[CamaraDas] Re: [CamaraDas] Res: [CamaraDas] Eu estou me lixando para você, leitor

  • From: Adriana Magalhães Alves de Melo <amamelo@xxxxxxxxx>
  • To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • Date: Wed, 13 May 2009 14:57:10 -0300

Eu vi uma entrevista exclusiva na Globo depois que ele tenta se explicar e
repete que está se lixando para a opinião pública. Pode até não ter começado
assim, mas terminou assim.
Adriana

2009/5/13 aspas <aspas3000@xxxxxxxxxxxx>

> Não quero discutir o texto de Roberto DaMatta, mas apenas aproveitar
> esta oportunidade para buscar um esclarecimento sobre a declaração do
> deputado. Será que ele disse mesmo que está se lixando para a opinião
> pública? Do que assisti na TV, não ouvi nada disso. O que eu ouvi
> foi a seguinte declaração do parlamentar: "Estou me lixando para o
> que os jornais publicam". Se foi apenas isso, acho que está configurada
> uma perseguição da imprensa ao parlamentar, alimentada pela mentira,
> pois dizer que está se lixando para o que é publicado pelos jornais
> é algo muito diferente de afirmar que está se lixando para a opinião
> pública. Até porque, desde o escândalo do mensalão, está ficando provado
> que a influência da mídia tradicional na opinião pública não é aquilo tudo
> que
> se imaginava. Caso contrário, Lula não teria sido reeleito.
>
> Abraços.
> Adalberto
>
>
> ------------------------------
> *De:* Marcia Regina da Silva Azevedo <marciarsa@xxxxxxxxx>
> *Para:* Marcia Regina da Silva Azevedo <marcia.azevedo@xxxxxxxxxxxxx>
> *Cc:* Analistas <analistas2002@xxxxxxxxxxxxx>; rubens.filho@xxxxxxxxxxxxx
> *Enviadas:* Quarta-feira, 13 de Maio de 2009 13:45:30
> *Assunto:* [CamaraDas] Eu estou me lixando para você, leitor
>
> Do Globo Eu estou me lixando para você, leitor
>
> ROBERTO DaMATTA
>
> Se eu digo isso o jornal me despede; se um comerciante tem essa atitude,
> ele vai à falência; se um pai de santo, ministro, rabino ou sacerdote repete
> o mote, ele faz suas orações sozinho e não salva ninguém; se um professor
> adota esse credo, ele não merece dar cursos; do mesmo modo que um médico, um
> juiz, um policial, um engenheiro e um advogado deixariam morrer os doentes,
> perderiam o senso de justiça, do limite e da eficiência.
>
> Seria o fim deste nosso mundo chamado de moderno, e olha que eu estou
> apenas mencionando as profissões mais estabelecidas.
>
> Quando um membro do Parlamento, um servidor público importantíssimo e
> privilegiado porque representa uma massa de desejos e esperanças de uma
> região do país diz que está “se lixando para a opinião pública”, como fez o
> deputado federal Sérgio Moraes, do PTB do Rio Grande do Sul, ele não fala
> apenas uma triste verdade; ele revela a nossa ignorância do que é viver numa
> sociedade democrática e liberal. O credo do “estou me lixando” não é
> privilégio do deputado gaúcho, mas da hierarquia existente entre os que têm
> poder e nós, as pessoas comuns. Ela foi dita por Sérgio Moraes, mas está
> implantada no imenso vazio existente entre as formalidades - as tais
> instituições e leis, que vão resolver tudo e são feitas por ideologias,
> governos e decretos - e as crenças e práticas antigas que ainda comandam com
> força o nosso sistema. A questão não é a de denunciar a clara arrogância do
> parlamentar, o problema é tomá-la como um claro sintoma da total separação
> entre o lado de lá e o de cá do balcão. Pois quando parlamentares se lixam
> para a opinião pública eles perdem a consciência de que foram por ela
> eleitos! Como um médico pode se lixar para um doente, um professor para um
> aluno, um vendedor para seu cliente e um deputado para a opinião pública se,
> em todos os casos, esses são papéis sociais complementares que existem em
> total interdependência, já que ser médico implica enfermos, ensinar supõe um
