Também acho. Digo mais: Apesar de ser realmente preconceito dizer "Foi gente assim, de todas as regiões do país, que decidiu a eleição.", devo admitir que a frase está certa, porém fora do contexto dado pelo autor. Foi realmente gente assim, *esquecida pelos governos anteriores*, que decidiu a eleição. Foi gente assim, *que passou a ter mais do que suas necessidades básicas atendidas, que não tinha o que comer e agora, além de comida, tem energia elétrica, geladeira e televisão em casa*, que decidiu a eleição. Foi gente assim, *que saiu da miséria, que migrou para uma classe economicamente superior*, que decidiu a eleição. Sou nordestino com muito orgulho. Raimundo. Em 12 de novembro de 2010 15:59, Mauro Sampaio < mauroadrianosampaio@xxxxxxxxxxx> escreveu: > Não é preciso negar a origen para aceitar vulnerabilidades sociais, > culturais e econômicas. Quem nega a origem não pode nem elogiar nem mesmo > criticar. Negar é dizer que veio do nada. Como eu venho do Nordeste, > especialmente do Piauí, reconheço que minha origem está longe de ser um > sertão de rosas, mas sabe votar tanto quanto qualquer sulista. Negar a > origem não é preconceito, é babaquice. > Mauro Sampaio > > ------------------------------ > From: jairfrancelino@xxxxxxxxxxx > To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx > Subject: [CamaraDas] Re: Sim, eu tenho preconceito > Date: Fri, 12 Nov 2010 14:27:18 -0200 > > Eu tenho preconceito (aliás, pós-conceito) contra quem pensa tem essa > visão política exposta pelo Leandro. > > ------------------------------ > Date: Thu, 11 Nov 2010 14:27:28 -0200 > Subject: [CamaraDas] Sim, eu tenho preconceito > From: jmcantarino@xxxxxxxxx > To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx > > Na F.S.P. de hoje. > > *Sim, eu tenho preconceito * *LEANDRO NARLOCH* > > Logo depois de anunciada a vitória de Dilma Rousseff, pingaram comentários > preconceituosos na internet contra os nordestinos, grupo que garantiu a > vitória da candidata petista nas eleições. > A devida reação veio no dia seguinte: a expressão "orgulho de ser > nordestino" passou a segunda-feira como uma das mais escritas no microblog > Twitter. > O racismo das primeiras mensagens é, obviamente, estúpido e reprovável. Não > se pode dizer o mesmo de outro tipo de preconceito -aquele relacionado não à > origem ou aos traços físicos dos cidadãos, mas ao modo como as pessoas > pensam e votam. Nesse caso, eu preciso admitir: sim, eu tenho preconceito. > Eu tenho preconceito contra os cidadãos que nem sequer sabiam, dois meses > antes da eleição, quem eram os candidatos a presidente. No fim de julho, > antes de o horário eleitoral começar, as pesquisas espontâneas (aquela em > que o entrevistador não mostra o nome dos candidatos) tinham percentual de > acerto de 45%. Os outros 55% não sabiam dizer o nome dos concorrentes. Isso > depois de jornais e canais de TV divulgarem diariamente a agenda dos > presidenciáveis. > É interessante imaginar a postura desse cidadão diante dos entrevistadores. > Vem à mente uma espécie de Homer Simpson verde e amarelo, soltando > monossílabos enquanto coça a barriga: "Eu... hum... não sei... hum... o que > você... hum... está falando". Foi gente assim, de todas as regiões do país, > que decidiu a eleição. > Tampouco simpatizo com quem tem graves deficiências educacionais e se > mostra contente com isso e apto a decidir os rumos do país. > São sujeitos que não se dão conta de contradições básicas de raciocínio: > são a favor do corte de impostos e do aumento dos gastos do Estado; reprovam > o aborto, mas acham que as mulheres que tentam interromper a gravidez não > devem ser presas; são contra a privatização, mas não largam o terceiro > celular dos últimos dois anos. "Olha, hum... tem até câmera!". > Para gente assim, a vergonha é uma característica redentora; o orgulho é > patético. Abster-se do voto, como fizeram cerca de 20% de brasileiros, é, > nesse caso, um requisito ético. Também seria ótimo não precisar conviver com > os 30% de eleitores que, segundo o Datafolha, não se lembravam, duas semanas > depois da eleição, em quem tinham votado para deputado. > Não estou disposto a adotar uma postura relativista e entender esses > indivíduos. Prefiro discriminá-los. Eu tenho preconceito contra quem adere > ao "rouba, mas faz", sejam esses feitos grandes obras urbanas ou conquistas > econômicas. > Contra quem se vale de um marketing da pobreza e culpa os outros > (geralmente as potências mundiais, os "coronéis", os grandes empresários) > por seus problemas. Como é preciso conviver com opiniões diferentes, eu faço > um tremendo esforço para não prejulgar quem ainda defende Cuba e acredita em > mitos marxistas que tornariam possível a existência de um "candidato dos > pobres" contra um "candidato dos ricos". > Afinal, se há alguma receita testada e aprovada contra a pobreza, uma feliz > receita que salvou milhões de pessoas da miséria nas últimas décadas, é > aquela que considera a melhor ajuda aos pobres a atitude de facilitar a vida > dos criadores de riqueza. > É o caso do Chile e de Cingapura, onde a abertura da economia e a extinção > de taxas e impostos fizeram bem tanto aos ricos quanto aos pobres. Não é o > caso da Venezuela e da Bolívia. > Por fim, eu nutro um declarado e saboroso preconceito contra quem insiste > em pregar o orgulho de sua origem. Uma das atitudes mais nobres que alguém > pode tomar é negar suas próprias raízes e reavaliá-las com equilíbrio, > percebendo o que há nelas de louvável e perverso. Quem precisa de raiz é > árvore. > > ------------------------------ > *LEANDRO NARLOCH*, jornalista, é autor do livro "Guia Politicamente > Incorreto da História do Brasil" (LeYa). Foi repórter do "Jornal da Tarde" e > da revista "Veja" e editor das revistas "Aventuras na História" e > "Superinteressante". > >