrancelino@xxxxxxxxxxx
To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
Subject: [CamaraDas] Re: Sim, eu tenho preconceito
Date: Fri, 12 Nov 2010 14:27:18 -0200








Eu tenho preconceito (aliás, pós-conceito) contra quem pensa  tem essa visão 
política exposta pelo Leandro.
 



Date: Thu, 11 Nov 2010 14:27:28 -0200
Subject: [CamaraDas] Sim, eu tenho preconceito
From: jmcantarino@xxxxxxxxx
To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx

Na F.S.P. de hoje.

Sim, eu tenho preconceito 
LEANDRO NARLOCH

Logo depois de anunciada a vitória de Dilma Rousseff, pingaram comentários 
preconceituosos na internet contra os nordestinos, grupo que garantiu a vitória 
da candidata petista nas eleições.
A devida reação veio no dia seguinte: a expressão "orgulho de ser nordestino" 
passou a segunda-feira como uma das mais escritas no microblog Twitter.
O racismo das primeiras mensagens é, obviamente, estúpido e reprovável. Não se 
pode dizer o mesmo de outro tipo de preconceito -aquele relacionado não à 
origem ou aos traços físicos dos cidadãos, mas ao modo como as pessoas pensam e 
votam. Nesse caso, eu preciso admitir: sim, eu tenho preconceito.
Eu tenho preconceito contra os cidadãos que nem sequer sabiam, dois meses antes 
da eleição, quem eram os candidatos a presidente. No fim de julho, antes de o 
horário eleitoral começar, as pesquisas espontâneas (aquela em que o 
entrevistador não mostra o nome dos candidatos) tinham percentual de acerto de 
45%. Os outros 55% não sabiam dizer o nome dos concorrentes. Isso depois de 
jornais e canais de TV divulgarem diariamente a agenda dos presidenciáveis.
É interessante imaginar a postura desse cidadão diante dos entrevistadores. Vem 
à mente uma espécie de Homer Simpson verde e amarelo, soltando monossílabos 
enquanto coça a barriga: "Eu... hum... não sei... hum... o que você... hum... 
está falando". Foi gente assim, de todas as regiões do país, que decidiu a 
eleição.
Tampouco simpatizo com quem tem graves deficiências educacionais e se mostra 
contente com isso e apto a decidir os rumos do país.
São sujeitos que não se dão conta de contradições básicas de raciocínio: são a 
favor do corte de impostos e do aumento dos gastos do Estado; reprovam o 
aborto, mas acham que as mulheres que tentam interromper a gravidez não devem 
ser presas; são contra a privatização, mas não largam o terceiro celular dos 
últimos dois anos. "Olha, hum... tem até câmera!".
Para gente assim, a vergonha é uma característica redentora; o orgulho é 
patético. Abster-se do voto, como fizeram cerca de 20% de brasileiros, é, nesse 
caso, um requisito ético. Também seria ótimo não precisar conviver com os 30% 
de eleitores que, segundo o Datafolha, não se lembravam, duas semanas depois da 
eleição, em quem tinham votado para deputado.
Não estou disposto a adotar uma postura relativista e entender esses 
indivíduos. Prefiro discriminá-los. Eu tenho preconceito contra quem adere ao 
"rouba, mas faz", sejam esses feitos grandes obras urbanas ou conquistas 
econômicas.
Contra quem se vale de um marketing da pobreza e culpa os outros (geralmente as 
potências mundiais, os "coronéis", os grandes empresários) por seus problemas. 
Como é preciso conviver com opiniões diferentes, eu faço um tremendo esforço 
para não prejulgar quem ainda defende Cuba e acredita em mitos marxistas que 
tornariam possível a existência de um "candidato dos pobres" contra um 
"candidato dos ricos".
Afinal, se há alguma receita testada e aprovada contra a pobreza, uma feliz 
receita que salvou milhões de pessoas da miséria nas últimas décadas, é aquela 
que considera a melhor ajuda aos pobres a atitude de facilitar a vida dos 
criadores de riqueza.
É o caso do Chile e de Cingapura, onde a abertura da economia e a extinção de 
taxas e impostos fizeram bem tanto aos ricos quanto aos pobres. Não é o caso da 
Venezuela e da Bolívia.
Por fim, eu nutro um declarado e saboroso preconceito contra quem insiste em 
pregar o orgulho de sua origem. Uma das atitudes mais nobres que alguém pode 
tomar é negar suas próprias raízes e reavaliá-las com equilíbrio, percebendo o 
que há nelas de louvável e perverso. Quem precisa de raiz é árvore.



LEANDRO NARLOCH, jornalista, é autor do livro "Guia Politicamente Incorreto da 
História do Brasil" (LeYa). Foi repórter do "Jornal da Tarde" e da revista 
"Veja" e editor das revistas "Aventuras na História" e "Superinteressante".

                                          

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