> aprender, e não há venda sem compra; tal como ser um representante do povo
> aciona automaticamente a ideia de um representado: o próprio povo. Esse
> representado cujo espírito ou índole (ou “vontade geral” como disse
> Rousseau) forma o que nós, democratas e modernos, chamamos entre outras
> coisas “opinião pública”, esse quarto ou quinto poder em qualquer democracia
> liberal; esse sistema nebuloso que tem todos os defeitos mas que, quando
> opera com liberdade, se caracteriza pela constante renovação de seus
> valores. Esses valores inatingíveis como liberdade, igualdade e
> fraternidade. Essas causas perdidas em perpétua busca de encarnação
> institucional e política.
>
> Não se precisa ir a Locke, a Rousseau ou a Weber para descobrir que a
> legitimidade se faz justamente na relação que o sistema representativo
> moderno esconde e revela. Revela-se no processo eleitoral quando os
> candidatos se dizem pais, protetores ou representantes do povo, o qual, num
> mercado dos candidatos, escolhe os de sua preferência. E esconde-se nas
> rotinas parlamentares nas quais esse laço deve ser renovado e honrado na
> busca de leis, causas e projetos que façam avançar a vida dos representados.
>
> A menos que se reinterprete, como sempre fazemos no Brasil, o liberalismo
> pelo viés aristocrático mal resolvido, vigente na sociedade, e se admita que
> a investidura num cargo público conceda ao investido a propriedade deste
> cargo como ocorre nas aristocracias. Nelas, a legitimidade está apenas do
> lado da nobreza que, por direito divino, é definida como superior à plebe,
> mas cuja obrigação seria dela “cuidar”, como tem redescoberto o nosso
> populismo. A nobreza, porém, perde legitimidade quando o laço de honra, de
> obrigação e de honestidade que deve marcar os seus laços com a plebe não é
> levado a sério. Ou seja, quando ela faz como o deputado e se lixa para a
> opinião pública. Maria Antonieta e os Luíses não se lixavam, mas davam pão e
> circo para o povo. Sabiam que, entre governantes e a opinião pública deveria
> haver algo mais do que descaso, insulamento político e arrogância
> aristocrática.
>
> Nas democracias, se o laço entre representantes e representados tornase
> tênue, instala-se um processo de ilegitimidade. Ora, esse lixar-se para a
> opinião pública revela o tamanho da crise de legitimidade que decorre da
> aristocratização dos governantes, ao lado de uma sociedade redemocratizada
> pela livre iniciativa, por um mercado cheio de energia e por uma moeda
> estável: um único dinheiro que vale a mesma coisa para todos.
>
> Num Brasil onde todos pagam uma enormidade de impostos e, com eles, os
> salários de todos os governantes, vai ficando cada vez mais intolerável ter
> câmara, parlamentos, ministérios e executivos aristocratizados com o meu, o
> seu, o nosso dinheiro. Mais: vai ficando impossível verificar que é a
> sociedade que trabalha para o Estado e não o justo oposto.
>
> É duro observar uma súcia majoritariamente incompetente (com alguns
> criminosos em seu meio) viver como nobres e milionários, tendo, além de
> tudo, o desplante de declarar que nós, a opinião pública, nada temos com
> eles.
>
> ROBERTO DaMATTA é antropólogo
>
> ------------------------------
> Veja quais são os assuntos do momento no Yahoo! + Buscados: Top 
> 10<http://br.rd.yahoo.com/mail/taglines/mail/*http://br.maisbuscados.yahoo.com/>-
> Celebridades<http://br.rd.yahoo.com/mail/taglines/mail/*http://br.maisbuscados.yahoo.com/celebridades/>-
> Música<http://br.rd.yahoo.com/mail/taglines/mail/*http://br.maisbuscados.yahoo.com/m%C3%BAsica/>-
> Esportes<http://br.rd.yahoo.com/mail/taglines/mail/*http://br.maisbuscados.yahoo.com/esportes/>
>

Other related posts:

  • » [CamaraDas] Re: [CamaraDas] Res: [CamaraDas] Eu estou me lixando para você, leitor - Adriana Magalhães Alves de Melo