Sobe para R$ 504 milhões o rombo orçamentário do Congresso Sobe para R$ 504 milhões o rombo orçamentário do Congresso A atmosfera de Brasília, já turvada pelos desdobramentos da crise do mensalão, ficou ainda mais envenenada. Legislativo e Executivo travam uma queda de braço por dinheiro. Aqui se revelou no último domingo que a Câmara, sem verba para pagar os salários de seus funcionários em dezembro, pediu socorro ao governo. O repórter descobriu nesta segunda-feira que faltam recursos também ao Senado. Juntos, os buracos orçamentários das duas Casas compõem uma cratera de impressionantes R$ 504 milhões. O grosso da conta deriva do aumento de 15% concedido aos funcionários do Legislativo. Lula vetara o aumento. Mas, em sessão conturbada realizada no dia 31 de setembro, o Congresso derrubou o veto. Alegou-se à época que havia recursos para pagar o aumento. Descobre-se agora que era mentira. O Congresso passou o chapéu na Esplanada. Deseja espetar a conta do seu descontrole nas arcas do Tesouro Nacional. Responsável por gerir o orçamento da União, o ministro do Planejamento, deputado Paulo Bernardo (PT-PR), bateu o pé. Disse que não há previsão orçamentária para cobrir o rombo. Bernardo tem o apoio do Palácio do Planalto. Por ordem expressa de Lula, a Advocacia Geral da União protocolou nesta segunda-feira no STF uma ação em que pede a anulação do aumento. Argumenta-se que a Constituição veda a criação de novas despesas sem a devida previsão orçamentária. Também por ordem de Lula, o ministro Jaques Wagner (Coordenação Política) discou para os presidentes da Câmara e do Senado, Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Renan Calheiros (PMDB-AL). Avisou a ambos que o dinheiro pedido pelo Congresso não será liberado. Aparentemente, o Planalto fala sério. O governo já enviou ao Congresso um projeto prevendo suplementação orçamentária para várias repartições públicas. Esse tipo de projeto, preparado todos os anos em meados de outubro, é chamado em Brasília de "jumbão". Não há no projeto nenhum vestígio do dinheiro pedido pela Câmara e pelo Senado. Para ampliar a encrenca, tramita na Câmara, conforme noticiado aqui, também no domingo, um projeto que prevê um novo aumento salarial para o funcionalismo da Câmara. Argumenta-se que visa a equiparação com o funcionalismo do Senado, que ganha mais. No mesmo embalo, pretende-se ampliar de 20 para 25 o número de assessores parlamentares empregados nos gabinetes de cada deputado. Em declarações a este blog Aldo Rebelo disse que, embora o projeto de novo aumento tenha recebido a tarja de "urgente", com o assentimento das lideranças partidárias, não pretende coloca-lo em votação tão cedo. Dará prioridade a outra proposta, que concede aumento de 13% aos militares. Pelas contas do Ministério do Planejamento, o salário médio do funcionalismo das Forças armadas é de R$ 3 mil, contra R$ 9 mil pagos aos servidores do Legislativo. Teme-se que a transferência do reajuste dos militares para o final da fila ateia fogo nos quartéis. Há na folha de salários do Congresso cerca de 35 mil funcionários, entre ativos e aposentados. Todos foram beneficiados com o reajuste de 15% que Lula vetara e que os parlamentares reabilitaram. O segundo reajuste, pretendido pela Câmara, beneficiaria os seus cerca de 20 mil servidores. Em tempo: o salário dos deputados e senadores não está ameaçado. Se o governo mantiver a disposição de reter os R$ 504 milhões solicitados pelo Congresso, apenas o funcionalismo será prejudicado. Escrito por Josias de Souza às 01h14